Governo derruba estabelecimentos e expulsa negociantes de Bidau Akadiru-Hun, em Díli

A ação durou o dia todo e afetou por volta de 100 comerciantes/Foto: Diligente

Cerca de 100 cidadãos perderam a fonte de rendimento e não receberam indemnização. Alguns moravam na região há mais de 20 anos. Autoridades também não ofereceram um lugar alternativo para onde os vendedores pudessem mudar.

A Secretaria de Estado dos Assuntos da Toponímia e Organização Urbana (SEATOU) e o Ministério da Administração Estatal (MAE) removeram dezenas de estabelecimentos que ocupavam o espaço público em Bidau Akadiru-Hun, em Díli, nesta terça-feira (16.04). As autoridades, acompanhadas por elementos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e da Unidade da Polícia Marítima (UPM), também cortaram a rede de eletricidade do local – que deve dar lugar a um jardim, conforme anuncia uma placa do Governo colocada na área.

A ação, que durou todo o dia, provocou confusão no trânsito, já que a avenida da Ribeira, entre a Ponte Habibe e o Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), ficou interditada.

Cerca de 100 pessoas foram afetadas. O terreno pertence ao Estado e os negociantes já tinham recebido aviso para abandonarem o lugar no mês passado, mas não houve um diálogo entre o Governo e os cidadãos para ouvir as suas preocupações. Alguns estavam na local há mais de 20 anos e reivindicavam que as autoridades, antes de os expulsarem, oferecessem alternativas. Durante a remoção forçada, com a utilização de tratores para derrubar os estabelecimentos comerciais, os cidadãos ainda tentaram salvar bens que pudessem ser reutilizados.

Um estudante que vive no local e tem um negócio de venda de vegetais mostrou-se triste por ver a sua casa danificada, afirmando que o Governo “não se importa com o bem-estar do povo”. “A democracia só acontece se os cidadãos viverem em condições dignas e em segurança. Mas não podemos dizer nada, porque eles têm mais poder do que nós e oprimem-nos”, disse Jacson Tavares, 20 anos, estudante de direito da Universidade Nacional de Díli (UNDIL).

Já o dono de um restaurante do local lamentou que não tenha acontecido um diálogo com os cidadãos para que tivessem sido tomadas medidas mais apropriadas. Cornélio Boavida da Costa, 65 anos, de Baucau, vivia no local há pelo menos 25 anos e não sabe onde poderá reabrir o seu negócio. “Isto é matar cidadãos, porque é a nossa fonte de rendimento”, contou, indignado.

Cornélio da Costa informou que perdeu perto de 10 mil dólares com a destruição do seu estabelecimento. “Não estou a exigir uma indemnização, mas pelo menos o Executivo deveria preparar um lugar para nos deslocarmos e mantermos a fonte de rendimento ou disponibilizar alguma verba para transportar os nossos bens para os municípios”, partilhou o empresário, enquanto desmontava alguns pedaços de madeira para tentar reutilizar.

Por outro lado, Juleta de Jesus, 64 anos, moradora em Bidau Tocobaru, concorda com a decisão das autoridades, “pois o local estava cheio de lixo e desordem”, mas lamenta que muitos cidadãos não tenham para onde ir.

“Os negociantes que estavam aqui não mantinham o espaço limpo. Assim, podemos agradar aos visitantes, mas o Governo deveria ter preparado locais alternativos para os empresários continuarem os seus negócios, porque eles têm filhos que ainda estão a estudar e vender vegetais e obralan é a única forma de ganharem dinheiro”, opinou.

O Diligente tentou entrar em contacto com o Secretário de Estado dos Assuntos da Toponímia e Organização Urbana (SEATOU), Germano Brites, mas não obteve resposta. Contudo, um funcionário da SEATOU informou que não havia necessidade de dialogar com os negociantes nem indemnizá-los, porque o terreno pertence ao Estado. Outros pontos da cidade, como Metiaut, Aitarak Laran e Campu Alor também terão as construções removidas em ações previstas para terem início nesta semana.

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