Coletivo que existe desde 2017 desenvolve atividades ligadas à horticultura e alfaiataria, além de valorizar a produção de café. Política do Ministério da Solidariedade Social e Inclusão é usada como argumento para falta de apoio.
Num esforço para promover a inclusão e a autonomia económica, um grupo de pessoas com necessidades especiais uniu, em 2017, os seus talentos e paixões para fundar uma cooperativa chamada Fórum Juventude e Deficiência de Ermera (FJDE), voltada para a produção de café, horticultura e alfaiataria. Localizada na aldeia de Palemanu, suco de Fatuquero, do posto administrativo de Railaco, a iniciativa não cria apenas oportunidades de emprego para indivíduos com deficiência, como também impulsiona a economia local.
Marcos de Deus Martins, coordenador do FJDE disse que o objetivo do grupo é promover a cidadania dos indivíduos com diferenças funcionais, destacando a importância de ações concretas em vez de apenas discursos vazios. “Muitas destas pessoas ainda não receberam apoio do Estado, então criámos este Fórum para os ajudar”, argumentou.
Atualmente, a organização dá formação a oito cidadãos, dos quais seis ainda não têm os documentos exigidos para receberem apoio estatal.
O coordenador enfatiza que as pessoas com necessidades especiais têm talentos e capacidades para contribuir para o desenvolvimento do país. “Temos de identificar oportunidades como o cultivo de vegetais e a produção de café, adaptadas às capacidades físicas e individuais de cada um. Colocamos uma pessoa com deficiência a trabalhar com um cidadão sem deficiência para que se ajudem”, realçou.
Relativamente à produção de café, explicou que a cooperativa compra o produto a 12 fornecedores diferentes, dos quais quatro são deficientes físicos. “Damos formação aos fornecedores para que selecionem grãos de café de alta qualidade”, destacou.
Sobre as práticas de horticultura, o FJDE ensina a utilizar adubos orgânicos para o cultivo de vários tipos de vegetais, como abóbora, batata, tomate, couve, beringela, entre outros. Carlito Soares, 51 anos, pai de oito filhos, que sofreu um acidente de carro em 1998 e ficou com sequelas permanentes numa perna e na mão direita, é um dos beneficiários da iniciativa.
“Antes eu era discriminado pela sociedade, que erradamente acredita que uma pessoa com deficiência é incapaz de desempenhar certas funções ou é menos produtiva. Agora, sou respeitado, consigo trabalhar e ter dinheiro, graças a esta cooperativa. Não recebo apenas o subsídio do Estado. Trabalho para sustentar a minha família”, partilhou, orgulhoso.
Quanto às dinâmicas de alfaiataria, são exploradas técnicas de costura e diferentes tipos de cortes de tecidos. A cooperativa costuma produzir bonecas, panos da mesa e chapéus.
Para manter todas as atividades, o FJDE – que não recebe nenhum apoio por parte das autoridades timorenses – precisa de superar algumas adversidades, como a dificuldade em conseguir transporte para levar os produtos para o mercado e a falta de equipamentos. “Também não temos um terreno para instalarmos o edifício da organização. Já pedimos ao departamento da Solidariedade Social, mas não obtivemos resposta”, lamentou o coordenador do grupo.
Falta de apoio
O Diligente conversou com Vito Caio do Santos, diretor do Centro de Solidariedade Social do Município de Ermera, sobre a falta de apoio ao FJDE. Segundo o dirigente, o grupo não recebeu ajuda nos últimos cinco anos, porque não se enquadra na política do Ministério da Solidariedade Social e Inclusão. “Apenas damos apoios individuais em detrimento de grupos que fazem atividades de negócio”, justificou.
Por sua vez, Joanico Pereira dos Santos, responsável do Raes Hadomi Timor Oan (RHTO), organização que apoia pessoas com deficiência do Município de Ermera, informou que tentam cooperar no sentido de garantir tratamentos adequados, bens (como cadeira de rodas) e assistência para trâmites documentais. “Mas, muitas vezes, as famílias não autorizam que os cidadãos saiam de casa por medo de possíveis incidentes e falta de confiança nas instituições, o que dificulta o apoio efetivo”, argumentou.
Já a chefe de Suco de Fatuquero, Leogia Trindade, elogia a iniciativa do FJDE e ressalta a contribuição para a economia local. “O que me preocupa é os produtos não chegarem ao mercado. Tento ajudar e falo com as partes relevantes para ajudar estes jovens, que merecem todo o apoio”, frisou.
De acordo com o censo de 2023, existem 4.421 cidadãos com necessidades especiais físicas, visuais, orais e mentais em Ermera.
Mais uma vez se demonstra que quando existe determinacao e se poe maos a obra, os “verdadeiros milagres” acontecem.
Forca FJDE!