Na terça-feira (21 de maio), interrupções de energia foram constantes e cidadãos não fizeram exames essenciais. Problema é agravado pela ausência de remédios, que persiste desde o fim de 2023. Autoridades minimizam situação.
O Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV) esteve sem energia elétrica durante quase todo o dia de terça-feira (21 de maio), deixando os doentes impossibilitados de realizar exames essenciais e causando desconforto devido ao calor. Os cidadãos também manifestaram indignação devido à falta de medicamentos, problema que persiste desde o fim do ano passado.
O paciente José Cardoso, 53 anos, internado desde a passada segunda-feira (21 de maio) depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral (AVC), relatou o seu mal-estar nas urgências do HNGV. “Fui impedido de fazer o raio-x. Apenas por volta das 2h da manhã, quando a energia voltou, é que consegui”, disse.
O cidadão, que também teve uma infeção pulmonar, contou que, até à tarde de quarta-feira (22 de maio), apenas lhe foi receitado paracetamol. “Os médicos disseram-me que não há medicamentos para o AVC no HNGV e que tenho de os comprar em farmácias privadas”, lamentou. José Cardoso afirmou estar numa situação económica difícil e, portanto, espera que os familiares o ajudem a obter os remédios.
Em visitas ao HNGV, este ano e em 2023, o Diligente já testemunhou falhas de eletricidade no local durante muito tempo.
Na manhã de quarta-feira (22 de maio), um dos diretores do HNGV, Vidal Lopes, informou, em conferência de imprensa realizada no Instituto Nacional de Farmácia e Produtos Médicos (INFPM), em Díli, que a falta de luz “não é algo recorrente”, e que, quando ocorre, “não dura mais do que 15 minutos”.
O diretor alegou que o referido problema é da responsabilidade da Eletricidade de Timor-Leste (EDTL), empresa pública que cuida da rede elétrica do país. “O hospital tem um gerador, mas não cobre todo o estabelecimento de saúde. Apenas consegue abranger as seções dos cuidados intensivos, cirurgia e hemodiálise, porque as vidas dos pacientes internados nestas unidades dependem de máquinas”, argumentou. Diariamente, apenas o serviço de urgência do HNGV recebe entre 150 e 200 pacientes.
Quanto à falta de fármacos, de acordo com o diretor, a rutura de stock atingiu 16%, ou seja, 66 itens dos 405 alocados. Os consumíveis (luvas, máscaras, toucas, agulhas, pensos, ligaduras, seringas e compressas) atingiram 12% de falha de stock, o que equivale a 52 produtos de 440 alocados.
De acordo com o diretor-executivo do INFPM, Brígido de Deus, a rutura de stock relacionada com os remédios considerados essenciais e mais urgentes atingiu 31%.
No entanto, disse que os 8 milhões destinados pelo Governo devem suprir a procura “até ao fim do ano”.
Acrescentou ainda que a falta de medicamentos se deve aos erros de planeamento das gestões anteriores. “O Governo tem de renovar o contrato (que terminou em março passado) com a empresa fornecedora. A fábrica só pode produzir, mediante a apresentação de um contrato válido”, disse.
A deputada Nurima Alkatiri, da FRETILIN, questionou o desempenho do IX Governo Constitucional. Na avaliação da líder, o orçamento reduzido para a área da saúde, a falta de medicamentos, os problemas de infraestrutura e a cessação de contratos de profissionais da área (médicos e enfermeiros) conduziram ao aumento do número de mortes no HNGV.
A bancada da FRETILIN fez um apelo para que o primeiro-ministro, Xanana Gusmão e a ministra da Saúde, Élia Amaral, “assumissem responsabilidade pelo que tem acontecido no sistema de saúde”.
Este ano, de acordo com dados do Portal de Transparência, o Governo reservou apenas 13,5 milhões de dólares americanos do Orçamento Geral do Estado (OGE) – de 1,9 mil milhões – para o HNGV. O valor é inferior ao que a Conferência Episcopal Timorense (CET) irá receber dos cofres públicos: 15 milhões de dólares americanos. Além disso, o Governo aprovou a atribuição de mais 12 milhões de dólares americanos para as preparações da vinda do Papa Francisco, que visita Timor-Leste entre os dias 9 e 11 de setembro.
Em 2023, o Governo também alocou mais dinheiro para a CET do que para o HNGV, como o Diligente noticiou.