Mercados de Taibessi e Manleu e a esperança por uma vida melhor

No país, os mercados de Taibessi e Manleu são os únicos nacionais: não há espaço para toda a gente que quer trabalhar /Foto: Diligente

O Diligente esteve nos respetivos espaços, que absorvem uma grande quantidade de cidadãos sem emprego formal, para saber como os trabalhadores têm encarado as dificuldades, e o que pensam sobre toda a situação.

Espaços insuficientes levam os comerciantes a vender os seus produtos nos passeios, debaixo de guarda-sóis, onde se abrigam do sol e da chuva, enquanto tentam ganhar a vida. Quando chove com maior intensidade, às vezes, são obrigados a procurar abrigo nos quiosques ou em casa de alguém. Nos fins de semana, com os parques de estacionamento lotados de outros vendedores que chegam, os problemas agravam-se.

Este é o cenário dos trabalhadores dos mercados de Taibessi e de Manleu, dois dos principais de Timor-Leste, onde se encontra de tudo: de peças de roupas a alimentos. Situados na capital, Díli, os lugares são, para os homens e mulheres que ali dividem o ambiente, a esperança derradeira para conseguir ganhar algum dinheiro e tentar ter uma vida melhor.

No país, as faltas de oportunidades empurram os cidadãos para trabalho como vendedores de produtos nos mercados – cada vez mais sobrelotados e com infraestruturas comprometidas. Em Taibessi, as más condições das casas de banho exigem que os vendedores paguem a familiares que vivem perto para que possam utilizar as suas instalações sanitárias. Já no mercado de Manleu, os comerciantes tiveram de tirar dinheiro do próprio bolso para reparar uma casa de banho, já que a outra estava tão avariada que o conserto sairia muito caro.

Na semana passada, o Secretário de Estado do Assunto Toponímia e Organização Urbana (SEATOU), Germano Santa Brites Dias, juntamente com a Autoridade do Município de Díli, determinaram que os negociantes de Aimutin e Bidau se deveriam mudar para os mercados de Taibessi e de Manleu. O secretário também informou que está a analisar os terrenos à volta dos mercados de Manleu e Taibessi, com vista a uma possível ampliação – sem qualquer previsão ou maiores detalhes.

Enquanto isso, os trabalhadores seguem a rotina, na esperança de que a vida amanhã possa ser melhor do que é hoje. O Diligente esteve nos respetivos mercados para saber como os trabalhadores têm encarado as dificuldades, e o que pensam sobre toda a situação.

“Vendo plásticos para podermos sobreviver, não há outros trabalhos. Já procurei, mas não encontrei. Em Timor-Leste, quase não há empregos”

 

Bendito Soares, 35 anos, vendedor em Taibessi/Foto: Diligente

“Tenho três filhos pequenos, uma menina entrou este ano para a escola. Vendo plásticos para podermos sobreviver, não há outros trabalhos. Já procurei, mas não encontrei. Em Timor-Leste, quase não há empregos.

Não posso vender dentro do edifício que o governo construiu, porque não cabemos todos. Então fico aqui, debaixo do guarda-chuva. Se chover muito, abrigo-me num quiosque ou na casa de alguém.

Normalmente, os funcionários do mercado não nos deixam vender aqui, sobretudo de segunda a sexta-feira. Contudo, aproveitamos as horas em que eles não vêm para vender. Se vierem, temos de arrumar rapidamente os nossos produtos e sair daqui.

Quando temos de ir à casa de banho, temos de ir a casa de alguém que viva perto. Pagamos 25 centavos para fazer as necessidades básicas, 50 para tomar banho e um dólar para lavar roupa.

Agora, o governo quer mudar alguns vendedores dos mercados locais para o mercado nacional, que já está lotado, falta água e as casas de banho estão inoperacionais.

Sei que não vão ouvir as minhas críticas, mas acho importante que se prepare primeiro um espaço digno, com condições básicas, com casas de banho e água, para que possamos trabalhar. Não pedimos mais nada.”

