Passageiros e condutores queixam-se do funcionamento das microletes em Díli

Passageiros fazem fila, na beira da estrada, à espera de microletes/Foto: Diligente

Circulam em Díli, diariamente, muitas microletes, o transporte público que assegura a maioria das deslocações aos que moram na capital. Em cada um destes carros, de cores e decorações exuberantes, cabem, no máximo, 14 pessoas. Um máximo legal que é, muitas vezes, ultrapassado pelos passageiros pendurados nas portas ou até sentados ao colo uns dos outros. Circulam, regularmente, entre as 6h e as 18h30. “Paragens oficiais” são cerca de dez, mas todos os locais são de paragem quando alguém estende, da rua, o braço aos condutores. Atrasos e horários de circulação limitados são as principais queixas dos passageiros. Já os condutores queixam-se de quem não paga ou lhes falta ao respeito.

Os passageiros aglomeram-se em esperas longas à beira da estrada, tanto debaixo de um calor de 30 graus, como de chuvas intensas, sem qualquer espaço para se abrigarem. Durante o horário regular de circulação, que começa às 6h, muitos desistem das esperas longas, para se lançarem a percursos de mais de uma hora a pé, na esperança de assim conseguirem chegar a horas onde precisam de estar. A partir das 18h30, quando a circulação das microletes na cidade termina, deslocarem-se a pé já deixa de ser uma escolha para ser, na maioria dos casos, a única opção, já que poucos são os que têm possibilidades de pagar um táxi.

As principais aglomerações de passageiros à espera do transporte público estão à vista de todos quantos passam pela rotunda Nicolau Lobato, ao lado da Ponte CPLP, em Aimutin, na rotunda de Elem-Loi, em Colmera, à frente da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), no Bairro Pité, em Vila Verde, no Cruzamento de Balide, à frente da Igreja Catedral ou em Mandarin.

Juanita Pinto, estudante de Direito da UNTL, contou ao Diligente que é difícil apanhar microletes tanto de manhã como de tarde, sobretudo as que fazem a ligação entre Tasi-Tolu e Bidau: “há muitos passageiros e poucos carros”.

“Muitas vezes, chego atrasada às aulas na universidade. Entro às 8h30, mas sou obrigada a ficar à espera da microlete que devia chegar às 6h30 e só chega às 9h30. Tenho de enviar mensagem aos docentes a justificar a minha ausência”, explicou Juanita Pinto, lamentando que o problema não recolha igual compreensão de todos os docentes. “Os professores timorenses percebem a situação, mas os professores internacionais não são tão compreensivos.”

Durante meses seguidos, a estudante universitária e alguns dos seus colegas tiveram de regressar a pé para casa, por não terem lugar em microletes “a abarrotar” ou, por algumas vezes, os condutores recusaram-se a transportá-los. Sobre esta recusa, a estudante acredita que se deve ao facto de “alguns estudantes não pagarem e, depois, os condutores acham que somos todos iguais”.

João de Jesus Exposto, condutor da microlete 010 há mais de cinco anos, queixa-se precisamente da falta de civismo de alguns passageiros. “A maioria dos estudantes não paga ou paga menos do que é suposto, por isso, prefiro transportar outras pessoas. Muitos fogem no momento de pagarem e outros, quando pagam, atiram-nos o dinheiro para cima”. O valor fixado para os estudantes é de 15 centavos, enquanto o valor cobrado aos outros utilizadores é de 25 centavos.

“Os estudantes querem apanhar a microlete todos juntos, em grupos de amigos às vezes de mais de cinco ou seis, mas isso é impossível, porque temos sempre muitos passageiros”, explicou o condutor. Para além disso, “preferem as microletes novas, com boa música e um condutor bonito”, confessou entre risos, referindo-se a quem quer circular nas viaturas ainda mais concorridas.

Também Frenqui Tilman de Lima, condutor da microlete 09, revelou que, muitas vezes, se recusa a transportar estudantes, por só terem de pagar 15 centavos em vez de 25. “Tenho de entregar 20 a 25 dólares por dia ao meu patrão (o dono da microlete), mesmo quando o preço do combustível aumenta”, sublinha o jovem de 29 anos, que nos melhores dias consegue faturar no máximo 45 dólares.

