Natal: como é que as várias religiões celebram esta época?

Católicos em fila para beijar o menino Jesus depois de terminar a missa / Foto: DR

Em Timor-Leste, os cristãos católicos, protestantes, adventistas e evangélicos celebram o nascimento de Jesus Cristo de diferentes maneiras.

O dia 25 de dezembro, em Timor-Leste e um pouco por todo o mundo, é um dia importante para aqueles que celebram o nascimento de Jesus Cristo. Em Díli, nos locais públicos ou em casa, veem-se árvores de natal e presépios. Nas ruas, ouvem-se músicas alusivas à época. Os ovos que normalmente as crianças vendem pelas ruas da cidade dão agora lugar a balões cintilantes e coloridos. O lixo, que frequentemente entope as valetas quando chove, é agora transformado em bonitos presépios espalhados um pouco por toda a cidade. O trânsito caótico do ano inteiro intensifica-se durante esta época, em que todos correm para as lojas e supermercados em busca de comida e presentes de natal.

Em motorizadas, famílias inteiras e crianças sem capacete rumam, por estradas esburacadas, cobertas de lama e pedras, “todos ao molho e fé em Deus”, até aos seus municípios, onde passam o natal junto dos que mais amam, embalados pelo som do fogo de artifício, que desde o início do mês rebenta no céu do país, para festejar o nascimento de Jesus Cristo. Sejam católicos, protestantes, adventistas ou evangélicos, todos festejam, à sua maneira, a data.

Elienai Mourai, pastor da Igreja Evangélica de Deus (movimento Cristão protestante nascido no século XVII) explica que os cristãos evangélicos não acreditam que Jesus nasceu a 25 de dezembro e que o seu aniversário pode ser celebrado em qualquer momento. “A nossa crença não proíbe as famílias de fazer presépios. O que é importante é participarem ativamente nas atividades da Igreja e viverem de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo”.

No Natal, a Igreja Evangélica promove atividades de solidariedade social, quer através de doação de sangue como apoio humanitário aos mais necessitados. “Normalmente, no dia 24 de dezembro, oramos às 19h, fazemos leituras bíblicas, peças de teatro de presépios vivos e atuações do coro, onde se destacam as mensagens do nascimento de Jesus Cristo na vida dos cristãos”. Segue-se um jantar de confraternização e troca de presentes, como símbolo de amor, felicidade e gratidão pela presença de Jesus Cristo.

A Igreja Adventista (movimento cristão protestante) não tem data fixa para celebrar o natal, explicou Felipe da Costa Amaral, 35 anos, de Viqueque. “Celebramos segundo o programa de cada Igreja Adventista em Timor-Leste. Entre os dias 10 e 21 de dezembro comemoramos. Na Bíblia, não está escrito que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro. Originalmente, neste dia, celebrava-se o nascimento do deus do sol na cultura romana. No século III depois de Cristo é que a Igreja Católica adotou este dia para celebrar o nascimento de Jesus”, esclareceu.

Questionado sobre o porquê da celebração acontecer ao sábado, Felipe recorre à Bíblia. “No Génesis, capítulo 2, versículos 1 a 3: consta que após criar o céu e a terra, Deus descansou no sétimo dia e abençoou e santificou este dia, que é o sábado.”

Na sexta-feira, o fiel da igreja adventista explicou que todos os crentes cozinham para o dia seguinte. Depois da celebração, comem em conjunto e festejam o natal. Só comem fruta, pão, vinho e água. “Não comemos carne, porque estaríamos a desobedecer à Sagrada Escritura. No Génesis, capítulo 1, versículo 29, pode ler-se: “Eis que dou a vocês todas as plantas que nascem em toda a terra que produzem sementes e todas as árvores que produzem frutos com sementes. Elas serão alimento para vocês”, salientou.

Gabriel Martins, 30 anos, natural de Baucau, protestante, afirmou que o Natal é celebrar o nascimento de Jesus Cristo, filho de Deus, que veio ao mundo para trazer salvação aos pecadores. “Natal é um momento de representação da esperança, de amor e salvação. Todos os seguidores de Cristo devem refletir, agradecer e renovar a fé para viver de acordo com a palavra de Deus”, sublinhou.

