Lojas Hakbiit Agricultura em risco de encerrar o negócio

Lojas Hakbiit Agricultura são resultado de uma parceria entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão e o Ministério da Agricultura/Foto: Diligente

Gestor da iniciativa alega não ter condições para custear espaços em Fatuhada e Timor Plaza, já que o Governo deixou de subsidiar o valor de arrendamento dos locais. Estabelecimentos comercializam produtos de 600 agricultores de todo o país, a preços acessíveis.

As lojas Hakbiit Agricultura, localizadas em Fatuhada e no Timor Plaza, estão em risco de encerrar, uma vez que no passado dia 28 de dezembro o Ministério da Agricultura, Pecuária, Pescas e Floresta decidiu não continuar a financiar o arrendamento, por considerar que o negócio já tem capacidade financeira para se sustentar.

Os produtos vendidos nos espaços, criados em 2019, provêm de 600 agricultores de todo o país, que fornecem arroz, feijão, carnes, legumes, frutas, óleo de coco, bebidas, especiarias, entre outros – comercializados a preços acessíveis. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão e o Ministério da Agricultura.

O gestor da Hakbiit Agricultura, Teobaldo da Costa Soares, contou ao Diligente que a companhia tem o propósito de promover as mercadorias locais e intensificar a produção dos agricultores timorenses.

Teobaldo Soares explica que o sistema de venda se baseia no acordo entre a loja e os agricultores, sendo que os mesmos recebem 85% do lucro e a loja fica com 15% para financiar as despesas. “Durante quatros anos, conseguimos arrecadar 2,5 milhões de dólares, dos quais 1,9 milhões voltaram para os agricultores e o restante usamos para atividades operacionais”, salientou.

No entanto, os 15% que as Lojas Hakbiit recebem, segundo o gestor, não são suficientes para fazer face aos gastos. “Um mês de arrendamento na loja em Fatuhada custa mais de três mil dólares, no Timor Plaza pagamos mais de mil. Para além disso, temos de pagar transporte, eletricidade e salários”, explicou, acrescentando que com cerca de 37 trabalhadores não têm capacidade para sobreviver sem apoios.

Teobaldo Soares destacou que durante quatro anos de existência das lojas foi possível formar uma boa clientela. “As pessoas gostam de comprar produtos locais, porque é uma forma de o dinheiro ficar no país”, frisou.

Para o gestor, o Governo tem de continuar a apoiar o negócio, porque na campanha eleitoral, “os líderes prometeram dar sustentabilidade aos nossos agricultores e é isso que a nossa loja faz: contribuímos para a sua sobrevivência”, afirmou.

Governo ainda não saldou dívida com a Hakbiit Agricultura

As lojas Hakbiit Agricultura, em 2021, forneceram produtos locais para serem distribuídos pelas vítimas da inundação de 4 de abril, cumprindo as orientações do Governo. “Já se passaram três anos e o Executivo ainda não nos pagou. Estamos com um prejuízo de 51.760 dólares americanos”, disse o gestor.

Teobaldo Soares informou que já solicitou o pagamento da dívida ao Ministério da Agricultura Pecuária Pescas e Florestas, mas até ao momento o Governo ainda não transferiu o montante, que seria um recurso importante para que a loja pudesse pagar as despesas.

Apesar das dificuldades, o gerente considera que a decisão do Governo “não vai matar a vontade dos agricultores e a loja vai procurar alternativas”. O Executivo deixou de subsidiar o arrendamento e retirou os veículos refrigerados que o Governo anterior tinha oferecido para o transporte de bens perecíveis, disse o gestor. No entanto, Teobaldo mantém-se firme e pretende alterar o sistema de modo a não prejudicar os agricultores e, ao mesmo tempo, conseguir manter o negócio aberto.

Por sua vez, Delia Palmira Soares, 29 anos, distribuidora de papaia e snacks na Hakbiit Agricultura desde 2019, não estava informada sobre a situação e vai contactar o gestor para tentar encontrar uma solução. A distribuidora afirmou que não vai permitir o encerramento do estabelecimento por considerar “que é um mercado digno para os agricultores”.

O que diz o Governo?

O titular da Direção Agro-Comércio e Cooperação do Setor Privado, vinculado ao Ministério da Agricultura Pecuária Pescas e Floresta, António Carlos Amaral, afirmou que o Governo decidiu não continuar a subsidiar a Hakbiit Agricultura devido à distribuição do rendimento e à legalidade da loja.

“Analisamos, primeiro, o rendimento da loja e, segundo a nossa avaliação, este negócio já pode ser independente. A Hakbiit Agricultura  está registada no Serviço Registo e Verificação Empresarial (SERVE) como uma companhia. Se fosse uma associação, poderíamos continuar a apoiar”, argumentou.

O diretor mostrou-se ainda contra o fecho das lojas e reforçou que cabe às partes envolvidas (agricultores e gestores) encontrar uma alternativa. “Podem, se for o caso, pedir crédito ao banco”, sugeriu.

Relativamente à dívida que o Ministério da Agricultura ainda não saldou com as lojas, esclareceu que o Governo ainda não processou o orçamento por não haver documentos comprovativos. “O Ministério da Agricultura não pode processar 51.760 dólares sem ter o contrato entre o Governo e a companhia, a lista dos agricultores que forneceram os produtos e a lista dos beneficiários”, relatou.

Neste sentido, o diretor explicou que o Ministério já pediu aos chefes de departamento do Ministério da Agricultura do Governo anterior, responsáveis por esta questão, para enviarem os documentos, mas até ao momento isso não aconteceu. “Desde setembro do ano passado que aguardamos o envio dos comprovativos para podermos incluir este valor no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2024 do Ministério da Agricultura, mas como nada foi entregue, é possível que tenhamos de aguardar pelo próximo ano”, alegou.

 

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