Para além disso, “os estudantes não respeitam os condutores. Não pagam nem avisam que não vão poder pagar. Até percebo que não tenham dinheiro, mas, pelo menos, podiam ser bem-educados, só que nem isso”. O condutor explicou que à medida que vai reconhecendo as caras dos que assim procedem, “no dia seguinte, já não os transporto.”

Domingos Sufa conduz a microlete 03 há mais de um ano. Garantiu ao Diligente que não seleciona passageiros. “Seja quem for, vai pagar, mesmo que paguem quantias diferentes, porque percebo que os estudantes não tenham condições financeiras.” No entanto, está consciente que, ao contrário de si, alguns dos seus colegas não querem transportar os estudantes, “porque pagam menos do que os outros passageiros.”

Questionado pelo Diligente relativamente a estas queixas, o responsável da Direção Nacional de Transportes Terrestres (DNTT), António da Costa, explicou que quem for vítima de discriminação por parte dos condutores, deve fazer queixa à DNTT. “Quaisquer passageiros, sobretudo estudantes, a quem os condutores recusem transporte, devem apresentar queixa, identificando as microletes em causa para que possamos atuar. Sem provas, não podemos fazer nada.”

Relativamente à circulação das microletes na capital, o diretor da DNTT defende que “por norma, funciona bem.” No entanto, não esconde que “ultimamente, tem havido alguns problemas devido à subida do preço do combustível”. Nesse sentido, aproveitou para recordar que está ainda por cumprir “a promessa do Governo de atribuir subsídios aos condutores, que ainda não receberam nada.”

Apesar de alguns proprietários terem solicitado à DNTT o aumento do número de veículos em circulação, António Costa considera que “as microletes que circulam na capital são suficientes”, principalmente tendo em conta que estes transportes “só ficam lotados em determinados horários, nomeadamente quando as pessoas vão trabalhar, das 7h30 às 8h, e quando regressam a casa entre as 17h e as 18h.”

Esclareceu ainda que a DNTT “não inspeciona o horário de circulação das microletes, porque os transportes registados na DNTT são privados, pelo que, os horários são definidos pelos condutores e/ou pelos proprietários.”

Por último, admitiu que a DNTT ainda não investigou profundamente todos estes casos. “O número de funcionários é escasso e não conseguimos dar resposta a todas as situações”, justificou. Por outro lado, “ainda não existe uma associação fiscalizadora do serviço de transportes públicos, logo, é muito difícil controlá-los.”

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  1. Eu não sei bem, qual é o trabalho principal da DNTT?

    Dizem que há muito trabalho, dizem que não podem responder a todas as questões. Quais as questões ? mil?
    Acho que a resposta do diretor é um sinal de ele não entende bem o que deve fazer, ou não se quer focar no seu trabalho ou está a focar só num destes trabalhos que ele deve fazer, segundo o estatuto do MTC:

    a) Preparar e desenvolver, em colaboração com outros serviços e entidades públicas competentes, a elaboração e imple-mentação do plano rodoviário nacional, para ser aprovado superiormente;
    b) Desenvolver o quadro legal e regulamentar das actividades do sector dos transportes terrestres, incluindo as normas técnicas sobre segurança que devem ser observadas no transporte de passageiros e de mercadorias;
    c) Manter e gerir o sistema nacional de registo de todos os veículos, incluindo a atribuição de matrícula;
    d) Apreciar e aprovar os pedidos de abertura de escolas de condução privadas, bem como licenciar e fiscalizar as actividades do sector dos transportes terrestres nos termos legais;
    e) Colaborar com as autoridades policiais na fiscalização, im-plementação e cumprimento da legislação rodoviária, incluindo a inspecção de veículos;
    f) Cumprir e fazer cumprir as leis, regulamentos e outras dispo-sições legais na área dos transportes terrestres;
    g) Quaisquer outras que lhe sejam atribuídas por lei.

    Muito trabalho????

    falta de capacidade para dezenvover as suas tarefas, creio eu.

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