O que é que os cidadãos pensam sobre as recentes evicções?

Secretaria de Estado dos Assuntos de Toponímia e Organização Urbana (SEATOU) durante uma ação de remoção forçada dos cidadãos/Foto: DR

Perante as recentes polémicas à volta da expulsão de moradores e negociantes e da demolição das respetivas residências e estabelecimentos em Díli, o Diligente saiu à rua para tentar perceber como a população avalia toda a situação.

Nos últimos dias, a expulsão de habitantes e negociantes de vários pontos da capital tem sido o tema de conversa um pouco por todo o lado. Há quem concorde com a “limpeza” e avalie as medidas como essenciais para a salubridade da cidade. Por outro lado, há quem considere a forma como o processo foi conduzido uma violação à dignidade dos cidadãos.

Centenas de pessoas de Bidau Akadiru-Hun, Metiaut, Aitarak Laran e Campu Alor foram despejadas dos seus espaços nas ações, que foram acompanhadas de perto por muitos elementos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), Unidade de Polícia Marítima e até mesmo das Falintil-Forças de Defesa de Timor Leste (F-FDTL). Nesta segunda-feira (22.04), numa reunião extraordinária do Conselho de Ministros, o Governo informou que vai continuar com as remoções forçadas em outras regiões de Díli, porém sem especificar onde exatamente.

A medida é colocada em prática pela Secretaria de Estado dos Assuntos da Toponímia e Organização Urbana (SEATOU), que tem Germano Brites como titular.

Em conferência de imprensa na passada quinta-feira (18.04), o responsável pela Provedoria dos Direitos Humanos e Justiça, Virgílio da Silva Guterres, sublinhou que apoia qualquer iniciativa do Governo para o desenvolvimento da cidade, mas destacou ser fundamental que os trabalhos sejam feitos de forma planeada, com consideração pela vida das pessoas.

Para o provedor, a iniciativa, até ao momento, constitui um “ato hipócrita”, que pretende apenas mostrar ao mundo que “estamos bem organizados, mas todo o processo se pauta pelo autoritarismo e falta de respeito pelo povo, enquanto nos proclamamos um estado democrático”.

Neste sentido, solicitou ao presidente da República, José Ramos-Horta, como comandante supremo das F-FDTL, que mostre a base legal que permitiu que o processo de expulsão fosse acompanhado por uma patrulha militar.

Perante a questão, o Diligente saiu à rua para tentar perceber como a população avalia toda a situação.

“A expulsão é necessária para termos uma cidade limpa, desenvolvida e para reduzir o engarrafamento no trânsito, mas o Governo precisa de preparar uma alternativa para os cidadãos afetados”

Frederico Benjamim da Conceição Soares, 23 anos, estudante de Economia na Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL)

“A expulsão é necessária para termos uma cidade limpa, desenvolvida e para reduzir o engarrafamento no trânsito, mas o Governo precisa de preparar uma alternativa para os cidadãos afetados. Os negociantes precisam de um espaço digno, porque o povo de Timor-Leste tem direito absoluto à cidade e as autoridades precisam de garantir esse direito.

O Governo não pode apenas expulsá-los e deixá-los sem fonte de rendimento. Algumas das vítimas desta situação ainda são estudantes, outras são mulheres que acabaram de dar à luz, ou seja, são grupos sociais vulneráveis que precisam de tratamento especial do Estado, que, por sua vez, deve implementar medidas para os proteger”.

“O povo tem de reconhecer que o desenvolvimento não é fácil de atingir, por isso deve cooperar com o Governo sobre a ocupação ou desocupação do espaço público”

Maria Cardoso, 23 anos, estudante da Faculdade de Ciência Sociais na UNTL

“O povo é que exigiu o desenvolvimento e a expulsão é uma consequência dessa exigência. No entanto, o Governo precisa de apoiar estas pessoas, pelo menos com transporte, para que possam voltar para os seus municípios. Quanto aos estudantes, o Governo deveria arrendar um espaço para que possam viver e continuar os seus estudos.

