MANGAIS

Reflorestação do mangal de Hera quer reforçar riqueza ambiental do país

Cerca de 50 participantes plantaram duas mil árvores de mangais, em Hera/Foto: Diligente

O ecossistema de mangais é uma das maiores ‘fortunas’ de Timor-Leste, a par das praias de beleza singular, das montanhas magnificentes e da biodiversidade marinha. Para celebrar o Dia Internacional de Conservação do Ecossistema de Mangal, data que se assinala a 26 de julho, a Fundação Conservação Flora & Fauna, juntamente com a organização não governamental Blue Venture, organizaram, esta quarta-feira, uma iniciativa para a reflorestação do mangal de Hera, no suco do Cristo Rei, com duas mil novas árvores.

Os mangais protegem a área costeira, as pessoas e o solo, evitando a erosão e os tsunamis. São muito importantes para o meio ambiente e para as comunidades locais, porque para além dos benefícios que oferecem, são também fonte de recursos económicos.

Alito Rosa, diretor executivo da Fundação Conservação Flora & Fauna (KFF, na sigla em tétum), realçou, no âmbito da iniciativa, que estas florestas “podem ser rentabilizadas enquanto turismo comunitário e são também fonte de rendimento para os pescadores por serem um lugar de desenvolvimento de peixe e de outros animais marinhos. O ecossistema contribui ainda para a mitigação das mudanças climáticas, porque cada hectare de mangais pode absorver cerca de 50 toneladas de dióxido de carbono”.

Nesse sentido, e “no âmbito da comemoração anual do Dia Mundial dos Mangais, partilhamos informações junto da comunidade sobre a importância deste ecossistema para os seres humanos e para a ecologia”, salientou o diretor executivo.

Por sua vez, Luís da Costa, docente do Departamento de Biologia da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), aproveitou para sublinhar que os mangais são “casa da biota marina, onde os peixes deixam os seus ovos para os proteger dos predadores. Sem mangais, estes animais não têm um lugar seguro e correm o risco de desaparecer, o que, inevitavelmente, afetaria o rendimento dos pescadores”.

Oldegar Massinga, diretor da Blue Venture, destacou também a importância destes ecossistemas no âmbito da economia azul e potencialidades da riqueza marinha como fonte de rendimento sustentável do país, realçando que 60% do território timorense é marinho. “A riqueza do mar é o peixe, que precisa dos mangais para se desenvolver. Por isso, é necessário reparar o ambiente costeiro”.

“Os mangais estão a desaparecer três a cinco vezes mais depressa do que as perdas florestais globais, com graves impactos ecológicos e socioeconómicos. As estimativas atuais indicam que a cobertura destes ecossistemas costeiros diminuiu para metade nos últimos 40 anos”, lê-se no site da UNESCO.

Relativamente a esta perda significativa, Alito Rosa realça que, também em Timor-Leste, em 1940, existiam nove mil hectares de mangais, mas atualmente já são apenas quatro mil. Comunicou ainda que do total de 52 hectares de mangais existentes em Hera, 14 precisam de ser reabilitados.

Depois de plantadas as duas mil árvores, a equipa da KFF vai garantir a manutenção das plantas, fazendo canais hidrológicos, se o mar, por estarmos na época seca, não irrigar as plantas jovens. “Garantimos que os mangais vão crescer, mas se houver árvores jovens mortas, vamos trocá-las. Para além disso, o grupo vai reparar as cercas para proteger o ecossistema da entrada de animais”, avançou Rosa. Os mangais reproduzem-se naturalmente, sem precisarem de ajuda humana e, num bom habitat, podem atingir dois metros de altura num ano, clarificou o diretor executivo.

Porém, devido à mudança do habitat, provocada pela sedimentação da montanha na área costeira local, o solo tornou-se duro e ficou acima do nível do mar. “A comunidade também contribui para a degradação do ambiente mangal, principalmente as pessoas que vendem lenha e, por isso, cortam os mangais. Acresce ainda a criação de viveros de peixes nas áreas onde habitam estes ecossistemas, o que também alterou, significativamente, o habitat, porque o solo junto aos viveiros aumentou o nível do terreno em relação ao mar”.

