Há 48 anos, militares do país vizinho invadiram Timor-Leste pelo ar, terra e mar, dando início a uma ocupação que durou 24 anos e deixou milhares de vítimas mortais.
A 25 de abril de 1974, o movimento conhecido como Revolução dos Cravos, formado por civis e militares, colocou fim à ditadura militar em Portugal, que já durava 41 anos. Como consequência, as então colónias do país, como Timor-Leste, passaram a buscar a autodeterminação.
A Frente Revolucionária de Timor-Leste (FRETILIN) proclamou, a 28 de novembro de 1975, unilateralmente, a independência do país em relação ao Estado português. Passados nove dias, o território timorense foi alvo de uma outra invasão, dessa vez pelo país vizinho: militares indonésios chegaram a Díli por ar, terra e mar.
O dia 7 de dezembro marcou a história de Timor-Leste, que de 1975 a 1999, viu o seu povo ser perseguido, torturado e morto pelas forças indonésias. O Governo de Timor-Leste instituiu a data como dia dos Heróis Nacionais, de forma a homenagear todos os que se sacrificaram pela libertação da pátria – oficialmente obtida a 20 de maio de 2002, dia que marca a restauração da democracia no país.
Na altura em que se assinala 48º aniversário desse acontecimento, o Diligente conversou com alguns cidadãos que testemunharam o momento em que Timor-Leste foi invadido pelos militares indonésios.
“A nossa situação era semelhante à da Palestina agora, corpos desmembrados por todo o lado. Os militares atiravam os corpos de crianças e adultos ao mar no porto de Díli”
“Na altura, tinha 18 anos, era estudante e trabalhava na secção de manutenção, responsável pela distribuição de alimentos aos membros das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL), mas peguei na arma para defender este departamento. Na noite de 6 de dezembro, o Sr. Jaime de Oliveira telefonou ao saudoso Francisco Xavier Amaral e disse que o presidente norte-americano já tinha chegado à Indonésia e tinha autorizado o presidente Suharto a invadir Timor-Leste.
Às quatro horas da madrugada, chegaram quatros aviões que deram a volta na direção do Cristo Rei e Fatuahi. Na altura, o comandante em chefe, o saudoso Nicolau Lobato, não autorizou que disparassem contra os aviões, mas Ologari atirou contra as forças indonésias. Naquela madrugada, chegaram muitos aviões, que deixaram os militares paraquedistas em vários pontos de Díli, como Quintal Boot, Vila Verde e outros.
Em Quintal Boot, algumas mães conseguiram matar alguns militares indonésios. Alguns grupos das forças indonésias chegaram mal preparados e as mulheres bateram-lhes e conseguiram tirar-lhes cerca de 40 armas. O comitê central da FRETILIN começou a evacuar para a montanha. Na altura, acompanhava o comandante Leonardo Alvez “Rama Hana” e fomos para Maloa.
Éramos estudantes e gostávamos de pegar em armas, sabíamos usá-las. Recebemos armas em Taibessi e fomos todos para a montanha. A nossa divisão foi para Mertutu, um lugar em Ermera, depois avançamos até Aileu, Ainaro e Laclubar.
Considero a invasão e a ocupação ilegais. De acordo com a resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1960, quando um país colonizado proclama a sua independência, os outros países não podem intervir. Porém, a Indonésia invadiu-nos na mesma.
As FALINTIL saíram da capital, mas muita gente que ficou morreu, porque as bombas não esperam por ninguém. A nossa situação era semelhante à da Palestina agora, havia corpos desmembrados por todo o lado. Os militares indonésios atiravam os corpos de crianças e adultos ao mar no porto de Díli.
Se o Governo indonésio queria anexar Timor-Leste como sua província, não devia bombardear-nos como fez. Não produzimos armas de guerra, mas os militares chegaram em grande força e escala, o que nos revoltou e fez com que resistíssemos até 1999, altura em que se realizou o referendo.
Infelizmente, a pátria já libertámos, mas o povo ainda não, porque continua a viver na pobreza. Para libertar o povo, o Governo de Timor-Leste precisa de melhorar o sistema e as leis que ainda continuam a impedir o desenvolvimento económico do país.”
“A invasão indonésia é uma memória difícil, porque muitas pessoas foram mortas e perseguidas. Temos de homenagear todos os heróis que se sacrificaram pela independência do país”
“Na madrugada de 7 de dezembro, começámos a ouvir tiros em Díli, os militares indonésios começavam a dominar a cidade e estavam em todos os cantos. Na altura, estava em casa, tentei voltar para a minha companhia em Balide, mas o meu avô não me autorizou e disse que se eu passasse nos locais que o inimigo já tinha ocupado, iria morrer.
Fiquei, então, com o meu avô em casa, enquanto os militares indonésios continuavam a disparar no Quintal Boot e em Caicoli. Os habitantes destes locais também mataram algumas forças da Indonésia que saltaram de paraquedas. Na tarde do dia 7, as pessoas de Caicoli passaram por Balide aos gritos a dizer que tínhamos de sair dali, caso contrário morreríamos.
Os nossos vizinhos saíram e nós também fugimos para Dare, mas havia muita gente, por isso, decidimos ir até Lahane. Lá, passou alguém com um altifalante a anunciar que o povo podia voltar para a cidade e quem tivesse força deveria ir para a montanha para continuar a lutar contra os militares indonésios.
