Manuel Mendes: “É importante dar mais atenção ao meio ambiente, do qual a nossa vida depende”

Manuel Mendes defende um maior investimento para a defesa do meio ambiente/Foto: Diligente

O diretor nacional da ONG Conservation International falou sobre os impactos da degradação ambiental e ressaltou as potencialidades que a biodiversidade marinha pode gerar para diversificar a economia de Timor-Leste.

A Conservation International Timor-Leste (CI-TL) é uma Organização Não-Governamental (ONG) que existe em Timor-Leste desde 2012, mas já trabalha em assuntos ambientais do país desde 2009. Manuel Mendes, diretor nacional da entidade, estudou silvicultura na Indonésia.

Em entrevista ao Diligente, falou da importância da educação ambiental para as crianças de modo a mudar a mentalidade e o comportamento dos timorenses em relação ao meio ambiente.

Defendeu também um maior investimento do Governo na área ambiental. Este ano, conforme a retificação do Orçamento Geral do Estado (OGE), foram reservados 11,1 milhões de dólares americanos para a Proteção do Meio Ambiente.

O diretor também destacou o potencial da biodiversidade marinha para gerar rendimentos e impulsionar as receitas de Timor-Leste, citando projetos relacionados com a “economia azul”, como o fenómeno da migração de baleias, que acontece nos meses de outubro e novembro.

Como avalia as condições do meio ambiente em Timor-Leste?

Mesmo que esteja a ser feito um esforço para preservar o meio ambiente por parte do Governo, ONG’s locais e internacionais e a comunidade, a degradação ambiental, tanto do solo como do mar, continua a acontecer. A causa principal tem a ver com a crescente urbanização, motivada por questões económicas. Díli está cada vez mais densa, porque a população vem dos municípios à procura de trabalho. A urbanização obrigou a conversão da área florestal em residências. Tasi Tolu, por exemplo, era o habitat de aves selvagens, mas agora constroem-se casas neste lugar.

As pessoas cortam árvores para ter rendimento mais imediato, através da venda de lenha, sem pensar nas consequências que isso acarreta. Os animais que dependem destas árvores acabam por ser afetados. Também a pesca tradicional que usa compressor, bomba e veneno estraga os recifes de corais.

Timor-Leste é um país pequeno que não emite muitos gases com efeito de estufa para a atmosfera, mas é o mais afetado pela mudança climática. Podemos notar que o nível do mar subiu, atingindo algumas estradas na zona costeira. Por isso, já que não conseguimos mitigar as mudanças climáticas, precisamos de fazer adaptações. Tentámos bloquear a água do mar, por exemplo, através da colocação de pedras grandes nas praias dos coqueiros e na Areia Branca.

A seca tem dificultado o acesso a água. Muitas pessoas acabaram por cavar poços. Em Jaco, por exemplo, muitos veados morrem todos os anos por falta de água. A alta temperatura dos oceanos pode também matar os recifes de corais, diminuindo a biodiversidade marinha. Há risco de incêndios florestais, pois o longo período de seca torna as ervas inflamáveis.

O que é que a Conservation International tem feito para preservar o meio ambiente e mitigar os impactos da mudança climática em Timor-Leste?

Timor-Leste tem cerca de 1,5 milhões de hectares de terreno, em que 58% deste são área  florestal. A degradação desta área é 1,7% por ano [25.500 hectares]. Por isso, é preciso a reflorestação. É um bom começo que o Governo, juntamente com as ONG’s, estabeleça a área protegida em 15% da ilha de Timor-Leste.

Desde 2018, a Conservation International tem contribuído para a reflorestação de 500 hectares das áreas degradadas e assistido à regeneração natural de 500 hectares da área protegida. É reduzido, se comparamos com o total da área degradada. Queremos continuar a apoiar os programas do Governo que alinham com os da organização. O plano futuro é criar uma cooperação com o Governo indonésio para estabelecer um parque da paz nas ilhas que se situam na parte norte de Timor-Leste. Pretendemos ainda fazer a gestão dos crocodilos, porque estão a matar cada vez mais pessoas.

Muito se fala no potencial da economia azul que Timor-Leste possui. O que é, afinal, a economia azul e como isso pode ser bom para o país?

A economia azul é uma política que se foca na exploração do mar de forma sustentável, visando proteger, em paralelo, o ambiente. Deve ser uma meta do país, porque o mar de Timor-Leste é cinco vezes do seu terreno. É cerca de 75 mil quilómetros quadrados.

A exploração petrolífera é uma parte da economia azul, mas podemos aproveitar, de uma melhor forma, a riqueza natural que temos. Por isso, foram estabelecidas 23 pequenas áreas marinhas protegidas nas praias de Ataúro (como em Beloi, Akrema, Adara e Behau), Bobonaro e Liquiçá, e no parque Nacional Nino Konis Santana. Estas áreas poderão transformar-se em áreas turísticas e contribuírem para a conservação de recifes de corais e de outras espécies marinhas.