Embora a celebração de natal não exista na religião islâmica, o líder da comunidade muçulmana em Timor-Leste, Pascoal Sidik Lemorai, explica que, enquanto comunidade minoritária que vive entre católicos, festeja o Natal com os seus familiares cristãos. “Nós celebramos o Idul Fitri e Idul Adha. Porém, os nossos pais e familiares são católicos, então também comemoramos esta festa. Vivemos de acordo com o contexto timorense, convivemos com o povo católico. Não vivemos na Arábia Saudita, Qatar ou Indonésia, onde a maioria da população é muçulmana,” afirmou.

O líder muçulmano discorda da ideia do público de que os muçulmanos não podem cumprimentar os cristãos e desejar Feliz Natal, uma vez que todas as religiões são parceiras do Governo, da sociedade e da família. “Recebemos convites para jantares de confraternização de Natal e quando celebramos o dia do Idul Fitri, também convidamos os católicos para festejarem connosco”, assegurando que estas atitudes refletem a forte relação entre as diferentes religiões em Timor-Leste.

Natal na tradição Católica

A Madre Guilhermina Marçal, da congregação Filhas da Caridade Canossiana (FDCC), contou ao Diligente que, de acordo com a doutrina da Igreja Católica, os cristãos vivem o Advento, conhecido como tempo de preparação. Este evento começa quatro domingos antes do natal. É nesta altura que os fiéis melhoram a sua vida espiritual e vivem de acordo com a palavra de Jesus, a fim de que possam ser dignos da Sua alegria.

No dia 24 de dezembro à noite, os católicos vão à missa, as igrejas ficam a abarrotar de multidões que querem beijar o menino Jesus acabado de nascer.

A freira acrescentou que o Advento dura quatro semanas. “No primeiro domingo, acendemos a vela do amor, no segundo, a da paz, na terceira semana, acende-se a vela da felicidade e a quarta é a vela da esperança.”

Questionada sobre o motivo pelo qual a Igreja escolheu o dia 25 de dezembro para celebrar o nascimento de Jesus, a Madre esclareceu que depende de cada religião. “Os nossos irmãos da religião ortodoxa celebram o Natal no dia 7 de janeiro, que para nós é a epifania (significa que Deus se revelou aos três reis do Oriente através das estrelas)”, explicou acrescentando que na Igreja Católica, o natal significa Luz. Na cultura romana, este dia festeja o deus do Sol. Então, a Igreja adotou-o como o dia de nascimento de Jesus, como dono da luz e Ele é a própria luz.

No dia 24 à noite, celebra-se a vigília e à meia-noite, Jesus nasce. “Embora sejamos cristãos, sempre caímos nas trevas do pecado, então temos de nos preparar para receber a vinda da luz, que é o nascimento de Cristo.” O nascimento de Jesus, na religião católica, simboliza a humanização de Deus para divinizar o Homem, como filho de Deus.

Questionada sobre a celebração da missa no domingo, a madre alega que tem a ver com o facto de Jesus ter ressuscitado no primeiro dia da semana. “Na quinta-feira santa, celebramos a última ceia do Senhor, na sexta-feira Santa é a morte de Jesus na cruz. No sábado, faz-se a vigília pascal de Jesus e no Domingo, a Sua ressurreição. A ressurreição de Jesus Cristo é o ponto central da Eucaristia, porque sem isto, não há salvação”.

Anastácia da Costa Soares, 34 anos, católica, realça que o natal é um momento de alegria, em que se celebra a presença de Deus no meio do Homem. “O Natal serve para nos lembrar da bondade de Deus ao enviar o seu filho ao mundo para nos salvar. Jesus Cristo é um sinal de esperança, luz, amor e unidade”, frisou.

A mãe de três filhos afirmou que o Natal é muito mais do que a festa e concertos, “o mais importante  é sermos fiéis aos ensinamentos Dele e partilhar amor através de atos solidários na nossa família e na sociedade”.

Para celebrar esta data, a sua família faz um presépio pequeno à frente da casa, decora a casa com luzes de natal e prepara comida para que depois da missa, os familiares jantem juntos.

De acordo com o censo da população de 2022, entre 1,3 milhões de habitantes, 97,57% são católicos, 1,96% protestantes, 0,24% muçulmanos e outras religiões com uma percentagem muito reduzida.

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  1. Mas que tamanha confusao!
    So existe um deus e cada um puxa a brasa a sua sardinha. E um homem com muitos nomes, ora vejamos: Deus, Alah, Buda, Maromak, Maun Boot. Que felizardo!

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