Sociedade civil manifesta preocupação com possível vitória de ex-general indonésio em eleições presidenciais

Esta é terceira vez que o acusado de violações dos direitos humanos em Timor-Leste se candidata às eleições presidenciais na Indonésia/Foto: East Asia Forum

Aliança Nacional de Timor-Leste para um Tribunal Internacional enfatiza que Prabowo Subianto é suspeito de envolvimento em massacres no país entre 1980 e 1990, e reclama por justiça.

Entidades da sociedade civil em Timor-Leste ligadas à justiça e direitos humanos demonstram preocupação com a possível confirmação de vitória do atual ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, nas eleições presidenciais do país vizinho. A Aliança Nacional de Timor-Leste para um Tribunal Internacional (ANTI) atribui ao político o envolvimento em massacres ocorridos em território timorense entre as décadas de 80 e 90 e apela à comunidade global para que o ex-general do ditador Hadji Suharto seja preso.

Formada pela Asia Justice and Rigths (AJAR), a Organização dos Direitos Humanos (HAK) e o Programa de Monitorização do Sistema Judicial (JSMP), a ANTI, em comunicado de novembro do ano passado, responsabiliza Prabowo Subianto pela morte de 200 pessoas em Viqueque, em 1983 – num episódio conhecido como Kraras. O movimento também afirma que o ex-general esteve envolvido com o assassinato de pelo menos 530 pessoas em Timor-Leste, em operações de repressão à resistência, em 1984.

No documento, a ANTI ainda enfatiza que “existem fortes evidências sobre o envolvimento de Prabowo Subianto, como a pessoa responsável e ator intelectual, no massacre de Santa Cruz a 12 de novembro de 1991, em Díli, que, segundo um relatório da Amnistia Internacional, matou mais de 300 pessoas”.

A ANTI realçou que todos os dados constam em relatórios produzidos pela Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR), que se tornou no Centro Nacional Chega, e que respeita o processo democrático no país vizinho.

“Valorizamos e respeitamos a evolução política e democrática que está a ocorrer na Indonésia, reveladora de um clima muito positivo. No entanto, sentimos que as demandas pelo direito à justiça e as feridas profundas causadas pela violência e crueldade do passado serão intensificadas se virmos o principal perpetrador acusado de graves violações dos direitos humanos durante o regime de Suharto ocupar uma posição importante e estratégica no governo”, destacou a ANTI no comunicado.

A ocupação de Timor-Leste pela Indonésia durou 24 anos (1975-1999) e, segundo dados do Governo, mais de 250 mil timorenses perderam a vida no período. “Quando recordamos os incidentes sangrentos do passado, lembramo-nos do papel do antigo general Prabowo Subianto como autor decisivo na preparação de ações cruéis, bárbaras e desumanas e de graves violações organizadas e sistemáticas dos direitos humanos durante a ocupação indonésia de Timor-Leste”, sublinhou a ANTI no comunicado.

A ANTI citou que familiares das vítimas, nas últimas duas décadas, têm insistido e esperado que seja feita justiça, tendo inclusivamente recorrido ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

Porém, desde que Timor-Leste restaurou a democracia, a 20 de maio de 2002, não houve um movimento por parte das autoridades para procurar responsabilizar os autores da opressão.

Numa entrevista recente a uma emissora britânica, o presidente da República, José Ramos-Horta, ao ser confrontado com a falta de medidas para penalizar os agressores, observou que “quando você se envolve em diálogo e negociação, é preciso ter a coragem de fazer concessões, de ambos os lados.”

“O maior ato de justiça não é vingança, não é processar as pessoas. O maior ato de justiça é a comunidade internacional como um todo, incluindo a Indonésia, corrigir os erros do passado, reconhecendo a independência de Timor-Leste, para que a Austrália, nós e todos os outros países que colaboraram com o regime de Suharto, possam ser perdoados”, afirmou o chefe de Estado e vencedor do Nobel da Paz (1996).

Na Indonésia, recaem sobre o ex-general suspeitas de, nos últimos anos de ditadura de Suharto, ter arquitetado o rapto e tortura de 22 oposicionistas – 13 deles ainda estão desaparecidos. Em 1998, Prabowo Subianto, que nunca enfrentou um julgamento e nega todas as acusações, foi expulso do exército, sem honras.

O jornal norte-americano The New York Times relatou que o ex-general, devido ao seu histórico, ficou proibido de entrar no país por 20 anos.

Pesquisas independentes dão vitória ao ex-general

Na quarta-feira (14.02), Prabowo Subianto declarou-se vencedor das eleições, depois de institutos de pesquisas independentes apontarem que o ministro da Defesa obteve quase 60% dos votos. Desde que começaram as eleições diretas no país, em 2004, a amostra tem sido precisa. Os resultados oficiais, contudo, devem ser divulgados até 20 de março.

Os dois principais oponentes do ex-general, Anies Baswedan (ex-governador de Jacarta) e Ganjar Pranowo (ex-governador de Java), terão obtido, segundo os institutos, por volta de 25% e 17% dos votos, respetivamente. As equipas de ambos afirmam que investigações sobre fraudes eleitorais estão em curso.

Aos 72 anos, Prabowo Subianto, que era genro de Suharto (falecido em 2008, uma década após o fim de seu regime, que durou 32 anos), tem como vice Gibran Rakabuming, 36 anos, o filho mais velho do atual e popular presidente, Joko Widodo, conhecido como Jokowi – impedido de se candidatar às eleições por estar no segundo mandato.

Derrotado em duas eleições presidenciais, o ex-general passou a trabalhar a sua imagem. Para tentar deixar de ser associado a casos de explosões raiva e rompantes, na última campanha investiu fortemente nas redes sociais, apresentando-se como um avô adorável que gosta de gatos e faz danças desajeitadas no Tik Tok.

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