Natalina Gouveia, a agricultora que superou preconceitos e dedica a vida à terra

Natalina Gouveia na colheita da mostarda/Foto: DR

Jovem lidera um grupo de agricultores que cultiva alimentos em Covalima, usando a atividade como fonte de rendimento e ajudando a comunidade.

Com o objetivo de ter um rendimento diário, mesmo que fosse pouco, Natalina Gouveia, 29 anos, decidiu regressar ao seu município, Covalima, depois de terminar os estudos na Universidade Oriental Timor Loros´ae (UNITAL), em 2020. Juntou-se a outros três agricultores (dois homens e uma mulher) e criaram o grupo de Horticultura Zuvana Ocra.

Natalina Gouveia, convicta do potencial do setor agrícola no país, decidiu dedicar-se a esta área, mesmo tendo terminado os estudos no departamento de Informática. A jovem é dona de um terreno (de 60m x 30m), na sua terra natal.

A responsável confessou que, no início, não havia dinheiro, pelo que cada membro do grupo deu 50 dólares para iniciar o trabalho, perfazendo 200 dólares. Com o valor, o grupo decidiu cultivar apenas mostarda e espinafres, em 15 viveiros. A primeira colheita, ainda em 2021, rendeu 400 dólares – o que animou os jovens agricultores, apesar de considerarem o resultado não muito expressivo. “Queríamos produzir mais”, disse ela.

Em 2022, com a intenção de aumentar os lucros, o grupo apresentou uma proposta à Secretaria de Estado da Formação Profissional e do Emprego (SEFOPE) e obteve o apoio de 6.190 dólares. Com este dinheiro, decidiram aproveitar todo o terreno.

Com a quantia, adquiriram adubos, equipamentos e até um trator. Plantaram, além de espinafres e mostarda, beringela, alface, tomate e melão. Até ao momento, já conseguiram 200 dólares e a estimativa é de que, com a colheita completa dos produtos, até ao fim do ano, obtenham, pelo menos, dois mil dólares. Nos anos seguintes, a expetativa é de aumentar a produção e os lucros.

O grupo explicou que só trabalha durante o tempo seco, ou seja, de julho a novembro. No período da chuva, o terreno fica alagado, não sendo possível a sua utilização para a agricultura. A colheita da mostarda e espinafres pode ser feita de mês em mês, enquanto que a do alface, tomate, beringela e melão pode levar até três meses de espera.

Cultivo de melão na Horticultura Zuvana Ocra/Foto: DR

“Ela não manda, ela faz e dá o exemplo”

O censo de 2022 não tem informações detalhadas sobre a agricultura em Timor-Leste, mas, em 2019, o Governo realizou um censo agrícola. O levantamento revelou que, de 213.417 famílias analisadas, 66% dependem da agricultura. Desses agrupamentos familiares (aproximadamente 141 mil) que vivem no campo, 85% são liderados por homens e apenas 15% por mulheres.

Natalina Gouveia, portanto, representa a minoria feminina que encabeça o desenvolvimento de práticas agrícolas em Timor-Leste. Como líder do grupo, considera que, às vezes, muitas pessoas não acreditam que as cidadãs podem ser as responsáveis pelo cultivo de alimentos – ou de qualquer outra atividade de chefia.

“Eu sou a prova de que este tipo de pensamento é puro preconceito. As mulheres podem e devem fazer o que quiserem”, enfatizou.

Mãe de uma menina de três anos, a agricultora ensina à filha, desde cedo, o valor da terra. Muitas vezes, a criança acompanha-a durante o trabalho nos viveiros. Natalina Gouveia não tem outro emprego e dedica a sua vida ao trabalho na agricultura.

Zolla Pacheco, agricultor que faz parte do Horticultura Zuvana Ocra desde 2020, ressaltou que a jovem “tem uma ótima capacidade para gerir grupos” e “é uma boa pessoa que nos motiva sempre”. “Ela não manda, ela faz e dá o exemplo”.

O agricultor destacou ainda o facto de Natalina Gouveia partilhar sempre os seus conhecimentos com os colegas, quando participa em ações de formação, em Díli ou em Covalima.

Um dos clientes do grupo é Rosalino dos Santos, 36 anos, que compra os produtos com regularidade, “por serem frescos e os preços justos”.

Rosalino dos Santos acrescentou que, antigamente, tinha de andar algumas horas até ao mercado para comprar legumes, mas agora já não precisa de o fazer. “Quando chega a hora do almoço ou do jantar, vou ao grupo da Natalina Gouveia e compro tudo intacto, com muita qualidade”. O jovem gostaria que mais pessoas se dedicassem à agricultura, porque a atividade beneficia a comunidade local.

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