Seminário promovido pelo Centro de Língua Portuguesa aborda sala de aula como “campo de pesquisa”

Professores e estudantes marcaram presença no seminário “Minha sala de aula, meu campo de pesquisa” /Foto: Diligente

O Centro de Língua Portuguesa (CLP), no âmbito do FOCO.UNTL (Formar, Orientar, Certificar e Otimizar), projeto de cooperação bilateral entre o Camões I.P. e a Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), promoveu, nas últimas semanas, um ciclo de três seminários subordinados ao ensino.

A palestra “Minha sala de aula, meu campo de pesquisa”, orientada por Nélson Viana, Professor Doutor da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo (Brasil), fechou esta quarta-feira, no Centro Cultural Português, em Díli, o ciclo que começou em junho.

Nelson Viana explicou, em entrevista ao Diligente, que “a ideia central foi mostrar que um professor também é um pesquisador e, por isso, a sala de aula é também o campo de pesquisa de cada docente, onde este pode entender aquilo que está a acontecer com os seus alunos”.

Ao longo da apresentação, o professor estabeleceu as diferenças e os paralelismos entre pesquisador e professor, ao defender que “os docentes também são pesquisadores, só que socialmente entendemos que o professor é alguém que ensina, que tem uma dimensão mais prática, enquanto o pesquisador é alguém que reflete, analisa e estabelece teorias. Porém, pela natureza do trabalho desenvolvido, o professor questiona o seu trabalho e a aprendizagem dos alunos, portanto também é um pesquisador”, clarificou.

O professor realçou que a pesquisa é uma ferramenta que contribui bastante para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. “No caso específico do ensino do português em Timor-Leste, há diversos temas que podem ser levantados por professores. Por exemplo, uma pesquisa sobre as melhores estratégias para um discente aprender uma língua através da motivação, da disponibilidade pessoal e dos motivos pelos quais pretende comunicar nesse idioma”.

Além dos processos na sala de aula, o professor sublinhou que, para uma língua não materna se desenvolver plenamente, “é necessário haver um investimento maior, não só do Governo local, mas também dos outros países de língua portuguesa. Deve apostar-se, simultaneamente, no processo de ensino-aprendizagem da língua em si e no contacto informal com a mesma, através de dinamização de atividades culturais, que funcionam como extensões das aulas e possibilitam uma aprendizagem muito mais autónoma, nomeadamente a música, o cinema e o teatro, entre outras.

Para Viana, é importante que Timor-Leste desenvolva “um português próprio, com as suas marcas específicas. Por exemplo, um timorense pode falar português com sotaque makasae ou de outra língua materna, mas as outras pessoas vão perceber que é português de Timor”.

Beatriz Sarmento, professora do projeto FOCO.UNTL, salientou que o seminário foi útil e pertinente para o público, “porque nós, docentes, devemos ter sempre em conta que na sala de aula não estamos apenas a transmitir conhecimentos aos estudantes, mas, ao mesmo tempo, estamos a pesquisar e a investigar, ou seja, qualquer reação identificada na sala de aula deve ser estudada e analisada. Desta forma, o professor, que também é pesquisador, procura soluções para resolver as lacunas identificadas”.

Já Olga Boavida, estudante do mestrado em Ensino do Português no Contexto de Timor-Leste, na UNTL, referiu que a iniciativa a ajudou a compreender melhor o conceito de pesquisa e “a descobrir que um professor também deve ser um pesquisador. Vou ter isso em conta para a minha dissertação de mestrado”, destacou.

Por sua vez, Paulo Faria, professor e coordenador científico-pedagógico do projeto FOCO.UNTL, explicou, em entrevista ao Diligente, que este ciclo de seminários “trouxe uma oferta diversificada de formação, possibilitou o contacto com especialistas internacionais e representou uma oportunidade relevante para a formação e desenvolvimento profissional dos professores”.

Para além do tema abordado esta quarta-feira, o ciclo, que arrancou no dia 7 de junho, contou ainda com outros dois seminários. O primeiro, subordinado ao tema «Recursos digitais para o ensino do Português Língua Não Materna (PLNM)», foi dinamizado por Crisólogo Baptista, professor convidado do CLP, e Paulo Faria. O segundo, «Língua Portuguesa Pluricêntrica: Implicações no contexto timorense», foi orientado pela Professora Doutora Regina Pires de Brito, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no estado de São Paulo.

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  1. A meu ver voces em termos de educacao tem de comecar pela cartilha, o abc, a sebenta, uma boa merenda as criancas no ensino pre e primario, para que elas ganhem “ossos fortes” para a longa caminhada. E necessario comecar pela infra estrutura e nao pelo tema do seminario. Estao a criar castelos de areia e em areia movedica!

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