A Soru Na’in, rede de tecedeiras de Tais que reúne mais de 600 mulheres em Timor-Leste, juntou, terça-feira, na Fundação Oriente, membros e parceiros para abordar os principais desafios que as mulheres que praticam o ofício enfrentam, principalmente nas zonas mais rurais. Espalhadas pelos municípios de Oecusse, Covalima, Lautém, Bobonaro, Baucau e Viqueque, redes ‘piloto’ do projeto, estas tecedeiras trabalham ativamente para a preservação do Tais como património cultural do país. O evento organizado pela ONU Mulheres Timor-Leste, em colaboração com a Timor Aid e a Fundação Alola, contou com a presença de tecedeiras dos seis municípios onde a rede está representada.
O Tais, tecido tradicional timorense, foi classificado em 2021 pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Património Cultural Imaterial “com necessidade de salvaguarda urgente”. Entre os motivos para esta classificação encontram-se: a geração inadequada de rendimento devido à falta de estratégias de marketing consolidadas e de oportunidades de negócio, particularmente para as tecedeiras sediadas nas zonas rurais. Como resposta a este desafio e no âmbito do Plano Nacional de Salvaguarda dos Tais, foram implementadas redes piloto do projeto Soru Na’in em seis municípios, numa colaboração entre a ONU Mulheres Timor-Leste, a Timor Aid e a Fundação Alola, que teve início em 2019.
A rede apoia as artesãs das áreas rurais, na promoção da literacia financeira das tecedeiras e na salvaguarda da qualidade de produção dos Tais, de acordo com o método de produção tradicional para que as tecedeiras possam atuar como guardiãs e defensoras deste património.
“Grande parte da produção de Tais de Timor-Leste acontece maioritariamente nas próprias casas destas mulheres. Apesar disso, elas raramente são reconhecidas como artesãs e guardiãs deste património cultural” sublinhou, no evento, a fundadora da organização Timor Aid, Céu Lopes.
Além disso, as tecedeiras que trabalham nas áreas mais rurais vêem-se a braços com a “falta de capacidade e conhecimento para inovarem nos tecidos que produzem, falta de oportunidades de formação, acesso limitado a matérias-primas e pouca literacia financeira para praticarem preços sustentáveis, tendo em conta os custos da produção”.
Estes foram os principais obstáculos abordados no evento em que a fundadora da Timor Aid realçou “o papel da rede Soru Na’in na promoção da proximidade entre as tecedeiras que praticam o ofício há mais tempo e as novas gerações para trabalharem em conjunto na preservação deste património identitário do país, salvaguardando o método tradicional de produção”.
Por sua vez, Luciana Guterres, tecedeira e representante da rede em Soru Na’in em Viqueque, aproveitou para alertar para o facto de que “muitas tecedeiras mais antigas já faleceram, muitas outras já têm uma idade avançada, e tudo isto, é uma ameaça para a preservação da tecelagem de Tais de forma tradicional”.
Para além disso, as artesãs que vivem nos municípios têm muitas dificuldades em conseguir matéria-prima e um espaço próprio: “Precisamos de terrenos para cultivar algodão e também as árvores que possibilitem dar cores aos tecidos, além de uma sede própria em cada município que permita reunir todas as artesãs das áreas rurais”. Luciana Guterres defendeu que “só com um espaço próprio será possível às artesãs passarem conhecimento às novas gerações e, ao mesmo tempo, exibirem e venderem os Tais num lugar seguro, não se vendo obrigadas a limitarem-se aos mercados de venda”.
Acresce, no seu ponto de vista que, “as mulheres tecedeiras a viver nas áreas rurais têm muito menos hipóteses de frequentar formações ou participar em eventos de divulgação das suas produções, comparativamente com as que vivem nas vilas dos municípios”, lamentou a tecedeira.
Na Fundação Oriente, Luciana Guterres, falou em representação de todas as tecedeiras da Rede Soru Na’in, de todos os municípios e aproveitou a presença do Presidente da República, José Ramos Horta, para pedir que “aborde com o Governo formas de incluir o programa da rede Soru Na’in no Orçamento Geral do Estado, para garantir às mulheres tecedeiras das áreas rurais e dos municípios a possibilidade de manterem as suas atividades e continuarem a promover e preservar o Tais tanto a nível municipal, como nacional e internacional”.
Horta agradeceu “a todas as mulheres tecedeiras que se esforçam para salvaguardar o património cultural do país” e garantiu “o apoio da presidência para, em conjunto, trabalharem na promoção da identidade cultural de Timor-Leste”. Nesse sentido, o chefe de Estado disponibilizou, à semelhança do que já acontece com o grupo Arte Moris, um espaço nas imediações do Palácio Presidencial, para a rede promover as suas atividades. Prometeu ainda “ficar atento aos desafios futuros”.
Em cada tecido de Tais está representada uma parte da identidade timorense. Nos diferentes motivos, estilos e cores desta herança cultural dos antepassados timorenses, podem encontrar-se a representação da história de determinada família, linhagem ou grupo étnico. Por isto e muito mais, assumem uma importância primordial para o povo timorense, quer simbólica quer como oportunidade de negócio e meio de sobrevivência.