Sem condições para ter uma casa, negociantes vivem no mercado Taibessi

O mercado de Taibessi abriga, diariamente, cerca de 2.500 negociantes/Foto: Diligente

No espaço, que aglomera diariamente cerca de 2.500 vendedores, não há água e as casas de banho, destruídas, estão a ser reabilitadas. Autoridades informaram que, a partir do próximo mês, novas regras serão aplicadas e quem estiver no local depois das 22h será expulso.

Sem um trabalho formal e sobrevivendo através de pequenas vendas de mercadorias, vários cidadãos estão a morar no mercado de Taibessi. Ali trabalham, diariamente, cerca de 2.500 negociantes. No local, não há água e as casas de banho, todas destruídas, estão a ser reabilitadas. Mesmo assim, homens, mulheres, famílias inteiras fazem do espaço o seu lar.

Juvinalda da Silva é uma dessas pessoas. Desde 2019, a cidadã vive no mercado de Taibessi, onde vende bananas (50 centavos o cacho) e aguardente tua sabu (1 dólar a garrafa). Dorme debaixo de um balcão que serve de expositor para os vegetais, num pequeno retângulo que não tem mais de um metro quadrado, com um tapete no chão, sem paredes, vedado apenas com bambu.

Durante a manhã, trabalha naquele local e, de tarde, deambula pelas ruas de Díli como vendedora ambulante para tentar conseguir um dinheiro extra. Os seus ganhos variam entre 10 e 20 dólares por semana. No entanto, este rendimento não inclui os custos do uso da casa de banho (25 centavos por cada utilização e 1 dólar para banho e lavagem de roupas). O cuidado com o corpo e as necessidades básicas acontecem nos lares de pessoas que vivem próximas ao mercado.

“Aqui [no mercado de Taibessi] sinto-me segura. Lógico que, se pudesse, moraria numa casa, mas infelizmente não tenho condições financeiras para isso. Uso o que ganho para sobreviver e para ajudar as minhas crianças”, afirmou Juvinalda da Silva, que é mãe de seis filhos. Quatro deles moram com o pai em Watulari, em Viqueque, uma menina vive num dormitório em Bidau e o outro filho está com um tio em Díli.

Apesar das dificuldades, Juvinalda da Silva não desiste. A vendedora ambulante enfrenta cada dia com coragem. “É difícil, mas não vou desistir. Enquanto tiver forças [para trabalhar] vou continuar”, ressaltou. Assim como ela, muitos outros negociantes, por não terem para onde ir e nem como pagar por uma moradia, também vivem no mercado de Taibessi – esparramados, a dormirem pelo chão.

Essa situação, contudo, pode ter os dias contados. As autoridades, cientes da questão, pretendem, no próximo mês, delimitar o horário de funcionamento e a circulação de pessoas no local – entre as 4h da manhã e as 22h. “Após às 10 da noite, quem estiver no mercado será expulso”, enfatizou o diretor do serviço municipal de Gestão de Mercados e Turismo da Autoridade Municipal de Díli (AMD), Arthur Henrique.

“É simplesmente inaceitável que as pessoas transformem o espaço [mercado de Taibessi] num local de residência, onde vivem famílias com crianças nessas condições”, opinou.

O diretor informou que o Governo contratou duas empresas para reabilitar os sanitários e melhorar as instalações de fornecimento de água. Atualmente, no mercado, estão a reabilitar as 35 casas de banho existentes e a construir 10 novas unidades sanitárias. Os trabalhos começaram há três meses e serão concluídos no próximo mês, garantiu o responsável.

Arthur Henrique deixou claro que, depois de as obras estarem concluídas, as novas regras, como o novo horário de funcionamento, serão implementadas. “Também não haverá mais utilização gratuita dos sanitários”, avisou. Para reforçar a segurança no mercado de Taibessi, trinta novas pessoas devem ser recrutadas para fazer o trabalho, juntando-se às vinte já existentes.

O gestor do espaço, Carlos Borges da Silva, também aponta o dedo aos negociantes, para justificar os danos e as medidas adotadas. “Agora vão ter de pagar pelo uso dos sanitários e procurar outro lugar para viver”, disse.

Segundo o Índice da Pobreza Multidimensional (MPI, em inglês), divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2022 (o mais atual), aproximadamente 42% dos 1,3 milhões de habitantes de Timor-Leste estão em situação de vulnerabilidade social. O documento indica ainda que 22% da população sobrevive em condições de pobreza extrema, ou seja, com menos de 1,90 dólares por dia.

Por sua vez, um relatório do Banco Mundial divulgado em fevereiro deste ano revelou que 70% dos timorenses em idade laboral ou estão desempregados ou trabalham informalmente (sem contrato).

Autoridades prometem reabilitar as 35 casas de banho existentes e construir 10 novas unidades sanitárias/Foto: Diligente

Comerciantes rejeitam medidas impostas pelos gestores 

Os comerciantes de Taibessi não aceitam as críticas dos gestores e opõem-se às regras que deverão ser aplicadas. Dizem que a culpa pela falta de água e pelos danos nos sanitários é da própria gestão do mercado.

Batista Avi, de 34 anos, começou a vender em Taibessi em 2014. Afirma que a escassez do bem essencial não é um problema novo, “pois já vem desde 2016”. Desde então, têm sido obrigados a comprar galões – 25 litros por 25 centavos – para uso próprio.

O trabalhador admitiu que alguns colegas, por não terem dinheiro para pagar a ida à casa de banho, nas casas da comunidade, urinam contra as paredes do mercado. Batista Avi não tem dúvidas de que o estado de destruição do espaço não se deve aos comerciantes, mas sim ao desinteresse do Governo em relação aos pequenos negociantes.

“Tenho certeza de que aqui ninguém quer danificar as instalações de água nem as casas de banho. Se tudo estivesse em condições e se houvesse esforços para manter tudo em ordem, não teríamos chegado a este ponto. Precisamos de água e de sanitários, como poderíamos destruir algo de que realmente necessitamos?”, concluiu.

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