Bella Galhos assinala importância da luta pelo reconhecimento dos direitos femininos

Cerca de 30 jovens reuniram-se com a primeira cidadã timorense a fazer parte da lista 100 mulheres mais influentes a nível mundial, conforme lista da BBC/Foto: Sala de Leitura Xanana Gusmão

Sistema patriarcal, preconceitos contra as mulheres, ausência de conversas sobre a igualdade de género foram alguns dos temas abordados durante encontro entre jovens e a ativista.

No sábado passado, dia 18 de novembro, na sala de leitura Xanana Gusmão, em Bidau Lecidere Díli, teve lugar uma conversa encabeçada pela ativista Bella Galhos, subordinada ao tema “Luta pelo direito feminino no século XXI”. A iniciativa contou com a presença de cerca de 30 jovens.

Na sua fala, Bella Galhos destacou que o maior problema que afeta as mulheres timorenses é o sistema patriarcal, que atribui todo o poder ao homem, dificultando a autonomia feminina. A situação, segundo a ativista, é agravada pelo facto de muitas cidadãs não terem um trabalho, cenário alimentado pela figura masculina.

Para Bella Galhos, é importante que as autoridades invistam em políticas públicas para estimular a participação de mulheres no mercado de trabalho, além de estabelecer uma comunicação aberta sobre os problemas básicos que as afetam.

“Se muitas mulheres ainda dependem financeiramente dos homens, não podem ser livres, acabando sempre por se submeterem às decisões masculinas. Temos de falar abertamente sobre sexualidade, preconceitos, casamento precoce para que os nossos jovens possam ter consciência dos seus atos, porque ninguém vai travar a atividade sexual, mas devemos informar para que aconteça em segurança. É tempo de erradicar os preconceitos, tempo de mudar mentalidades”, observou.

Acrescentou ainda que é importante também consciencializar os homens timorenses para o facto de as mulheres não serem sua propriedade. Bella Galhos citou estigmas e situações que precisam de ser mudadas, que se relacionam, por exemplo, com o direito de se desfrutar de um momento de lazer e trabalhos domésticos.

“Há muito preconceito relativamente às mulheres que saem à noite. Costuma-se dizer que se as mulheres forem agredidas, a culpa é delas, porque saíram à noite. No entanto, a culpa nunca é da vítima, e sim do agressor. Os homens devem ter consciência de que as mulheres têm o mesmo direito que eles de saírem e se divertirem sem serem incomodadas”, ressaltou.

Sobre os trabalhos domésticos, a ativista apelou aos cidadãos para que tenham consciência de que o serviço é de responsabilidade de todos, não apenas das mulheres, como costuma ser. “O que divide homens de mulheres é o preconceito. Precisamos de mudar mentalidades, em vez de fazermos julgamentos sem lógica”, enfatizou.

A ativista na conversa com os jovens: “Cada mulher deve conhecer o seu próprio corpo e não depender daquilo que a sociedade impõe”/Foto: Diligente

Por fim, Bella Galhos reforçou que as cidadãs devem ter coragem de dizer não quando não concordam com algo. “Muitas mulheres ainda se calam perante os preconceitos. Cada mulher deve conhecer o seu próprio corpo e não depender daquilo que a sociedade impõe. Acredito que se contrariarmos os preconceitos, um dia eles vão acabar”, concluiu.

Atualmente, a ativista é diretora da Organização Não Governamental Arcoiris, que defende a população LGBTQIA+, e também é assessora do presidente da República, José Ramos-Horta, na área do empoderamento económico das mulheres.

Por todo o seu trabalho, Bella Galhos foi incluída na lista das 100 mulheres mais influentes do mundo de 2023 – tradicional reconhecimento elaborado anualmente, desde 2013, pela emissora britânica BBC. A lista deste ano foi divulgada esta terça-feira (21.11).

Leia mais: https://www.diligenteonline.com/ativista-bella-galhos-e-incluida-na-lista-das-100-mulheres-mais-influentes-do-mundo-de-2023/

Vivências dos jovens

Entre a plateia presente no evento, havia alguns homens. O estudante de Enfermagem da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), Ronaldinho Gusmão, 20 anos, era um deles. Ouvindo atentamente a conversa, o rapaz, concordou que, nos dias de hoje, o sistema patriarcal faz muito mal às mulheres, e que, por essa razão, é preciso haver uma reflexão por parte dos homens, em relação às atitudes trazidas à tona na discussão.

“Todas as mulheres têm capacidade de exercer qualquer função”, realçou.

Por sua vez, Hilária Moreira Mendes, 20 anos, estudante do ensino de Química da UNTL, salientou que sente diariamente, em ambiente familiar e escolar, os efeitos do sistema patriarcal. “Quando dou opiniões sobre algo, mesmo que estejam certas, são rejeitadas, só porque sou mulher. Isso deixa-me muito revoltada”, confidenciou.

A estudante afirmou, porém, que a sua família permite que ela saia à noite, mas que já ouviu comentários de vizinhos a chamarem-na de puta. Para evitar brigas, Hilária Mendes ignora, mas confessa sentir tristeza. A jovem, contudo, segue firme.

Hilária pede às famílias e à sociedade que respeitem o direito das mulheres e que parem com qualquer forma de intimidação, discriminação e violência contra as cidadãs.

“Peço a todas as minhas colegas que tenham coragem para sair da zona de conforto e lutar contra todas as formas de marginalização que nos limitam, porque as leis deste país garantem a igualdade de género, mas na prática isso não se verifica”, apelou a estudante.

Conforme o artigo 16º da Constituição sobre universalidade e igualdade, “todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres. Ninguém pode ser discriminado com base na cor, raça, estado civil, sexo, origem étnica, língua, posição social ou situação económica, convicções políticas ou ideológicas, religião, instrução ou condição física ou mental.”

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  1. Nunca é de mais estimular o discurso da ‘igualdade de género’, correspondentes direitos, oportunidades e deveres.
    Que não te doa a voz, Bella!

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