O que aconteceu é normal num Estado que está em desenvolvimento e que para isso precisa de sacrificar o seu próprio povo. O povo tem de reconhecer que o desenvolvimento não é fácil de atingir, por isso deve cooperar com o Governo sobre a ocupação ou desocupação do espaço público. A expulsão dos cidadãos nas áreas afetadas é um mal necessário”.

“A insatisfação do povo revela que esta medida apenas pretende satisfazer as elites e o facto de o ato ter sido acompanhado por militares é reflexo do autoritarismo de um Estado opressor”

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Celestina Pinto, 22 anos, ativista do Movimento Resistência Social (MRS)

“A evicção não deveria acontecer como aconteceu. O Governo é apenas o gestor do povo, portanto deve facilitar a vida da população e não o contrário, como o que está a acontecer atualmente. A expulsão destes cidadãos é uma decisão que contraria a dignidade humana e que só poderia ser tomada se o Governo criasse alternativas, mas isso não aconteceu. Também não houve diálogo entre as autoridades e as pessoas que foram afetadas.

A insatisfação do povo revela que esta medida apenas pretende satisfazer as elites e o facto de o ato ter sido acompanhado por militares é reflexo do autoritarismo de um Estado opressor”.

“Os vendedores não podem fazer nada quando um governante comete corrupção e outros atos irresponsáveis, mas são importunados pelas autoridades quando apenas tentam sobreviver. Os corruptos continuam soltos, a beneficiar de todas as regalias e a serem considerados heróis nacionais”

Bentolino Guterres Martins, 22 anos, vendedor ambulante

“O Governo tem o papel de solucionar o problema da população que ficou sem casa, porque, com rendimentos muito baixos, é difícil encontrar um espaço para morar. O povo não pode ser vítima do desenvolvimento, o Governo tem de assumir responsabilidade.

No entanto, penso que o desenvolvimento não é o objetivo da expulsão. O Governo quer apenas mostrar aos turistas que Timor-Leste não tem lixo e a cidade está bem ordenada, e para isso não respeita os direitos do povo.

Os vendedores não podem fazer nada quando um governante comete corrupção e outros atos irresponsáveis, mas são importunados pelas autoridades quando apenas tentam sobreviver. Os corruptos continuam soltos, a beneficiar de todas as regalias e a serem considerados heróis nacionais.

O Estado de Timor-Leste não está a tentar libertar o povo da vulnerabilidade social, pelo contrário, continua a colocá-lo numa situação difícil e retira-lhe todos os direitos à prosperidade”.

“A imagem da nação é a capital. Para podermos competir com outros países e para atrairmos turistas, o Governo tem de expulsar os ocupantes ilegais do espaço público. Trata-se de um modelo de investimento e o outro motivo é a vinda do Papa, que é um evento muito importante para o país”

João Gomes, 65 anos, aposentado

“A culpa não é do Governo. Limpa e ordenada deve ser a identidade da capital, ainda há muitos espaços vazios para abrigar as pessoas e a cidade não pode ficar desorganizada. A imagem da nação é a capital. Para podermos competir com outros países e para atrairmos turistas, o Governo tem de expulsar os ocupantes ilegais do espaço público. Trata-se de um modelo de investimento e o outro motivo é a vinda do Papa, que é um evento muito importante para o país.

Tibar e Metinaro tem muitos espaços vazios que estes cidadãos podem ocupar com o apoio financeiro do Governo. O Governo tem capacidade para preparar outro lugar para as pessoas que foram expulsas, que devem cooperar com a decisão das autoridades para o desenvolvimento do país”.

Ver os comentários para o artigo

  1. Um Povo em aflicao!

    Houve uma eviccao
    Derrubou-se o que era muito ganha pao
    Vieram policias e, ate a militar esteve a mao
    Tudo correu em obdiencia e coordenacao
    Vao construir um jardim meu irmao
    Onde nos seus bancos se possa sentar o cuzao
    Esperar sentado milagre de emprego e aparicao
    Ha jardins mundo fora que so trazem prostituicao
    Que trazem ma fama para a nacao
    Mas o nosso vai brilhar como uma constelacao
    Vai ser o orgulho da religiao
    Nao tenham duvidas nao

    Ze Jardineiro
    Poeta de TL

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