Juvita Fernandes, uma jovem empreendedora com muitos ofícios

Juvita Fernandes, a jovem empresária que criou um tempero timorense para substituir o Masako/ Foto: Diligente

Aos 24 anos, é mãe, estudante universitária e empresária. É com este último ofício que tem a ambição de contrariar um hábito timorense vindo do país vizinho: o uso do Masako, um produto indonésio para temperar a comida. Criou, por isso, o Vita’S Kaldu Lokal, com produtos locais de Timor-Leste. Qual o segredo para tanto dinamismo? “Coragem e motivação”, responde Juvita Fernandes.

Juvita não é uma mulher de um só plano para a vida. Sempre teve, pelo menos, o A, o B e o C. O sonho era ser médica. Acabou por se tornar empresária, a sua segunda opção de vida, mas estuda Química na Universidade Nacional Timor Lorosa’e.

O empreendedorismo vem de longe. Quando andava na escola primária, vendia rebuçados na sala de aula e esse, podemos dizer, foi o seu primeiro negócio. Mais tarde, em 2017, quando veio para Díli para continuar os estudos na universidade, vivia com um tio que também é vendedor, o que veio reforçar a sua veia empreendedora, em banho-maria desde o ensino secundário.

Nada parece ter sido por acaso na vida de Juvita. Até o curso de Química, que à primeira vista não parece estar ligado ao empreendedorismo. Numa unidade curricular, aprendeu a fazer sabão e perfumes. A experiência foi tão gratificante que, encorajada pelos colegas de curso, a ajudou a criar o Vita’S Kaldu Lokal.

O casamento e a maternidade inesperada foram, para a jovem, “uma das etapas mais difíceis da vida”. A filha de um ano e meio “cortou-lhe muito a liberdade”, mas obrigou-a a “crescer física e mentalmente”.

Apesar das dificuldades de gestão do tempo, acabou por ser “uma transição necessária”: “A vida é assim. Aprendemos sempre coisas novas todos os dias. Sinto-me feliz por ter diariamente algo para fazer e a possibilidade de me distrair com o trabalho”. Sim. Juvita encara o trabalho, um peso para muitos, como uma “distração”.

A jovem lamenta que muitas mulheres timorenses tenham perdido no passado oportunidades por se lhes exigir atenção exclusiva aos filhos. E tem um conselho para as jovens de hoje: “Tudo depende de nós. Temos de escolher o que é melhor para nós e focarmo-nos no que queremos. Nós é que sabemos quais são os nossos planos”.

Para sobreviver a tantos ofícios, conta com o apoio do marido, uma vontade férrea e uma grande disciplina: “Uma coisa que aprendi para toda a vida é ser pontual e organizada”. Não se sentirá Juvita cansada? Não. “Aproveito bem cada hora e cada oportunidade para fazer algo. Sinto que cada hora é valiosa”.

O Masako timorense

A Química e os colegas de curso ajudaram, mas o clique deu-se quando estava a vender nasi bungkus, o arroz embrulhado em papel. Percebeu que a concorrência era forte e que precisava de criar algo original. Lembrou-se do principal tempero do arroz e dos malefícios deste Masako para a saúde. Foi assim que começou a aventura do Vita’S Kaldu Lokal, em 2020, em plena época de pandemia.

Não foi um percurso fácil. Juvita sentia-se “analfabeta no mundo dos negócios”, mas esse sentimento não a travou. Fez formação e recebeu equipamentos da Academia para as Mulheres Empresárias. A jovem menciona, aliás, várias instituições que podem ajudar as empreendedoras e lamenta que muitas mulheres não queiram aproveitar estas oportunidades.

Já Juvita agarrou-se com unhas e dentes às oportunidades que lhe apareceram. Em 2022, ficou no 3.º lugar num concurso de empreendedorismo promovido pelo Ministério do Turismo, Comércio e Indústria, que lhe ofereceu equipamentos. Mais de dois anos depois de experiências com o produto, vendas online e extensão da empresa, o Vita’S Kaldu Lokal chegou às prateleiras dos supermercados de Díli.

A jovem não quer, no entanto, cair na tentação de abandonar os estudos para se dedicar apenas à empresa: “Temos de saber também que é importante acabar o que começámos. Mesmo que seja tarde, o principal é concluir. Só se pode ser totalmente independente através da educação”.

Natália de Jesus, uma amiga próxima e que trabalha com Juvita, conta-nos que a “nova moda de trabalhar em casa” facilitou a vida à empresária, porque pode controlar o trabalho e deitar um olho à filha. Confirma ainda a disciplina de Juvita: “Quando os trabalhadores chegam de manhã, ela já tem tudo preparado”.

O próximo passo é levar o produto para os municípios, mas a grande ambição mesmo é transformar o paladar dos timorenses para que o Vita’S Kaldu Lokal timorense substitua o Masako indonésio.

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