Corroborando a ideia do diretor da KFF, Luís da Costa, docente da UNTL, observou que cerca de 60% do ambiente mangal foi danificado e algumas espécies desapareceram. “Em 1994, tínhamos 19 espécies de mangais em Hera, segundo um estudo de um pesquisador australiano. Em 2014, fiz uma pesquisa e encontrei apenas 12 espécies. Este ano, também já foi levada a cabo, por estudantes universitários do departamento de biologia, uma pesquisa não detalhada, em que foram identificadas apenas nove espécies”.

Presente no local, o ex-secretário de Estado do Ambiente, Demétrio do Amaral de Carvalho, partilhou uma história que ouviu de um pescador, no âmbito do trabalho que desenvolve, atualmente, enquanto ativista ambiental. “No tempo português, aquando da construção do país, os timorenses foram obrigados a cortar árvores de mangais, que foram utilizadas como lenha para a produção de tijolo e cal. Os mangais cobriam todas as zonas costeiras de Timor-Leste, desde o porto de Díli até ao lugar onde é atualmente o Hotel Timor era tudo mangais, mas, por necessidade de desenvolvimento, os mangais foram sacrificados.”

Relativamente ao ecossistema de mangais em Hera, o ambientalista informou que, durante a crise de 2006, a comunidade dependia das árvores destas zonas florestais para sobreviver.

A comunidade de Hera reconhece que muitas pessoas ainda não têm conhecimento sobre a importância dos mangais e acabam por tirar proveito de formas que não são sustentáveis. “É preciso mais envolvimento da KFF para sensibilizar a sociedade”, sugeriu João Guterres, 32 anos, residente em Hera.

Júnio de Carvalho Soares, 25 anos, estudante do Departamento de Turismo e Gestão no Díli Institute of Tecnology (DIT), mostrou-se contente por ter participado, pela primeira vez, neste evento. “Aprendi como cultivar mangais e conservar o ecossistema marítimo. Os mangais são muito importantes para proteger a zona costeira e evitar que as ondas do mar atinjam a área terrestre.” O estudante aproveitou para sugerir aos jovens que participem em atividades como esta para que fiquem informados e possam contribuir para a qualidade do meio ambiente, no futuro.

Ashlee Gross, membro da ONG Blue Venture, grata por participar na atividade, elogiou o trabalho voluntário, a iniciativa e o conhecimento aprofundado da KFF sobre o ecossistema dos mangais. “Timor-Leste é um país lindo e os mangais contribuem para essa beleza, o que atrai turistas estrangeiros. Seria melhor expandir o ecossistema, porque sei que o povo timorense deseja um país verde.”

Alito Rosa também deixou um apelo ao povo timorense para que não corte os mangais, dada a sua importância para a economia azul e para a sustentabilidade das gerações futuras e alertou o Governo para que “invista mais na atividade de reflorestação”.

Perante a necessidade de haver pesquisa mais profunda por parte dos universitários, o docente Luís da Costa sugeriu ao Governo que não dependa do fundo petrolífero, “mas que se foque em tirar o máximo proveito, de forma sustentável, do ecossistema mangal, chave da riqueza marinha”.

Venâncio Tavares, administrador do posto de Cristo Rei, informou que há um plano de florestação anual que conta com o apoio de parceiros, como o grupo da KFF e da Blue Venture. “Peço à comunidade que participe neste projeto e tenha consciência da importância do ecossistema para que o possamos conservar. Solicito ainda à população que ajude a plantar árvores nas colinas, no sentido de evitar a erosão até à área costeira, o que pode limitar o desenvolvimento dos mangais”.

Participaram no evento de comemoração do Dia Internacional de Conservação do Ecossistema de Mangal, ambientalistas, estudantes universitários, membros da comunidade de Hera, militares da componente naval das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), um grupo de guardas-florestais e representantes da Secretaria de Estado das Pescas.

A plantação das duas mil árvores de mangais faz parte de uma iniciativa, que visa, no espaço de três anos, conseguir plantar cerca de 30 mil na zona costeira de Hera, em Díli, e é financiada pelo fundo global da Iniciativa da KIWA, programa ambiental que reúne apoios financeiros da União Europeia, da Agência Francesa para o Desenvolvimento, do Negócio Global Canadá, do Departamento de Negócios Estrangeiros do Comércio da Austrália e da Nova Zelândia.

 

 

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