A organização, criada em março de 2018, apoia e empodera raparigas adolescentes e jovens mulheres em Timor-Leste.
Tal como a borboleta, que decorava a parede das antigas instalações da organização, as jovens mulheres e meninas que chegam ao Pro-Ema, muitas delas vítimas dos mais variados tipos de violência, no início são fechadas como um ovo. Depois, o ovo parte-se e sai uma lagarta. Dentro dela, há um casulo opaco, que se vai tornando transparente até ficar cheio de cores e se transformar numa bonita borboleta, que abre as asas e voa sozinha.
Este é o trabalho do Pro-Ema, dar vida a quem, de alguma forma, a perdeu ou ainda não a encontrou. Como? Para além de servir comida fresca e saborosa, a organização apoia e capacita as jovens mulheres , através de vários cursos de empreendedorismo, gastronomia, restauração, hotelaria e estética.
Ana Paulina da Costa, diretora da organização, explica que para além de ser um restaurante, o Pro-ema é, ao mesmo tempo, um centro de formação. “Pretendemos dar formação às jovens nas áreas da gastronomia, restauração, hotelaria e estética, áreas atualmente consideradas importantes para o desenvolvimento do país”.
Depois de uma formação intensiva de nove a 12 meses, as jovens estagiam em hotéis, restaurantes e salões de beleza. Desde a sua fundação, já formaram mais de 400 pessoas, sendo que 30 delas estão a trabalhar em restaurantes parceiros do Pro-Ema, em Portugal, e outros trabalham na Correia do Sul e na Austrália.
No âmbito da cerimónia de formatura, no passado dia 14, 136 formandos de vários cursos receberam certificados. O curso de empreendedorismo contou com 16 formandos, gastronomia com 70, o departamento de hotelaria teve a participação de 45 estudantes e beleza 5. Do total de alunos, 13 são homens.
“Fico muito feliz por ver a evolução deles, porque chegaram aqui vazios”, salientou Ana Paulina, explicando que quando começaram o curso, a maioria não sabia o que era hotelaria ou gastronomia e muito menos como usar produtos químicos no salão de beleza.
A formação contou com a participação de jovens de todos os municípios, incluindo da Região Administrativa Especial Oecusse Ambeno (RAEOA). Os formadores, todos voluntários, são de diferentes nacionalidades: timorenses, brasileiros, australianos e portugueses.
Porém, há falta de formadores em certas áreas específicas. “Não é fácil encontrar voluntários dedicados e experientes para partilhar os seus conhecimentos”, lamentou. A diretora informou ainda que a organização convida os formandos com melhor desempenho para integrarem a equipa de formadores.
Formação única
Octadoria Quareni, 23 anos, formanda de Gastronomia, mostra-se muito feliz depois de terminar o curso. “Venho de uma família que gosta de cozinhar e que me influenciou. Gosto de cozinhar desde criança.” Neste sentido, quando teve conhecimento de que a organização estava a dar formação nesta área, decidiu candidatar-se. Confessou ainda que prefere fazer sobremesas.
A formanda, que já participou noutros cursos, considera a formação do Pro-Ema “única, porque os formadores tratam-nos com carinho, como se fôssemos seus filhos. Não dão formação apenas nas áreas técnicas, mas também na área do desenvolvimento pessoal. Estão atentos às nossas competências escondidas e ajudam-nos a ser confiantes e independentes”.
Para Octadoria, em Timor-Leste, a gastronomia não é devidamente valorizada. “Somos considerados meros cozinheiros, mas, na realidade, somos mais do que isso”, destacou, acrescentando que aprendem a cozinhar com amor, paciência e ciência.
A jovem espera que o Governo dê valor a esta área, implementando programas que permitam aos formandos estudar no estrangeiro para aprofundar o seu conhecimento e, desta forma, produzir mais chefes profissionais timorenses.
Já Sebastião Lopez, 21 anos, formando do curso de Hotelaria, contou que decidiu inscrever-se, por saber que Timor-Leste ainda não tem recursos humanos suficientes nesta área. O jovem elogiou a formação, que considera ser muito completa, “por permitir que primeiro aprendamos a teoria e depois apliquemos o que aprendemos durante o estágio nos hotéis”, sublinhou.
Apesar de ter tido alguma dificuldade inicial devido ao domínio insuficiente da língua portuguesa, “esforcei-me para ter autoconfiança e ultrapassar os desafios”, concluiu.
A diretora, visivelmente orgulhosa dos estudantes que “ganharam asas”, espera que alguns deles possam também ser formadores na organização, partilhando as suas experiências com os futuros estudantes.
Vi humano sonhar, vi borboleta voar!
Vi humano sonhar
Vi borboleta voar
Vi ser humanizar
Vi sonhos concretizar
Vi coracoes lindos a formar
Vi coracoes mais lindos a ajudar
Vi casulos desabrochar
Vi ovo quebrar
Vi feridas a sarar
Sem necessidade de forcar
Vi meu coracao chorar
Sem parar
Com tanto para se alegrar
Uma pitada de AMOR venho adicionar
Vi humano sonhar, vi borboleta voar!
Carlos Batista
Poeta de TL
Muito obrigada por divulgar o trabalho do Pro EMA!