A biodiversidade marinha em Ataúro, sítio mais visitado pelos mergulhadores internacionais/Foto: Conservation International

Nas áreas protegidas, a comunidade é obrigada a não matar as tartarugas, não pescar e caçar para que os estragos feitos há anos possam ser diminuídos naturalmente. Com a reparação da biodiversidade marinha, o país vai conseguir atrair mais turistas e terá rendimento. A comunidade destas áreas já começa a desfrutar do negócio. Os habitantes locais cobram a quantia de dois dólares americanos por pessoa para mergulhar, nadar ou fazer snorkelling. Apenas nas praias de Beloi, em Ataúro, a comunidade consegue um rendimento sustentável de cerca de 30 mil dólares desde o estabelecimento das áreas protegidas

Entretanto, o Governo deve investir ainda no porto, nomeadamente no transporte, porque o custo é muito alto. É importante também investir na produção, nomeadamente nos navios para capturar peixe, de modo sustentável, e no aparelho de monitorização das embarcações que passam no mar de Timor.

Ainda sobre a economia azul, como é que a migração de baleias pode trazer vantagens para Timor-Leste?

A migração de baleias, o maior mamífero marinho, é um assunto muito importante para a nação, porque tem um potencial turístico único. Devemos ser gratos, pois, neste evento anual, as baleias atravessam o mar de Timor, principalmente entre Díli e Ataúro. Muitas pessoas querem assistir e nadar com o animal.

O movimento acontece em outubro e novembro, atravessando desde Lospalos até Díli e continua para Ataúro. Se entrarmos no mar, se calhar já conseguimos encontrar algumas baleias a migrarem. Elas andam em grupo, já que vivem em família como seres humanos.

Detetámos nas nossas águas cerca de 24 espécies de mamíferos, incluindo o dugongo e golfinhos, para além de baleias azuis. É uma riqueza marinha que deve ser aproveitada ao máximo. O Governo pode tornar o acontecimento num evento nacional e investir em navios de qualidade para proporcionar a melhor experiência possível aos turistas, atraindo mais visitantes. Os turistas vão ficar nos hotéis e comprar os bens do país.

Como podemos nadar com segurança e acompanhar as baleias?

Em 2020, a Conservation International desenvolveu um guião, aprovado pela Direção Nacional das Pescas, para nadar com baleias sem as perturbar. Em geral, as regras são não fazer barulho, não bloquear o caminho que as baleias vão percorrer, manter uma distância de cerca de dez metros, entre outros.

Os visitantes devem saber bem as regras antes de assistirem à migração e seria melhor serem acompanhados por profissionais de mergulho ou de pesca. Queremos que as baleias migrem livremente e sem perturbações para não atacarem as pessoas.

O que podemos fazer para preservar o meio ambiente?

A natureza não precisa das pessoas para ficar bem. Pelo contrário, a presença dos humanos piora o ambiente. Devemos parar de deitar lixo em qualquer lado, porque os resíduos sólidos e líquidos poluem o solo e o mar e, consequentemente, matam as plantas e os animais. É aconselhável não pescar com bomba e veneno para não alterar o ambiente aquático. Também nas colinas, é fundamental não cortar as plantas que protegem o solo da erosão. Para evitar estas atividades económicas destrutivas, é preciso criar mais campo de trabalho.

A educação ambiental desde a infância é essencial e deve ser realmente praticada. A Conservation International de Timor-Leste deu uma formação em Ataúro e em Lautém sobre como amar as tartarugas, conservar o lugar onde colocam os ovos e ajudar libertar os seus bebés no mar. A ONG realiza também limpeza nas praias todas as sextas-feiras, mas as pessoas continuam a sujar, o que mostra a falta de educação nas famílias. Vejo muitas vezes crianças que ficam todo o dia na rua com fisgas a matar pássaros. Como é que elas vão amar o ambiente quando se tornarem adultos?

O Governo deve tomar uma medida forte nestas situações, investindo na educação ambiental e implementando com rigor as leis sobre o ambiente. O executivo estabeleceu, em 2016, 67 áreas protegidas terrestres e marinhas, mas as pessoas continuam a fazer o que é proibido. É importante dar mais atenção ao meio ambiente, do qual a nossa vida depende. Não queremos ser como a Índia, um país tão poluído que é quase inabitável.

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Ver os comentários para o artigo

  1. Pudera TL ser como India, eles mandam foguetoes para o espaco. A gente, nem sabe fazer um foguete!
    Ha ainda quem faca a festa, lance foguetes e va apanhar as canas.
    Adivinhem quem e? Bom exercicio mental.

  2. Uma tentativa em tetum!

    Ita nian POVU, iha rai doben Timor Leste, matenek no uza ambiente kleur tia ona.
    Sei POVU la uza ambiente, aitan no sassan Maromak fo sira, ema hotu hotu mate tia ona.
    TL foin sae ussi mantolo, labele hatudo lima fuan ba povo sira nebe independente kleur tia ona. Aprende o sira hato sae diak liu.
    Maromak fo aifuan tos ba ema sira nehan lahia
    Iha situation ida nee ba politico nehan lahia.

    Ze Destentadu

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