Queixas sobre precariedade das estradas intensificam-se durante o Natal e ano novo

Condições precárias da estrada entre Tiliomar e Fatumea/Foto: DR

Acidentes rodoviários, veículos danificados, longas horas para percorrer poucos quilómetros, dores no corpo, medo de circular em vias abatidas são algumas das reclamações daqueles que se deslocaram aos municípios para passarem as festas de fim de ano com a família.

As más condições das estradas um pouco por todo o território timorense agravam-se durante a época das chuvas. O piso coberto de lama, pedras, desabamentos de partes de vias tornam as viagens imprevisíveis.

A situação gera grande preocupação para a população, que vê a sua circulação e de mercadorias dificultadas, bem como o acesso a cuidados de saúde e a escolas.

Em dezembro passado, o Presidente da República, José Ramos-Horta, promulgou o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2024, com o total de 1,95 milhões de dólares americanos. Deste valor, 278 milhões foram alocados para o Ministério das Obras Públicas e 30 milhões são destinados a projetos de reconstrução das infraestruturas danificadas pelos desastres naturais.

No fim de dezembro de 2023, para celebrar o Natal e o fim do ano em família, muitos cidadãos deslocaram-se para os municípios. O Diligente conversou com alguns cidadãos para saber como foi a experiência.

“Penso que esta via não é alvo de manutenção desde a ocupação indonésia e quando tenho de passar por ali sinto que estou a arriscar a minha vida”

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Erjol da Costa Alves, 23 anos, estudante de Filosofia da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), habitante de Laclubar/Foto: Arquivo privado

“A estrada de Rulalan até Laclubar Vila tem cerca de 10 quilómetros, mas demoramos mais de duas horas para chegar a Laclubar Vila. Penso que esta via não é alvo de manutenção desde a ocupação indonésia e quando tenho de passar por ali sinto que estou a arriscar a minha vida. Durante a época seca, engolimos pó. Na época das chuvas, o pó transforma-se em lama, que torna o piso escorregadio e perigoso.

Chamamos estrada por causa do espaço para circulação dos veículos, mas, na verdade, esta via não tem condições para ser uma verdadeira estrada: não tem sistema de drenagem e algumas partes não têm pontes adequadas. Devido à erosão, algumas partes da estrada aluíram. Não há nenhum trecho que esteja em boas condições, mas não temos outro caminho, por isso temos de nos sujeitar.

Em dezembro do ano passado, uma mota quase foi arrastada pela força da corrente na ribeira de Wer-urun. Esta ribeira antes tinha uma ponte, mas a chuva intensa de 2021 destruiu-a e até agora ninguém a veio reabilitar. Uma grávida que estava com problemas durante o trabalho de parto e precisava de ser transportada urgentemente para Manatuto ou para o Hospital Nacional Guido Valadares, em Díli, quase não conseguiu ser levada, devido às más condições da via: familiares e autoridades locais tiveram de tapar os buracos da estrada para o transporte ser realizado. A mulher deu à luz em Manatuto.

Em 2022, um carro do Parlamento Nacional teve um acidente e o veículo capotou. No entanto, os líderes continuam a ignorar esta situação. Algumas empresas mediram e tiraram fotografias, mas nunca mais voltaram. Os cidadãos desta zona estão abandonados. Sabemos que para desenvolver outros setores, as estradas são essenciais.

O atual Presidente da República, José Ramos-Horta, em visita a Laclubar, chegou mesmo a prometer que, se o Orçamento Geral do Estado de 2024 não incluísse a construção da estrada de Laclubar, iria vetar. Como já o promulgou, vamos continuar à espera que cumpra a promessa”.

“Para transportar os doentes de Fatumea para Suai Vila leva-se de quatro a cinco horas, pondo em risco a vida dos pacientes, sobretudo das mulheres grávidas”

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Osório Amaral, 25 anos, habitante do posto administrativo de Fatumea no município de Covalima/Foto: Diligente

“As condições das estradas entre o posto Tiliomar e Fatumea são péssimas, principalmente no tempo da chuva. Os transportes públicos em Fatumea não circulam, porque há muita lama e algumas partes da estrada abateram. Neste Natal e ano novo, apesar de não ter chovido muito, as estradas já estavam muito más e a população indignou-se.

A lama torna o piso escorregadio, podendo provocar acidentes rodoviários e danos materiais. Para transportar os doentes de Fatumea para Suai Vila leva-se entre quatro a cinco horas, pondo em risco a vida dos pacientes, sobretudo das mulheres grávidas.

Às vezes, os veículos não conseguem passar pelas áreas lamacentas e ficam presos. Os passageiros têm de procurar pedras, erva e terra para colocar no solo de modo a conseguir sair dali.

Há muito tempo que a comunidade de Fatumea reclama sobre as condições das estradas. Os agricultores não conseguem transportar os produtos como milho, alho, cebola, tomate para o mercado.

Sei que existem algumas empresas que querem reabilitar as estradas em Fatumea, mas, por haver uma disputa de empresas para conseguirem o projeto, ainda nada foi resolvido. O Ministério das Obras Públicas deve responsabilizar-se e resolver este problema o quanto antes”.

“A precaridade da estrada dificulta a circulação, as mercadorias estragam-se e os agricultores perdem dinheiro”

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Lucas de Deus, 26 anos, voluntário da Fundação Desenvolve Software Livre (FDSL), habitante de Letefoho-Ermera/Foto: Arquivo Privado

“A estrada que liga Gleno a Letefoho não está em boas condições. Se estivesse, a viagem duraria só uma hora, mas na época das chuvas – que engloba o período do Natal e o ano novo – dura quatro horas. A via está enlameada, a água acumula-se e há risco de deslizamento de terra, o que é muito perigoso para a movimentação dos transportes públicos.

Muitas vezes, há acidentes que resultam em feridos e danos graves nos veículos. Eu próprio já tive um acidente devido ao mau estado da via. Este problema já dura há muito tempo e o Governo ainda não procedeu à reabilitação da estrada.

Nos anos anteriores, o Governo contratou empresas, mas acabaram por recuperar apenas uma parte. Quando chove e há deslizamento de terra, a estrada fica arruinada. Muitos colegas meus de outros municípios decidiram não continuar a viagem para Letefoho por causa das más condições da estrada e voltaram para Gleno e depois Díli.

A maioria da comunidade de Ermera dedica-se à agricultura e precisa de transportar produtos para vender no mercado, mas a precaridade da estrada dificulta a circulação, as mercadorias estragam-se e os agricultores perdem dinheiro”.

“Há momentos em que os veículos quase capotam, devido ao desnível da via. Todas estas situações deixam-me com muito medo. Estou muito preocupada com a viagem de regresso a Díli”

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Ulda Fernandes, 23 anos, estudante universitária, habitante de Uatucarbau/Foto: Arquivo Privado

“A estrada que liga o posto administrativo Uatulari a Uatucarbau está num estado lastimável. Na época seca, fica tudo cheio de pó e quando chove, a lama e as poças de água fazem com que demoremos muito tempo na viagem – como aconteceu agora no fim de 2023. Esta situação danifica os veículos e aumenta o risco de acidentes.

Para além disso, as grandes poças de água atraem os búfalos para o local, o que pode representar perigo, gerando atropelamentos dos animais. Há momentos em que os veículos quase capotam, devido ao desnível da via. Todas estas situações deixam-me com muito medo. Estou muito preocupada com a viagem de regresso a Díli”.

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