Apesar de poucas, iniciativas revelam que o interesse pela literatura está vivo no país e ajudam a suprir carência de espaços dedicados aos livros.
Para disseminar hábitos de leitura entre os cidadãos, livrarias e bibliotecas em Timor-Leste têm utilizado diferentes estratégias no sentido de atrair leitores.
Inaugurada há um ano em Bemori, Díli, a Great Bookshop, além de uma variedade considerável de publicações, oferece um crédito para os livros que custam mais de 15 dólares: o cliente paga 60% do valor e o restante é acertado posteriormente. No local, o visitante pode ainda escolher um livro e lê-lo à vontade, confortavelmente num dos sofás. Ao lado do espaço, funciona um café, onde com menos de um dólar se adquire uma bebida.
Joelcio Guterres, assistente da livraria Great Bookshop, sublinhou que a loja surgiu “não só para ter lucro, mas também para sensibilizar os timorenses para as vantagens da leitura e para a sua importância para a vida”.
Zifra de Sá Benevides, 27 anos, é uma das pessoas que gosta de ir à respetiva livraria e desfrutar de um momento no espaço, lendo. “Aqui, encontro livros mais atualizados e do meu interesse. Atualmente, estou a ler um livro chamado Think like a monk (Pensar como um monge, em português), que oferece muitas reflexões sobre como ver a vida e agir perante as dificuldades”, contou.
Já a I-Learn Bookstore investe na venda de obras online, atendendo, por enquanto, apenas na capital. Através das redes sociais (Facebook, Instagram e Whatsapp), os clientes escolhem um livro, que é entregue na casa da pessoa, dependendo da situação, no mesmo dia.
Para conquistar os leitores, Gerson Ximenes usa a criatividade na divulgação. “Em vez de publicarmos só a foto do livro com o preço, acrescentamos também uma breve explicação sobre a obra e isto funciona: as pessoas são atraídas pela mensagem do livro e compram”.
Na opinião dos respetivos responsáveis das livrarias, os bons resultados nas vendas mostram que há uma grande demanda, ou seja, muitos cidadãos em Timor-Leste que gostam de ler, mas que não encontravam espaços dedicados à leitura ou até onde comprar livros.
As duas livrarias revelam dificuldades em entrar em contacto com os fornecedores de livros em língua inglesa e em português. Joelcio Guterres confessa que só tem um fornecedor de livros em português, a Porto Editora. O assistente revela que se houvesse mais livros escritos em tétum e português, haveria mais leitores.
“Já tentamos procurar autores timorenses que escrevem livros. Conseguimos três: Luís Cardoso, Carlos Saky e Manuel Brito, docente da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL)”.
Gerson Ximenes, por sua vez, avalia que, no país, “as pessoas não gostam de ler porque as bibliotecas não oferecem os livros que elas precisam ou que são do seu interesse”.
A I-Learn Bookstore, enquanto não tem loja física, tem os seus livros à venda no supermercado Leader, em Bebonuk e em Bidau.
Promoção da leitura
Em Timor-Leste, há poucas bibliotecas públicas. Inaugurada em 2012, a biblioteca da ABUT, empresa que presta assistência técnica pedagógica, linguística e de reforço de capacidades, é uma delas.
“Há quase três anos, abrimos a biblioteca ao público, à comunidade. Qualquer pessoa pode vir cá para fazer o cartão de leitor e requisitar livros”, destacou a diretora, Dulce Turquel.
Sendo também a fundadora da ABUT, Dulce classificou a leitura como “essencial” para elevar o nível de literacia dos cidadãos. Na biblioteca, ler é um hábito promovido também internamente. “Temos um programa diário de 15 minutos de leitura, em que toda a equipa, o segurança, o pessoal de limpeza e os professores leem”, explicou a diretora.
Dulce Turquel acrescentou ainda que ultimamente “as pessoas não só procuram livros técnicos, mas já começam a ter interesse pela ficção, a ter prazer na leitura. As pessoas já procuram poesia, contos, ficção científica”.
Em 2012, foi aprovado um diploma ministerial que reconhece a importância da leitura e que estabelece como prioridade a criação de uma rede de bibliotecas escolares, mas ainda são muitas as escolas em Timor-Leste sem estes espaços. Já em 2017, o Governo chegou a lançar a primeira pedra para a construção da Biblioteca Nacional, porém a obra passou por vários problemas e continua sem uma previsão de conclusão.