A Internet derrubou as fronteiras em todo o mundo, eliminou barreiras geográficas e é hoje indispensável no dia a dia da grande maioria das pessoas. Seja por motivos pessoais, profissionais ou, simplesmente, para lazer, a necessidade de acesso à Internet é transversal a toda a sociedade.
Em Timor-Leste, existem atualmente três operadoras de telecomunicações: a Timor Telecom (TT), a Telemor e a Telkomcel, que disponibilizam diferentes serviços e tarifários.
Um pacote mensal de Internet ilimitada pode custar, no mínimo, 20 dólares americanos e, no máximo, 50. Os pacotes diários, também ilimitados, vão de 25 centavos a dois dólares por dia. Falamos de valores para o acesso a uma ferramenta fundamental, num país em que o salário mínimo não ultrapassa os 115 dólares. Os preços praticados por um serviço com pouca velocidade é uma das principais queixas dos utilizadores. As diferenças nos valores praticados não se traduzem, na maior parte das vezes, em diferenças efetivas na velocidade da rede de acesso à Internet. As falhas constantes de rede são, invariavelmente, transversais a todos as operadores e a todos os serviços contratados pelos clientes.
Em Timor-Leste, é comum ouvir sobre a indisponibilidade de determinado produto ou serviço que “há, mas não tem”. No caso do funcionamento da rede de Internet, a mesma resposta também se aplica. O Diligente saiu à rua para perceber, na primeira pessoa, de que forma as dificuldades no acesso à Internet em Timor-Leste afetam o quotidiano dos usuários.
“Às vezes, para publicar um único artigo, demoro uma hora”
“Tenho muitas dificuldades com a Internet sempre que publico as notícias. Às vezes, para publicar um único artigo, demoro uma hora. Nas duas primeiras semanas deste mês, a velocidade esteve péssima. Já experimentei usar as três redes, mas o problema mantém-se. Usei primeiro a TT, só que falhava várias vezes. Então, mudei para a Telkomcel, mas, com este novo cartão, o problema manteve-se. Experimentei comprar o pacote de 5 dólares, ilimitado durante sete dias, mas a velocidade da Internet era muito lenta também. E se eletricidade falha, a internet também não funciona. Não sou só eu a queixar-me. São muitos os clientes que reclamam diariamente.”
“Tenho de esperar 30 minutos ou mais para conseguir enviar um e-mail”
“Costumo usar a TT. Mesmo que a rede seja muito lenta, estou habituada. Nunca usei Telemor, mas já usei Telkomcel, ainda que por pouco tempo. Comparando com a Telkomcel, a velocidade é quase igual. Muitas vezes, tenho de fazer reuniões via Zoom (videochamadas) e não consigo estabelecer ligação. Quando envio um trabalho para os meus professores, tenho de esperar 30 minutos ou mais para conseguir que o e-mail siga. Durante o dia, a Internet é muito lenta, depois da meia-noite até às 5h da manhã melhora, mas a essa hora, já estou a dormir. Normalmente, uso o pacote de 0,25 centavos para ter acesso ilimitado durante 24 horas, mas quando preciso mesmo, uso o pacote de Internet ilimitada, que custa 1 dólar, porque supostamente é mais rápido, o que nem sempre acontece. A Telkomcel e a TT oferecem bónus para os estudantes, por isso quando carrego 1 dólar por um dia, tenho bónus de mais um dia. O que acontece na TT é que compro o pacote ilimitado para 24 horas, mas o pacote acaba antes desse prazo.”
“Quando chove, a eletricidade falha e a Internet também”
“Tenho um negócio de venda de roupa nas redes sociais. Muitas vezes, a velocidade da Internet é muito lenta, o que impede os clientes de acederem imediatamente às minhas publicações e acaba por prejudicar muito o meu negócio.
Já experimentei as três redes, Telkomcel, TT e Telemor, mas prefiro usar a Telemor, porque utilizo o pacote DJ, em que só carrego 1 dólar por semana. Ao passo que na TT, se carregar 1 dólar, dura só 24 horas. Se usar a TT, tenho de gastar pelo menos 20 dólares por mês em pulsa, assim gasto só 4. À noite, quando há mais gente a usar, a velocidade fica ainda mais lenta. Quando chove, a luz falha e a internet também.”
A resposta das operadoras
Perante estas queixas, o Diligente pediu explicações às três operadoras, mas apenas a TT prestou declarações. Telemor e Telekomcel não deram nenhuma resposta até à data desta publicação.
Carina Vicente Amaro, Procuradora da Timor Telecom, explicou que a velocidade da Internet móvel pode variar de acordo com a distância a que os usuários se encontram das antenas e de acordo com a quantidade de clientes que estão a utilizar as antenas da rede móvel em simultâneo . “Quando muitos dispositivos estão conectados à mesma antena, a rede pode ficar congestionada”, o que faz com a Internet fique mais lenta.
Atualmente, “a nível de qualidade de serviço da internet, o principal problema é a falta de ligações internacionais de qualidade (por exemplo, cabos submarinos) e a preços baixos, tal como os outros países têm.”
Relativamente às falhas de eletricidade também afetarem o funcionamento da Internet, a representante da TT avança que se deve ao facto de todos os serviços das telecomunicações serem alimentados por energia elétrica. Apesar de a TT implementar muitas alternativas para abastecer esses equipamentos, como geradores de eletricidade através de combustíveis, painéis solares ou estabilizadores da rede elétrica, essa salvaguarda não “pode existir em todos locais da rede de acesso nem consegue resistir a todos os fenómenos de instabilidade da rede elétrica”. Apesar disso, garante que, na maioria dos casos de falha de eletricidade, “a TT consegue manter a sua qualidade de prestação de serviços de telecomunicações em níveis perto dos 100%.”
Quanto ao volume de queixas, clarificou que a TT “não tem um nível de reclamações elevado, apenas o normal da sua atividade.” No entanto, quando há condições meteorológicas adversas ou cortes de energia, “podem acontecer picos de reclamações temporárias.”