“São sempre os familiares dos que estão a recrutar que são selecionados. Então, é melhor vender roupa em segunda mão para ganhar algum dinheiro”

Um grupo de vendedores em Manleu que não quer revelar a identidade.

“Sabemos que o mercado é público, o que significa que qualquer vendedor pode usar o espaço, mas não há condições. As casas de banho não funcionam e uma delas até já fechou. A outra nós é que juntamos dinheiro para a reparar. O espaço já está sobrelotado, os vendedores que vieram de Aimutin estão sem abrigo. Se calhar, o Governo deu algum apoio, mas pelos vistos só forneceu tendas.

Em Timor-Leste, para trabalharmos em algo simples há muita burocracia, temos de ter dois anos de experiência. Como é possível uma pessoa ter experiência, se todas as vagas têm esse requisito? Se não nos dão uma oportunidade, nunca ganharemos experiência. Na verdade, são sempre os familiares dos que estão a recrutar que são selecionados. Então, é melhor vender roupa em segunda mão para ganhar algum dinheiro.”

“Os vendedores de roupa em Aimutin cooperam com os negociantes no mercado de Manleu. Não há disputa do espaço, porque entendemos a situação. Agora, o Governo precisa de acelerar a construção do novo espaço para garantir boas condições para os comerciantes”

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João Godinho, 53 anos, vendedor de roupas no mercado de Manleu/Foto:Diligente

“Não temos água, nem casas de banho e o espaço não é suficiente para os nossos colegas vendedores que o Governo transferiu para aqui. No entanto, o Governo está a ver os terrenos perto do mercado para alargar o espaço. Os colegas estão provisoriamente a utilizar tendas, mas não são boas, porque quando chove as roupas ficam molhadas. Além disso, o mercado fica sempre inundado. Os caixotes do lixo também não são suficientes.

O Governo precisa de criar regras e colocar os vendedores que vendem na beira da estrada num mercado, de modo a garantir o nosso rendimento.

Antes, de 2002 a 2006, trabalhei na Organização Internacional de Migração (IOM) e na Organização Mundial da Saúde (OMS). Depois da crise de 2006, trabalhei no Ministério da Solidariedade Social e terminei o contrato em 2018. Tenho responsabilidade de sustentar a minha família, então, em 2018, abri o negócio em Comoro e depois o Governo mudou-me para o mercado de Manleu. Tenho quatro filhos. Dois estão a estudar na universidade, um está no Instituto de Tecnologia de Díli (DIT), outra está na Universidade Nacional de Timor Lorosa´e (UNTL) e os outros frequentam o 2º ciclo em Canossa.

Os vendedores de roupa em Aimutin cooperam com os negociantes no mercado de Manleu. Não há disputa do espaço, porque entendemos a situação. Agora, o Governo precisa de acelerar a construção do novo espaço para garantir boas condições para os comerciantes.”

“Antes, ganhávamos cerca de 15 dólares americanos por dia, agora, no máximo, conseguimos cinco dólares e alguns produtos estragam-se. Mesmo assim, tenho de continuar aqui, porque não tenho outro emprego e preciso de sustentar a minha família”

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Nina Barros, 25 anos, vendedora no mercado de Taibessi/Foto: Diligente

“Antes, as condições do mercado de Taibessi eram muito boas e havia muitos compradores. Agora, não temos água, as casas de banho estão inutilizáveis e há falta de clientes. São problemas que já duram há muito tempo e nunca são resolvidos. Quando precisamos de ir à casa de banho, temos de pagar aos donos das casas que ficam aqui perto.

Alguns vendedores têm de vender no parque de estacionamento, porque não há espaço para todos. Muitas vezes, os vendedores que vendem no interior do edifício também saem para vender lá fora. Esta situação impede-nos de ganhar dinheiro.

Antes, ganhávamos cerca de 15 dólares americanos por dia, agora, no máximo, conseguimos cinco dólares e alguns produtos estragam-se. Mesmo assim, tenho de continuar aqui, porque não tenho outro emprego e preciso de sustentar a minha família.”

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