La’o Hamutuk volta a apelar para importância de proteger negócios locais e de investir em setores produtivos, após adesão de Timor-Leste à OMC

La´o Hamutuk pede ao Governo e ao Parlamento Nacional para ter cuidado no alinhamento das políticas e regulamentos da OMC/Foto: Diligente

Pesquisadores alertam para risco de haver concorrência desigual e limitação de desenvolvimento de áreas estratégicas, como a agricultura.

A Organização Não Governamental (ONG) La’o Hamutuk, que monitoriza a utilização dos recursos públicos em Timor-Leste desde 2000, voltou a apelar às autoridades para a importância de se criar estratégias de desenvolvimento dos negócios locais e investir nos setores produtivos. A chamada de atenção foi motivada pela entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC), entidade que trata das regras que envolvem transações económicas entre as nações e promove a redução de barreiras tarifárias.

Em conferência de imprensa realizada na terça-feira (27.02) na sede da ONG, em Bebora, Díli, pesquisadores destacaram que, caso não seja dada prioridade aos trabalhadores e negociantes timorenses, correm o risco de serem prejudicados com um possível aumento de bens importados – pois não podem competir de igual para igual. A pesquisadora Eliziária Febe Gomes, na sua intervenção, observou que a política da OMC pode vir a afetar, sobretudo, os pequenos estabelecimentos, além de limitar o desenvolvimento de determinados setores, como a agricultura.

“O comércio livre só vai ser favorável para os cidadãos com mais dinheiro, para os grandes países e grandes empresas que controlam e dominam o comércio e o investimento mundial”, observou a pesquisadora.

Eliziária Gomes ressaltou que o Governo precisa de investir mais e melhor na plantação de alimentos, além de incentivar as pequenas indústrias, de modo a criar empregos para os jovens e reduzir a dependência da importação. “A agricultura é essencial para o dia a dia da comunidade nas áreas remotas. Além de resolver a segurança alimentar, contribui para o aumento do rendimento das famílias e combate à malnutrição”, argumentou.

A pesquisadora alertou o Governo para, agora que Timor-Leste é membro da OMC, esteja mais atento às regras ligadas ao comércio e investimento, de forma a não tomar decisões que sacrifiquem o povo – como por exemplo, favorecer empresas multinacionais em detrimento de negócios locais.

A adesão de Timor-Leste à OMC foi formalizada na última segunda-feira (26.02), durante a 13.ª Conferência Ministerial, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O presidente da República, José Ramos-Horta, esteve presente no evento com uma grande comitiva.

Na avaliação do chefe de Estado, a entrada do país na OMC “marca um grande passo em direção à liberalização do comércio, à integração na economia global e ao acesso aos mercados internacionais”. Para Ramos-Horta, o processo também “ajuda a promover as melhorias em andamento nas nossas infraestruturas, o desenvolvimento de capital humano e a capacidade administrativa, crescimento e diversificação económica”.

Prioridades e indiferença

Eliziária Gomes ainda observou que a projeção de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de Timor-Leste para 2023 e 2024, de 2,1% e 3,6%, respetivamente, conforme relatório do Banco Mundial, se deve aos elevados gastos públicos.

“O maior crescimento do PIB não petrolífero, desde a restauração da independência, é alto porque os grandes gastos do Governo são com construções e administração pública. Já o crescimento dos outros setores como telecomunicações, comércio a retalho, hospitalidade e agricultura não mostraram mudanças significativas desde 2002”, concluiu a pesquisadora.

Por sua vez, o pesquisador da ONG, Mariano Ferreira, enfatizou que a maioria da população que vive em Timor-Leste tem outras necessidades que vão muito além da entrada do país na OMC, e que as autoridades, apesar de terem conhecimento da situação, agem com indiferença.

“Os governantes estão a par dos problemas internos na educação, saúde, a falta de água, infraestruturas, as inundações e a agricultura, mas nada fazem. Estas são as prioridades para garantir a vida económica das famílias”, sublinhou. Acrescentou também que a situação económica do país ainda não é favorável ao ponto de competir com outras nações e classifica a adesão de Timor-Leste à OMC como “desperdício de dinheiro”.

Num comunicado, a La’o Hamutuk recomenda ao Governo e ao Parlamento Nacional que “apoiem e reforcem a educação, de forma a produzir recursos humanos qualificados e preparados. Invistam no sistema de saúde e resolvam o problema da malnutrição. Melhorem os recursos de água, saneamento e infraestruturas básicas. Desenvolvam todos os mercados em Díli e nos municípios para acolher os vendedores com segurança e dignidade.”

Array

Ver os comentários para o artigo

  1. Eles fazem ouvidos de mercador!

    Nao tem pudor
    Que horror
    O Povo sofre tamanha dor
    Seja a forca politica que for
    Eles fazem ouvidos de mercador!

    Ze Surdo
    Pueta de TL

  2. Ita labele lau hamutuk!

    Tanba politiku sira anessan eto mutuk
    Balu matan duku(r)
    Balu lahia kakutak
    Barak kidun taruto
    Ita nian Rai sira lahatene uku(n)
    Ita labele lau hamutuk!

    Mau Soko
    Pueta TL

Comente ou sugira uma correção

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Open chat
Precisa de ajuda?
Olá 👋
Podemos ajudar?