Índice de subnutrição e nanismo infantil em Timor-Leste é o quarto pior a nível mundial

Aproximadamente 74,5 mil crianças em Timor-Leste sofrem de subnutrição e nanismo/Foto: Josh Estey (CARE)

Problema continua a afetar quase metade das crianças com menos de cinco anos no país, revela o Índice Global da Fome de 2023. Governo trata questão como prioridade e planeia ações.

Quase metade das crianças (46,7%) com menos de cinco anos em Timor-Leste está com subnutrição crónica, uma condição em que uma pessoa tem baixa estatura para a sua idade e deficiência de energia, proteína, vitaminas e minerais essenciais, conforme o Índice Global da Fome de 2023 (IGF), divulgado na quinta-feira (12.10). Com 74,5 mil crianças subnutridas – número calculado com base no Censo de 2022 –, o país tem a quarta pior percentagem de nanismo infantil a nível mundial.

Foto: IGF 2023

A subnutrição é agravada pela persistente insegurança alimentar das famílias, de práticas inadequadas de saúde materna ou de assistência à criança, além da falta de acesso digno aos serviços de saúde, água potável e saneamento em Timor-Leste. Segundo o IGF, pelo menos desde 2018 o país apresenta números preocupantes relacionados com o nanismo e subnutrição.

O docente de nutrição da Universidade Nacional Timor-Lorosa’e (UNTL), Marcos Salgário, avalia que a condição de saúde de uma pessoa adulta depende também da alimentação durante a infância. “Uma boa nutrição na infância é essencial para que as crianças tenham vontade de aprender e envolver-se em qualquer atividade, sejam resistentes e recuperem rapidamente de doenças e garantam produtividade quando chegarem à vida adulta”, explicou.

Para erradicar o problema, o nutricionista sugere que o Governo invista em políticas a médio e a longo prazo para atender mulheres em idade reprodutiva, compreendida entre os 15 e os 49 anos, gestantes, mães lactantes e crianças com menos de cinco anos.

O Ministério da Saúde admite que a subnutrição afeta diretamente o crescimento físico, intelectual, afetivo e psicomotor das crianças, o que pode, posteriormente, influenciar negativamente o desenvolvimento da nação. A questão foi incluída entre os temas prioritários do IX Governo.

Em agosto deste ano, os governantes discutiram, no encontro com o diretor sénior de parcerias estratégicas do Programa Alimentar Mundial (PAM), Stanlake Samkange, e a sua equipa, medidas para combater a insegurança alimentar através de investimentos partilhados na agricultura e na gestão de água, bem como no desenvolvimento de capital humano.

Um mês depois, representantes do Governo reuniram-se com parceiros internacionais (UNICEF, Banco Mundial, União Europeia, entre outros) para tratar de estratégias de combate ao nanismo e malnutrição.

Foi anunciada a criação de um Grupo de Trabalho Técnico Nacional para o Desenvolvimento da Primeira Infância (DPI) e de um comité de direção do programa. Entretanto, Timor-Leste já tem uma Unidade de Missão para o Combate ao Nanismo desde março deste ano.

Conforme a retificação do Orçamento Geral do Estado (OGE) deste ano, foram reservados para o Ministério da Agricultura, Pecuária, Pescas e Florestas o valor de 29,3 milhões, sendo 1,5% do total do montante do Estado (1,9 mil milhões); para o Ministério do Desenvolvimento Rural e Habitação Comunitária 2,4 milhões (0,12% do total); para o Ministério da Saúde 68,6 milhões (3,5% do total); para o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) 81,7 milhões (4% do total) e para o Instituto Nacional dos Direitos da Criança (INDDICA) 300 mil dólares (0,02% do total). Os números são do Portal de Transparência do Orçamento de Timor-Leste.

Para o próximo ano, de acordo com a previsão inicial do OGE (1,6 mil milhões) elaborada pelo Ministério das Finanças, o valor calculado para o Ministério da Agricultura, Pecuária, Pescas e Florestas foi de 21,3 milhões (1,4% do total); para o Ministério do Desenvolvimento Rural e Habitação Comunitária 1,4 milhões (0,09% do total); Ministério da Saúde 57,2 milhões (5% do total), INSS 81,7 milhões (5,4% do total); INDDICA 215 mil dólares (0,01% do total).

Representantes da sociedade civil e da política argumentam que os recursos públicos têm sido mal administrados, sendo utilizados em áreas ou atividades que não trazem retorno para a sociedade.

Leia mais: https://www.diligenteonline.com/maior-parte-do-oge-retificativo-e-usado-para-despesas-que-nao-trazem-retorno-avaliam-especialistas/

Situação da fome mantém-se grave, aponta relatório

O IGF de 2023 indica que a situação da fome em Timor-Leste continua a ser grave. A nação aparece em 112º lugar entre 125 países avaliados. Em relação ao ano passado, contudo, Timor-Leste apresentou uma evolução ligeira, passando de uma pontuação de 30,6 para 29,9. De acordo com a metodologia do estudo, numa escala de 0 a 100, quanto menor o número, melhor a condição. Os índices são classificados com base em indicadores de subnutrição, nanismo, mortalidade e baixo peso de crianças com menos de cinco anos.

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Foto: IGF 2023

Já entre os países asiáticos, Timor-Leste apresenta o segundo pior índice, sendo superado apenas pelo Afeganistão, que desde 2021 está sob o domínio do Talibã.

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Foto: IGF 2023

Em relação aos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) – bloco que visa a cooperação económica entre os seus membros e em que Timor-Leste ambiciona entrar –, o território timorense é o único que apresenta uma condição de fome classificada como grave, segundo o estudo.

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Foto: IGF 2023

O presidente da República, José Ramos-Horta, em declarações recentes, considerou que os dados do IGF poderiam não estar corretos, uma vez que, desde a restauração da independência em 2002, Timor-Leste apresenta avanços em setores sociais e na saúde.

Divulgado pela primeira vez em 2006, o IGF é elaborado por duas Organizações Não-Governamentais (Concern Worldwide e Welthungerhilfe). O trabalho mede e rastreia a fome de forma abrangente nos níveis global, regional e nacional, com o objetivo de desencadear ações para erradicar ou minimizar o problema em todo o mundo. O relatório é publicado anualmente.

Neste ano, o IGF constatou que, em linhas gerais, a redução da fome, a nível mundial, encontra-se estagnada.

“Após muitos anos de avanços até 2015, o progresso contra a fome em todo o mundo permanece em grande parte estagnado. Com apenas sete anos para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o impacto das alterações climáticas, conflitos, choques económicos, a pandemia global e a guerra Rússia-Ucrânia exacerbaram as desigualdades sociais e económicas e abrandaram ou inverteram os progressos anteriores na redução da fome em muitos países”, consta no relatório.

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Ver os comentários para o artigo

  1. Os politicos tem as prioridades erradas.
    Ora vejamos; os $26000 gastos com a deslocacao do pugilista das Filipinas, era um passo certo se fosse gasto com estas criancas.
    Afinal elas sao o futuro de Timor!
    Ja agora alguem pode publicar uma fotografia de uma merenda escolar dos dias de hoje?

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