Organização Mundial de Saúde avalia risco de incidência de raiva em Timor-Leste como “elevado”

Cães estão a ser vacinados em Oécusse, Covalima, Bobonaro e Díli, informou o Governo/Foto: ILRI-Flickr)

Até 26 de março deste ano foram registados 29 casos suspeitos de raiva em humanos, com exposição a cães. Todos são de Oécusse. Uma pessoa morreu devido à doença viral.

A grande quantidade de cães de rua e não vacinados, a reserva insuficiente de imunizantes para humanos nos hospitais públicos, o conhecimento limitado dos profissionais de saúde sobre como lidar com a doença em pessoas, serviços veterinários inadequados e a falta de campanhas regulares de vacinação canina são alguns dos principais fatores que levaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) a avaliar o risco de incidência da raiva em Timor-Leste como “elevado”, segundo o boletim divulgado na última quarta-feira (10.04), na página oficial.

A raiva é uma doença viral que afeta o sistema nervoso humano e pode ser fatal, sendo transmitida através da mordida ou arranhão de um animal infetado, geralmente cães. Os sintomas podem levar semanas ou meses para se manifestarem no corpo, dependendo da gravidade do ferimento.

Embora o país seja classificado como livre de raiva, desde o início deste ano até 26 de março 29 casos da doença em humanos, com exposição a cães, são tratados como suspeitos. Todas as vítimas são de Oécusse e receberam vacina contra o tétano e profilaxia pós-exposição à raiva, “no entanto, o soro imunoglobulina não pôde ser fornecido porque estava em falta”, cita o boletim da OMS. O referido soro é administrado para proteção imediata do paciente, enquanto a vacina estimula o sistema imunológico a produzir sua própria resposta de anticorpos a longo prazo.

No dia 22 de março, uma mulher de 19 anos faleceu no Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV) devido à infeção pelo vírus, confirmou o Ministério da Saúde. Depois de ser mordida na mão por um cão a 26 de dezembro do ano passado, em Oécusse, a jovem não recebeu medicamentos ou tratamento. O animal, que segundo investigação era muito agressivo e não terá mordido mais ninguém, foi morto e enterrado a 27 de dezembro.

De acordo com a OMS, a 20 de março, a paciente foi a um centro de saúde local com sintomas, incluindo febre alta, vómitos, dor de garganta, tosse, dificuldade em engolir alimentos, hidrofobia, fotofobia, dor nas costas e rigidez no pescoço. Na data seguinte, foi transferida para o Hospital Nacional Guido Valadres (HNGV), em Díli, mas não resistiu a uma paragem cardíaca e foi declarada morta um dia depois.

Oécusse, um enclave de Timor-Leste, está localizado dentro da província de Nusa Tenggara Oriental (NTT), na Indonésia, onde a raiva é endémica tanto em cães como em humanos, informa a OMS. A cobertura atual de vacinação de cães em NTT é de apenas de 5,5% e no país, em 2022, foi de 24% – a OMS avalia como aceitável uma percentagem de, pelo menos, 70%.

Neste sentido, a instituição sugere que sejam tomadas medidas de controlo para limitar a circulação de animais, principalmente os não vacinados, nessa região de fronteira. A OMS acrescenta que distribuiu, para hospitais e clínicas de Timor-Leste, mil doses de vacinas contra a raiva para pessoas.

“A colaboração entre o Ministério da Saúde de Timor-Leste e a OMS está em curso para fornecer vacinas antirrábicas adicionais e soro imunoglobulina contra a raiva”, relata a OMS.

Precauções

Em resposta, o Governo informou que deu início à vacinação de cães nas principais zonas de fronteira com NTT, como Oécusse, Covalima e Bobonaro. A capital, Díli, também está incluída nesta ação. Segundo as autoridades timorenses, até ao momento, 70% dos 49.960 animais registados nas regiões foram vacinados contra a raiva.

Contudo, devido ao grande número de cães sem dono a vaguearem pelas ruas, a quantidade real dos animais no país pode ser bem superior.

O Governo também proibiu o transporte de cães de Oécusse, Covalima e Bobonaro para os outros municípios. A vacinação dos animais está a ser feita por profissionais da Secretaria de Estado de Pecuária, com o apoio da OMS e das autoridades locais.

O diretor de Apoio Diagnóstico e Terapêutico do HNGV, Vidal de Jesus Lopes, afirmou que a unidade está pronta para prestar os devidos cuidados médicos a alguém que tenha sido mordido por um cão ou esteja infetado com raiva.

“Apesar de Timor-Leste ser considerado como um país livre da doença, estamos preparados para atender os pacientes. Quanto antes o paciente procurar atendimento, melhor”, sublinhou o médico, acrescentando ainda que o HNGV possui imunizantes contra a doença para humanos.

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  1. Cheio de raiva mas nao sou cao!

    Acordo de manha no nosso rincao
    Quero matabixo mas nao tenho pao
    Vivo de tristeza e ilusao
    Alimento-me da brisa do subao
    Afogo as magoas com tuaca, “nosso Dao”
    Cheiro apetitoso da padaria Brasao
    Fecho as narinas, nao tenho um tostao
    Passo pelo mercado, vejo melao
    Bife, batatas e ovo estrelado, sonho em vao
    Oh Ze gozao
    Oh Ze aldrabao
    Fico sentado para me dares a mao
    Sou simplesmente ZE CIDADAO
    Ladro, mas nao mordo nao
    Cheio de raiva, mas nao sou cao!

    Ze Aco Raivoso
    Poeta dos caninos de TL

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