No dia seguinte, decidi voltar a Díli, porque tinha de ir à companhia onde trabalhava. Quando cheguei, não estava lá ninguém. Troquei o uniforme por roupa normal, passei por Caicoli, onde fui barrado pelos militares indonésios que me perguntaram onde estavam as pessoas da FRETILIN, não disse nada e acabaram por me deixar voltar para casa.
A invasão indonésia é uma memória difícil, porque muitas pessoas foram mortas e perseguidas. Temos de homenagear todos os heróis que se sacrificaram pela independência do país. O Governo precisa, agora, de melhorar a vida da população, dar atenção aos cidadãos que necessitam de apoio e garantir campo de trabalho para os nossos jovens”.
“Ser um país independente era um desejo de todos os nossos avós, como filhos tínhamos a obrigação de dar continuidade a esse desejo, mesmo que os inimigos tivessem mais armas do que nós, estávamos convictos de que Timor-Leste seria um país soberano e independente”
“Depois da revolução dos cravos em Portugal, a 25 de abril de 1974, a FRETILIN proclamou a independência de Timor-Leste, a 28 de novembro de 1975. Passados alguns dias, deu-se a invasão indonésia, que resultou na morte de muitas pessoas, sobretudo em Díli.
Antes da invasão, viajámos de Díli para a parte leste, Baucau, Viqueque e Lospalos, para fazermos uma operação militar. Depois de fazermos resistência naquelas zonas, pretendíamos voltar para continuar na fronteira, em Batugadé, mas não conseguimos, porque os militares indonésios começaram a invadir Díli e Baucau.
Os militares chegaram a Timor-Leste quando eu ainda estava em Venilale, Baucau. Não sei como foi na capital, mas em Baucau vimos os aviões a deixarem os paraquedistas no aeroporto, no dia 10 de dezembro. Quando chegaram, disparámos contra eles e fugimos para Viqueque. Aí, fomos perseguidos pelas forças militares inimigas até ao bombardeamento na montanha Matebian. Muitas pessoas morreram.
Esta altura foi de grande sofrimento para o povo maubere. Fomos explorados, violados e perseguidos até à morte. O que nos motivou para continuar a resistir durante 24 anos foi a nossa ambição de independência. Ser um país independente era um desejo de todos os nossos avós, como filhos tínhamos a obrigação de dar continuidade a esse desejo, mesmo que os inimigos tivessem mais armas do que nós, estávamos convictos de que Timor-Leste seria um país soberano e independente.
Agora que somos independentes, estou triste porque os governantes, desde o primeiro Governo até agora, nunca mostraram boa vontade e seriedade para servir a população. Já se passaram 21 anos da restauração da independência e a população continua a viver na miséria, enquanto os deputados no Parlamento Nacional fazem parte de um grupo privilegiado e têm direito a uma pensão vitalícia. O Governo deve refletir e garantir uma vida digna para todos, de modo a que toda população sinta o resultado da independência.”
“Separámo-nos da nossa família e ouvimos dizer que os nossos familiares tinham sido assassinados, mas não os conseguimos ver”
“Quando os militares indonésios invadiram Timor-Leste, estávamos em Hatulia, Ermera. Os militares chegaram primeiro a Díli e depois espalharam-se por todo o território. No início de janeiro de 1976, começaram a chegar a Hatulia e levaram-nos para Ermera, porque desconfiavam que o meu marido tinha ajudado as FALINTIL.
O meu marido foi interrogado, mas não descobriram nada e acabaram por o libertar, se não teria sido morto nessa altura. Em abril, os militares desterram-nos para Aileu para ficamos longe da família e não podermos ajudar as FALINTIL.
Não fomos perseguidos, mas a desconfiança ao meu marido era contínua. Em setembro do mesmo ano, mudamo-nos para Díli. Separámo-nos da nossa família e ouvimos dizer que os nossos familiares tinham sido assassinados, mas não os conseguimos ver.”
Memorias tristes e arrepiantes!
Memorias tristes e arrepiantes
De um passado de genocidio e sofrimento
Hoje tudo como dantes
48 anos de acalento
O POVO continua a marcar passo
Os novos ricos estao cada vez mais ricacos
Jantar, rola com laco
Para todos bom Natal e abracos
Ze Pobretana
Poeta e escritor de TL
Nessa altura ja estava no hospital de Atambua, tratavam-nos como porcos num curral. Eramos guardados pelos infamosos anships e, a noite seja qual hora fosse, vinham-nos contar; satu, dua, tiga, ampat. Nem se podia dormir em paz.
Dormiamos em camas “tabuaflex” e passavamos fome. Ali permanecemos em Atambua por 13 meses. Ha, o velho ditador Suharto fez-nos uma visita. Porca miseria!
Os burgueses ricos da UDT viviam numa das ruas principals de Atambua ali pertinho de onde era o Toko Mimi. A fina flor, empastados, foram os primeiros a abalar. O “oan roko” era deveras poderoso!
A unica pessoa que nos ajudou com algumas migalhas foi o senhor Babo de Aifu, Ermera. Ele era residente da casa do dono do Toko Mimi.
O resto dos burgueses nao nos passava cartao.