POLUIÇÃO

Fumo tóxico de queima de resíduos em Tíbar continua a prejudicar saúde dos moradores

Moradores da aldeia de Libaulelo, em Tibar, têm fumo e lixo despejado à porta de casa /Foto: Diligente

Tíbar, município de Liquiçá, é ‘palco’ de um depósito de lixo que recebe, diariamente, a grande maioria dos resíduos produzidos em Díli. A lixeira é povoada, dia após dia, por catadores de lixo que vasculham o lugar à procura de materiais de metal, latas, roupas ou outros artigos que possam, de alguma forma, traduzir-se em algum rendimento através da venda. Depois de recolherem o que podem aproveitar, pegam fogo aos restantes resíduos. O lixo queimado resulta num grande volume de fumo tóxico que transporta com ele muitos riscos de saúde para as pessoas que ali habitam.

“O ar que nós respiramos não é saudável. Há muitas pessoas, principalmente os mais idosos, que acabam por sofrer de patologias respiratórias, como asma ou outras doenças pulmonares crónicas. Além disso, o ardor nos olhos por causa do fumo é constante”. As queixas são de Sancha da Conceição, 25 anos, que mora na aldeia de Libaulelo, ao lado da lixeira de Tíbar, com o marido e dois filhos, um com quatro anos e outro com dois. Moram ainda na mesma casa os pais de Sancha e dois irmãos. Ao todo, são oito pessoas que vivem “paredes meias” com a lixeira.

A moradora, dona de um pequeno quiosque, também ao lado da lixeira, confessa que quem reside perto do aterro acaba, inevitavelmente, por ter de se conformar com a insalubridade . “Já fomos muitas vezes ao posto de saúde, eu e os meus filhos, para fazer consultas e exames. Somos medicados, mas, quando voltamos para casa, para o mesmo ambiente, a história repete-se e começamos a tossir novamente ou com outros sintomas. Acabamos por não regressar, porque não vale a pena”, lamenta.

Queima de lixo na lixeira de Tíbar, em Liquiçá /Foto: Diligente

Francisco Pereira, habitante da mesma aldeia, explica que a situação se torna ainda mais séria, “quando há muito vento e o fumo se espalha por todas as áreas do suco de Tíbar. Isso traz consequências graves, não só para nós seres humanos como para os animais e para o meio ambiente”.

O médico do posto de saúde de Tíbar, Bruno da Silva Nunes, sublinha que “a poluição da lixeira tem causado doenças crónicas a muitos dos utentes que vêm à consulta, nomeadamente, asma, bronquite ou até cancro do pulmão”. De acordo com o especialista, cada pessoa reage de forma diferente às agressões ambientais, tendo em conta o seu sistema imunitário. “Quem já sofre de infeções pulmonares agudas, por causa dos efeitos do fumo tóxico que vem das queimadas da lixeira, apresenta um sistema imunitário debilitado, o que pode originar mais facilmente outras doenças”. O médico realça que “crianças e idosos correm mais riscos de sofrer doenças graves”.

O especialista explica ainda que, além do fumo, “os insetos que povoam a lixeira transportam bactérias que podem também originar doenças, causar diarreias ou parasitas”.

Eládio da Conceição, funcionário do Saneamento da lixeira de Tíbar, regista todos os dias, o número de camionetas de lixo que chegam de Díli: “São 70 camionetas, das cinco companhias que transportam e despejam aqui o lixo, três vezes por dia”. O funcionário conta que, diariamente, “vêm catadores, não apenas de Tíbar mas também de Díli, que, depois de escolherem o que lhes pode ser útil e querem aproveitar, queimam o lixo que sobra”.

A presidente da Autoridade Municipal de Díli, Guilhermina Saldanha, tem, contudo, outra versão. Em declarações ao Diligente afirma que “as pessoas não queimam lixo em Tíbar”. Segundo a responsável, o que acontece é que, “quando todos os resíduos se misturam, por exemplo plásticos, roupas, latas de gases e outros, com com a exposição do sol, rebentam e geram fogo”.

Para ajudar a resolver o problema, a presidente da autoridade municipal apela às comunidades que separem o lixo e sugere, para o efeito, que o façam no “mercado de Manleu, onde já existem contentores para fazer separação do lixo”.

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Contentores de separação de lixo, em Manleu, Díli /Foto:Diligente

De acordo com dados do Posto de Saúde de Tíbar, a que o Diligente teve acesso, nos primeiros dois meses do ano, o posto registou 687 casos de infeção pulmonar aguda e 54 de asma.

Preocupado com estes números, o chefe de suco de Tíbar, Bento da Conceição Lemos, lembra que as “autoridades nacionais já foram alertadas para o problema” e que o  Ministério da Administração Estatal (MAE) “já lançou, no mês passado, a primeira pedra do projeto de transformação da lixeira de Tíbar num aterro controlado”. O objetivo passa por “reciclar o lixo não orgânico e transformar o orgânico em adubo. Todo este processo vai permitir substituir a queima”, acredita o chefe de suco.

Aos morados do suco de Tíbar também não restam muitas outras opções para suportar as condições de insalubridade que são obrigados a enfrentar dia após dia, a não ser acreditar que este cenário, que dura já há mais de uma década, deixe um dia de ser tão cinzento como os dias de quem atualmente aqui vive.

Ver os comentários para o artigo

  1. Obrigado Diligente. Com este novo media eu aprendo muitas palavras novas. Todos timorenses devem ler o Diligente para aumentar os conhecimentos de portugues.

    1. Mana Joanina eu também já agradeci ao Diligente. Eu tenho colegas que leem o Diligente e estão contentes com esta media porque aprendem expressões sobre varios temas. Precisamos mais media como o Diligente com informação interessante e com explicações simples de português.

  2. Os moradores deviam juntar se todos e fazer um “class action” contra o ministerio que tem a cargo o “chamber de Hitler”. Estamos em 2023 e nao 1943!

  3. O que é mais triste é as pessoas serem prejudicadas desta forma e não se revoltarem. Os timorenses estão muito adormecidos. Os políticos conseguiram adormecer as pessoas de tal forma que elas aceitam tudo. Só com a educação o país muda.

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