Insegurança alimentar piora em 11 dos 13 municípios de Timor-Leste, revela relatório de agência da ONU

Agravamento do problema é resultado da alta no preço dos alimentos e de medidas ineficazes das autoridades, aponta estudo: cenário é mais preocupante em Ainaro, Ermera, Oécusse e Viqueque/Foto: DR

O problema da alimentação inadequada afeta agora por volta de um em cada quatro habitantes do país, ou 360 mil pessoas. No estudo referente a 2023, eram 300 mil.

O problema da alimentação inadequada em Timor-Leste piorou em 11 dos 13 municípios (incluindo Oécusse) do país de 1,3 milhões de habitantes e afeta agora por volta de um em cada quatro cidadãos – aproximadamente 360 mil pessoas. No ano passado, esse número correspondia a 300 mil. A constatação faz parte da segunda rodada da Classificação Integrada de Fases (IPC, em inglês) de Insegurança Alimentar Aguda, um relatório do Programa Mundial da Alimentação (PMA), divulgado na última quinta-feira (18.04), na página oficial da referida agência da Organização das Nações Unidas (ONU).

O estudo evidencia que, em linhas gerais, o agravamento acontece devido a “altos preços dos alimentos e à adoção de estratégias ineficientes” por parte das autoridades.

“Dezembro de 2023 marcou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mais alto desde 2013, mostrando um aumento de 27% em dez anos. Esse aumento é particularmente percetível para o grupo ‘alimentos e bebidas não alcoólicas’ do IPC. (…) Além disso, o custo de uma dieta mínima adequada em nutrientes aumentou 78% desde 2019, com a monitorização de mercado do Programa Mundial da Alimentação identificando que o custo do arroz local aumentou 12% desde a última análise em 2023”, consta no relatório.

A insegurança alimentar é uma condição em que indivíduos ou comunidades não têm acesso consistente a alimentos seguros e nutritivos que atendam às suas necessidades dietéticas e preferências para uma vida saudável e ativa. Subnutrição, enfraquecimento do sistema imunológico e desenvolvimento infantil prejudicado são algumas das consequências.

O documento destaca que a pobreza e a vulnerabilidade económica “são fatores subjacentes da insegurança alimentar”. Segundo o Índice da Pobreza Multidimensional (MPI, em inglês), divulgado pela ONU em 2022 (o mais atual), aproximadamente 42% dos timorenses estão em situação de vulnerabilidade social. O referido levantamento indica ainda que 22% da população sobrevive em condições de pobreza extrema, ou seja, com menos de 1,90 dólares por dia. “Essas medidas de pobreza estão fortemente correlacionadas com a desnutrição”, sublinha o relatório do PMA.

De acordo com o estudo da agência da ONU, Díli e Baucau são os municípios onde o cenário é um pouco melhor e 5% do total dos habitantes avaliados na pesquisa estão numa situação “urgente” no que se refere à alimentação inadequada. Estas pessoas encontram-se em Ainaro, Ermera, Oécusse e Viqueque.

 Situação é um pouco melhor em Díli e Baucau/Fonte: relatório do PMA

Na capital, de janeiro a março deste ano, a Clínica do Bairro Pité registou 812 atendimentos a cidadãos com subnutrição, sete dos quais estavam em estado grave. Bebés e crianças são as maiores vítimas, informou a nutricionista que trabalha no estabelecimento, Adelaide Viegas do Rosário. Segundo a profissional, a insegurança alimentar é resultado tanto da carência de recursos como da falta de informação, já que mesmo as famílias com melhor condição económica apresentam desconhecimento sobre alimentação nutritiva.

“A nossa equipa também realiza ações para ajudar os habitantes a perceber o que é uma boa nutrição e oferece alimentos para os agrupamentos familiares mais vulneráveis. As autoridades precisam de ajudar mais a população”, observou.

A alimentação saudável pressupõe que uma refeição contenha os cinco nutrientes: carboidratos, proteína, gordura, vitaminas e minerais. A ingestão desses nutrientes depende das necessidades de cada indivíduo, de acordo com a idade, o peso, as atividades diárias, a condição de saúde e intolerâncias. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma mulher adulta precisa de 2.000 quilocalorias por dia e um homem de 2.400 quilocalorias.

Cenário crítico e recomendações

A agência da ONU estipula que, de maio a setembro deste ano, o cenário de insegurança alimentar no país irá piorar, devido às condições climáticas que afetarão as colheitas e regiões que sofrem com a falta de abastecimento regular de água. “Mais de um terço de todos os lares em Timor-Leste foram encontrados sem uma fonte de água adequada, composta por água canalizada ou um poço protegido conectado à casa”, descreve o relatório.

Reforçar a assistência humanitária nas áreas mais críticas, fortalecer os programas de proteção social, melhorar o sistema de acesso a água e realizar mais investimentos na agricultura, de modo a diminuir a dependência de produtos alimentares importados – como o arroz – são algumas das sugestões do PMA às autoridades para enfrentar o problema.

O Estado timorense, que também já partilhou o relatório na página oficial do Governo, ressaltou que o documento disponibiliza informações importantes para a adoção de medidas.

“A análise da Classificação Integrada de Fases fornece ao Governo descobertas vitais que nos permitirão planear apoio direcionado para comunidades que necessitam urgentemente de assistência alimentar, e melhorar a segurança alimentar como um todo”, avaliou o ministro da Agricultura, Pecuária, Pesca e Florestas, Marcos da Cruz.

Por sua vez, a diretora do PMA e representante para Timor-Leste, Alba Cecilia Garzon Olivares, realçou que a agência da ONU está pronta para ajudar as autoridades do país a enfrentar a questão, e chamou a atenção para a importância de se tomar providências ágeis.

“Com choques climáticos intensificados e a taxa de inflação mais alta em uma década, os mais recentes resultados da Análise IPC deixam claro que ação urgente é necessária agora para evitar uma deterioração adicional na insegurança alimentar de Timor-Leste. O PMA continua comprometido em apoiar o governo e outros parceiros para reverter essa tendência e fortalecer os sistemas de proteção social sensíveis à nutrição”, observou a diretora do PMA.

A Classificação Integrada de Fases utiliza um conjunto de ferramentas e procedimentos internacionalmente reconhecidos para estimar a situação de insegurança alimentar em um país. A análise atual foi conduzida por um Grupo de Trabalho Técnico composto por 30 representantes do Governo, ONU e Organizações Não Governamentais.

Array

Ver os comentários para o artigo

  1. Inseguranca alimentar!

    Em crianca comia sopa de milho com feijao
    Sopa de batata com agriao
    Viamos livres do TB e da constipacao
    Batata e ovos cozidos com grao
    Ainda nao havia aboboras do Sr Gusmao
    Acho que agora tambem ainda nao
    Comiamos mangas do Sr Encarnacao
    Cerejas bravas com fartura e bem a mao
    Ah e aquela jambua e jambolao
    Sarmale ajudava a digestao
    Cafe coado com a meia do nosso patrao
    Coimanco, coibandeira, bibinca do coracao
    Flitavamos os quartos, prevenia-se mosquito intervencao
    Quase morriamos por causa da descolonizacao
    50 anos depois, independente, paralizacao?
    Ergue-te meu irmao
    De mao em mao

    Ze Lakeru Foraisona
    Poeta de TL

Comente ou sugira uma correção

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Open chat
Precisa de ajuda?
Olá 👋
Podemos ajudar?