Outubro Rosa: mulheres timorenses previnem-se contra o cancro da mama?

Deteção numa fase inicial eleva para 95% as chances de sucesso do tratamento/Foto: Diligente

O desconhecimento e o medo de ir ao médico contribui para o diagnóstico tardio do tumor – o tipo mais comum em Timor-Leste –, o que diminui as possibilidades de cura.

Outubro Rosa é o movimento internacional de consciencialização da prevenção do cancro da mama, que é o tipo de tumor mais frequente nas mulheres de todo o mundo. Em 2020 (dados mais atuais), a Organização Mundial de Saúde (OMS) diagnosticou 2,26 milhões casos. No mesmo ano, 685 mil cidadãs perderam a vida vítimas da doença.

O estudo revelou que, em Timor-Leste, o cancro de mama é o mais prevalente, sendo responsável por 15% do total de registos. É, ainda, o quarto tipo de tumor que mais mata no país.

De acordo com a organização Médicos do Mundo, o diagnóstico precoce é muito importante, uma vez que a deteção numa fase inicial eleva para 95% as hipóteses de sucesso no tratamento.

Uma das maneiras de se identificar o problema é através do autoexame, que pode ser feito por qualquer mulher e que consiste na observação e apalpação da mama. Qualquer suspeita de anormalidade, como um nódulo, dor persistente, alterações na pele ou nos mamilos, deve ser relatada a um profissional de saúde para avaliação e acompanhamento adequados.

O Diligente foi à rua saber se as cidadãs estão conscientes da prevenção do cancro da mama.

“O cancro da mama, causado por muitos fatores e hereditário, afeta maioritariamente as mulheres. É melhor fazer um rastreio da doença para cuidar do nosso corpo”

Maria Odete de Carvalho, 21 anos, estudante de Ciência da Saúde no Instituto Superior Cristal (ISC)/Foto: Diligente

“O cancro da mama, causado por muitos fatores e hereditário, afeta maioritariamente as mulheres. É melhor fazer um rastreio da doença para cuidar do nosso corpo. Eu ainda não fiz o rastreio, mas estou a pensar fazê-lo depois do estágio. Às vezes, as mulheres têm vergonha de fazer o teste, porque é uma parte sensível do corpo e porque, por vezes, são homens que nos atendem, mas não devemos ter vergonha, porque nos pode custar a vida.

O Governo, aproveitando o mês internacional de prevenção do cancro da mama, deve sensibilizar as pessoas, nomeadamente as mulheres, para a prevenção da doença.”

“O medo pode matar”

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Martinha Alves, 49 anos, vendedora no jardim de Bidau Lecidere/Foto: Diligente

“Não sei o que é o cancro da mama. Só ouvi dizer que a minha tia teve dores na mama e foi operada no hospital de Baucau, há dez anos. Muitas mulheres sentem dores na mama, mas não querem ir ao hospital, porque têm vergonha que os médicos toquem no seu corpo. Isto não pode ser, porque às vezes o medo pode matar. Quando sentimos dor nas mamas, temos de ir ao médico para fazer rastreio, identificar a doença e receber o tratamento necessário. Seria melhor fazemos isto o quanto antes. Muitas mulheres morreram por causa desta doença.

A minha sugestão é que, uma vez que ainda há falta de recursos humanos qualificados e materiais em Timor-Leste, o Governo leve as mulheres que sofrem desta doença para o estrangeiro para fazer tratamento.”

“Esta doença não afeta só mulheres adultas, mas também as jovens”

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Cristina Filipe, 34 anos, vendedora e mãe de três filhos/Foto: Diligente

“Ainda não tenho conhecimento sobre a prevenção do cancro da mama, porque nunca recebemos formação sobre o assunto, mas sei que muitas mulheres têm dores nas mamas e muitas morrem por causa desta doença. Nunca fui ao hospital para fazer o rastreio, porque não sinto dores, mas no futuro, se sentir, vou fazê-lo. Não tenho vergonha de fazer o teste, desde que isto me ajude a detetar a doença e salve a minha vida.

Peço ao Governo, através do Ministério da Saúde, que trabalhe eficientemente para salvar a vida das mulheres. Esta doença não afeta só mulheres adultas, mas também as jovens.”

“Espero que as mulheres não fiquem caladas, nem esperem que o cancro cresça para irem ao hospital”

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Natália de Araújo, 26 anos, licenciada em Direito pela Universidade de Díli/Foto: Diligente

“Não sei exatamente o que é o cancro de mama, mas acho que as pessoas devem ir ao hospital para receber apoio médico.

Esta doença pode causar a morte, por isso devemos estar conscientes de que os centros de saúde são importantes para nos tratar. Espero que as mulheres não fiquem caladas, nem esperem que o cancro cresça para irem ao hospital. Devem dirigir-se aos centros de saúde ou ao hospital o quanto antes.

Às vezes, muitas mulheres não vão fazer o rastreio, por falta de informação sobre o impacto da doença e porque muitos timorenses só fazem exames quando têm dores. Os médicos devem partilhar informações básicas sobre o cancro da mama para que as mulheres tenham consciência do que devem fazer.”

“A maioria das mulheres tem vergonha de falar no assunto por causa do estigma e preconceitos da sociedade. As pessoas não falam neste assunto em público, porque consideram que é delicado”

Maria do Céu, 28 anos, vendedora da Obralan marka diak (preferiu não divulgar a foto)

“O cancro da mama já matou muitas mulheres. A maioria tem vergonha de falar no assunto por causa do estigma e preconceitos da sociedade. Penso que isto acontece por falta de educação sexual. É muito importante que as mulheres vão ao médico para terem um diagnóstico precoce. Não se pode ter medo ou vergonha. Quando sinto dores nas mamas, vou à clínica e faço o exame. Já fiz mamografias muitas vezes.

Peço ao Governo que trabalhe em conjunto com a Fundação Alola para sensibilizar a sociedade para os riscos da doença, reduzindo, assim, as mortes. Por outro lado, o Governo tem de investir em recursos humanos especializados e em recursos hospitalares para que as mulheres se sintam seguras para ir ao hospital.”

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