Falta de sensibilidade na abordagem do VIH-SIDA na imprensa timorense é tema de discussão com jornalistas

A iniciativa contou com a presença de 14 jornalistas/Foto: Diligente

“As pessoas portadoras de VIH-SIDA têm famílias e sentimentos, e se os jornalistas não divulgarem informação de forma correta, causam muitos danos”, afirmou o especialista em comunicação e apoio a programas do UNFPA, Suleiman Okoth.

Para comemorar o Dia Mundial de Luta Contra o VIH-SIDA, que se realiza a 1 de dezembro, o Fundo das Nações Unidas para a  População (UNFPA, sigla em inglês), realizou, esta quinta-feira (23), nas instalações das Nações Unidas, em Caicoli, Díli, um diálogo com os jornalistas sobre o papel dos órgãos de comunicação social na abordagem da doença. A iniciativa contou com a presença de 14 profissionais de veículos de comunicação impressos e online.

O evento teve como principal objetivo orientar os jornalistas para serem mais cautelosos e sensíveis quando tiverem de escrever sobre o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH-SIDA). No país, segundo dados do Ministério da Saúde, foram contabilizadas 76 novas infeções por VIH no primeiro trimestre de 2023 e, até maio, estavam registados 1609 casos ativos em Timor-Leste, que tem ao todo 1,3 milhões de habitantes.

O conteúdo jornalístico deve ser uma ferramenta importante para a desconstrução de preconceitos, mas em Timor-Leste alguns órgãos de comunicação social ainda esteriotipam os portadores do vírus, contribuindo para a perpetuação de atitudes discriminatórias, apontou o UNFPA.

O analista do programa do UNFPA, Sérgio Esperança, lamentou o facto de alguns jornalistas divulgarem a doença como o “mal”, dando alguns exemplos de títulos de notícias: “VIH-SIDA estraga sociedade saudável”; “Em 2021, Timor-Leste, regista novos casos de VIH-SIDA por causa de prostituição e sexo livre” e “Estrangeiros que imigram ilegalmente contribuem para o aumento de casos de VIH-SIDA em Timor-Leste”.

O analista destacou que uma abordagem irresponsável do tema colabora para que “uma pessoa seropositiva e desinformada, ao se deparar com o conteúdo, naturalmente perca a esperança, entre em depressão e consequentemente fique mais sujeita ao suicídio.”

Leia a reportagem completa: VIH em Timor-Leste: quando o estigma é maior do que a doença – DILIGENTE (diligenteonline.com)

Neste sentido, o analista alertou os profissionais para que não se esqueçam que o jornalismo, antes de mais nada, é uma atividade imbuída de responsabilidade social – ou seja, que deve combater todas as formas de discriminação e divulgar informações, de forma criteriosa e cuidadosa, que promovam o bem-estar.

Por sua vez, a presidente da Associação dos Jornalistas de Timor-Leste (AJTL), Zevónia Vieira, explicou que a função do jornalista é ser fonte de advocacia e de promoção para o conhecimento sobre saúde em geral.

“Os jornalistas têm a tarefa importante de socializar a população através da difusão de conteúdo educativo. É importante usar linguagem adequada quando se trata de pessoas portadoras do vírus. Eu acredito que o papel dos media é fazer mudanças, enfrentando o estigma social que ainda está enraizado no nosso país”, observou.

Suleiman Okoth, especialista em comunicação e apoio a programas do UNFPA, corrobora a afirmação da presidente da AJTL, sublinhando as três principais funções do jornalista ao escrever sobre o tema: informar, educar e mudar as perceções sobre os estereótipos acerca das pessoas que vivem com VIH.

Durante o evento, Suleiman Okoth explicou ainda os critérios que devem ser cumpridos na abordagem jornalística ao assunto: utilizar uma linguagem correta, respeitar os direitos das pessoas com o diagnóstico positivo, procurar exatidão, objetividade, equilíbrio e não fazer juízos de valor sobre a doença.

Após ter absorvido as informações, Aníbal do Espírito Santo, jornalista do órgão de comunicação social online Esperança, disse ter ficado a perceber melhor o papel que os profissionais devem desempenhar não apenas nas coberturas relacionadas com VIH-SIDA, mas sobre temas sensíveis em geral.

“Como a maioria dos jornalistas está habituada a fazer cobertura cerimonial e de eventos de instituições públicas, acaba por ter dificuldade em produzir um conteúdo mais investigativo e cuidadoso e, usa, muitas vezes, termos discriminatórios”, partilhou.

Senhorina Pereira, jornalista do Timor-Post, considera que a conversa a ajudou a compreender a verdadeira missão do profissional de comunicação e assegura: “Vou colocar em prática no meu trabalho diário o que foi transmitindo hoje, recorrendo a fontes oficiais e confiáveis, sempre com responsabilidade perante a sociedade timorense”, concluiu.

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  1. Prevejo que num futuro breve para ser jornalista e condicao vital ser santo!
    Terao de fazer um requerimento em papel selado para escreverem a verdade o que pensam e o tal dizer “error humano” deixa de ter cabimento.
    Vao pasar a chamarem-se “santolista” ao inves de jornalista.
    Bom dia, boa tarde, boa noite!

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