No segundo debate organizado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e transmitido em direto pela estação pública de televisão, RTTL (Rádio e Televisão de Timor-Leste), marcaram presença oito dos 17 partidos na corrida às eleições parlamentares do próximo dia 21 de maio. À semelhança do primeiro debate, que aconteceu na terça-feira com os 9 primeiros partidos do boletim de voto, foi a vez das restantes oito forças políticas apresentarem os seus programas. Destacaram questões fundamentais relacionadas com o desemprego, a saúde, a educação, a agricultura, a dependência do fundo petrolífero e a descentralização.
Fizeram parte do painel, o partido UNDERTIM (Unidade Nacional Democrática Timorense), a Fretilin (Frente Revolucionária Timor-Leste Independente), o CNRT (Congresso Nacional da Reconstrução Nacional de Timor-Leste, o CASDT (Centro Ação Social Democrática Timorense), o MLPM (Movimento Libertação ao Povo Maubere), o PST (Partido Socialista Timorense), o PDC (Partido Democrata Cristão) e a APMT (Associação Popular Monarquia Timorense).
Cristina da Costa, representante e membro do Comité Central da Fretilin (CCF), apresentou o que considera serem os pontos estratégicos para o desenvolvimento nacional. O primeiro passa pelo “investimento na educação e na saúde de modo inclusivo”. Em segundo lugar, “queremos apostar na diversificação económica, para tal, precisamos de investir no turismo, na agricultura, nas pescas e nos minerais, o que nos permitirá criar postos de trabalho e, consequentemente, reduzir o índice de pobreza”. A representante do partido salientou também a necessidade de “apostar no capital humano e na habitação digna”, bem como “na descentralização do poder para que a economia não circule apenas em Díli, mas também nas áreas rurais”. Relativamente às infraestruturas básicas e à otimização da rede de transportes, destacou a importância de “pensar numa rede rodoviária que permita a circulação de produtos, de forma a desenvolver o setor agrícola”. No caso do turismo, “será uma forma de garantir a fácil circulação dos turistas que visitam o país”. Por último, “temos de garantir a estabilidade governativa, através da separação dos poderes e da transparência”.
O CNRT, representado por Dionisio Babo, Presidente do conselho da Direção Nacional do partido, mostrou-se “preocupado com a instabilidade política dos últimos 5 anos e com o aumento do índice de pobreza”. Para fazer face a este problema, propõe-se a: “criar emprego principalmente para os jovens e diminuir a taxa de pobreza”. Para atingir os objetivos a que se propõe, o partido vai trabalhar na recuperação económica do país, restabelecer o estado de direito democrático – que considera estar a ser desrespeitado pelo atual Governo – manter a paz e a estabilidade, promover a produtividade económica e salvaguardar os direitos humanos. O representante do CNRT reforçou as intenções do partido de efetivar “a canalização do gasoduto para Timor-Leste”. Esta medida vai permitir “desenvolver a costa sul, para que possamos criar emprego, o que permitirá também reduzir a emigração de jovens. Saúde e inclusão social são também duas das principais bandeiras do partido”, concluiu.
Para reduzir a dependência do fundo petrolífero, o presidente interino do CASDT, Isac do Rosário, considera que é essencial investir na educação, na saúde, no turismo e na economia. “Queremos que haja formação obrigatória em língua portuguesa para todos os timorenses, porque é uma das ferramentas fundamentais para desenvolver a educação e acelerar o desenvolvimento nacional.” Referindo-se ao setor da justiça, o CASDT quer garantir a imparcialidade na administração do setor e eliminar a interferência do poder informal: “temos ainda de informar o povo sobre as leis para que as cumpram e sejam capazes denunciar casos de injustiça.”
Já José Domingos Martins Belak, secretário-geral do partido MLPM, questionado pelo moderador sobre o problema do trabalho infantil, culpabilizou todos os políticos timorenses: “é culpa nossa, violámos os direitos das crianças, porque não criámos condições económicas que lhes permitam apenas estudar e brincar. Não criámos escolas de qualidade, embora estejamos conscientes de que as crianças são o futuro da nação”.
Tendo por base a ideologia do socialismo humanista popular, pela qual o partido se rege, Agostinho de Jesus Madeira, coordenador do PST do município de Ermera, considera que o Estado “deve disponibilizar as terras que tem em sua posse, inutilizadas, para que o povo possa cultivá-las”. Também numa política de incentivo aos agricultores, o coordenador explicou que “o partido vai atribuir subsídios aos agricultores para que possam aumentar a sua produção”. Outra das apostas do PST passa por disponibilizar formação sobre a produção mais adequada a cada área do país, como por exemplo, em Ermera, formação sobre a indústria de café para que o produto possa ser comercializado nos mercados regionais e nacionais”.
O presidente interino do PDC, Francisco de Araújo, avançou que o partido quer estabelecer o Supremo Tribunal de Justiça, com o objetivo de evitar interpretações subjetivas da Constituição. “Temos de formar os juízes e advogados para serem profissionais competentes na administração da Justiça.”
Rogério Pereira, vice-presidente executivo da APMT, alertou para o “precipício fiscal da total dependência do fundo petrolífero”, e garantiu que o partido “oferece soluções que passam por envolver os setores privados para reorganizar a agricultura comunitária, de modo a contribuir para o aumento da produção. “Pretendemos também desenvolver o turismo e os produtos culturais timorenses. Queremos ainda instituir uma moeda própria para Timor-Leste para que não dependamos do dólar americano.”
Este foi o segundo de três debates organizados pela CNE e que contaram com transmissão direta na RTTL. O terceiro e último debate juntou, hoje, representantes de todos os partidos que concorrem às eleições legislativas de 21 de maio.