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FOCO.UNTL qualifica professores nacionais, estimula a produção de conhecimento e contribui para a consolidação do português em Timor-Leste

Cerca de 700 formandos beneficiaram dos cursos de língua portuguesa e mostraram-se satisfeitos/Foto: Diligente

Dos eixos mais relevantes do projeto em curso e que termina no final de 2024, destaca-se a dotação do Centro de Língua Portuguesa enquanto primeiro centro de certificação do país no idioma.

Formar, Orientar, Certificar e Otimizar são as metas do projeto de cooperação bilateral entre o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e a Universidade Nacional Timor-Lorosa’e (UNTL), o FOCO.UNTL, que pretende contribuir para a melhoria da qualidade do ensino no país e para a consolidação da língua portuguesa.

Desde a restauração da independência de Timor-Leste (a 20 de maio de 2002), o português tornou-se um dos idiomas oficiais do país (a par do tétum) e a maioria dos materiais didáticos e documentos oficiais estão escritos na língua de Camões – que é falada por cerca de 40% da população de 1,3 milhões de habitantes, segundo dados de 2022 (os mais atuais) do Instituto Nacional de Estatística.

Desde o seu início, em 2019, o FOCO.UNTL tem desenvolvido e realizado: atividades de tutoria, codocência, cursos e seminários para o desenvolvimento profissional docente; cursos de licenciatura e mestrado, orientação de monografias e dissertações para estudantes da UNTL; o plano de atividades do Centro de Língua Portuguesa (CLP) e investigação científica; e formações da língua portuguesa em diversas instituições e para o público. Cerca de 700 pessoas já foram beneficiadas com as ações do FOCO.UNTL.

O projeto contou, em 2023, com 13 professores nacionais, menos sete do que previsto, e cinco professores internacionais, metade do que era esperado.

Na UNTL, três faculdades (Faculdade de Educação, Artes e Humanidades, Faculdade de Direito e Faculdade de Ciências Exatas) recebem o apoio dos professores do FOCO nas áreas da linguística, literatura e metodologia de investigação. Este ano, pretende-se chegar a mais faculdades, sobretudo no que diz respeito à orientação e supervisão de professores para ensinarem em português.

O FOCO.UNTL é também responsável por realizar diversas ações culturais, como o “Café Literário”, “Mundo-Livro” e “Leitura Encenada de O Conto da Ilha Desconhecida”, do escritor português José Saramago. Ainda organiza a exibição de programas audiovisuais linguísticos, como “Português Claro!”, “Dúvidas em Português? O FOCO esclarece!” e promove atividades comemorativas a propósito do Dia Internacional da Língua Portuguesa, do Dia Mundial da Poesia e do Dia do Livro – além de intervenções sociais, como o “Português no Bairro”.

O coordenador científico-pedagógico do FOCO.UNTL, Paulo Faria, na apresentação de uma das iniciativas do projeto/Foto: FOCO.UNTL

Ao longo de cinco anos, os profissionais do FOCO.UNTL contribuíram diretamente para a publicação de livros de atas, traduções bilingues, manuais e guiões, um Glossário Multilíngue de Terminologia Jurídica para Timor-Leste, entre outros.

O projeto, considerado de alta importância “na consolidação da língua portuguesa como língua oficial e no apoio às autoridades de Timor-Leste”, segundo a adida da cooperação portuguesa, Cristina Faustino, representa também um pólo dinamizador de atividades culturais.

“Em 2023, continuaram a perseguir os seus objetivos. Mesmo que tenham tido alguns desafios, como na parte da investigação científica, que precisa de ser mais constante, as atividades têm tido bons resultados, ultrapassando aquilo que era previsto”, realçou Cristina Faustino.

Os resultados

De acordo com o Relatório de Execução de 2023 do FOCO.UNTL, o reforço de competências técnico-científicas, didático-pedagógicos e linguístico-comunicativas dos estagiários e professores nacionais do projeto, apesar da limitação de recursos humanos, superou as expetativas. Os seis docentes internacionais coorientaram monografias, realizaram tutorias científico-pedagógicas e linguísticas, além de atividades de codocência – que implica a supervisão de toda a prática letiva dos professores timorenses, envolvendo orientação da planificação semestral de toda a lecionação do profissional; acompanhamento semanal do processo de planificação das disciplinas; sugestão de propostas de melhoria nos planos científico e didático-pedagógicos; na observação de aulas e assistência.

Uma das professoras convidadas e a exercer funções é a professora Beatriz Sarmento. Tem 25 anos e desde 2023, já lecionou a cerca 762 alunos aulas em língua portuguesa. “É uma iniciativa enriquecedora. Cresci muito, pois o projeto permitiu-me desenvolver as minhas habilidades, tornando-me mais profissional, organizada, competente e criativa”, afirmou.

No que diz respeito ao segundo resultado, foram realizadas ações de capacitação linguístico-comunicativas e de proficiência em língua portuguesa junto de alunos de licenciatura e do mestrado em Ensino de Português no Contexto de Timor-Leste da UNTL.

Violanto Ribeiro, 27 anos, estudante finalista do Departamento de Ensino de Língua Portuguesa (DLP) da UNTL, é beneficiário do projeto desde 2019, quando ainda estava no primeiro ano. Para o jovem, os professores do FOCO.UNTL são uma mais-valia na sua aprendizagem. “São pessoas comprometidas que se esforçam sempre para que os estudantes aprendam bem”, salientou.

Para o estudante, o facto de os professores timorenses falarem bem português e só conversarem com os alunos neste idioma incentiva-os a melhorar a sua competência.

O terceiro resultado tem a ver com o desenvolvimento do Centro de Língua Portuguesa (CLP) como espaço de formação e certificação em português, de produção de materiais didáticos e de provas de avaliação. “É o eixo mais inovador do projeto. Este processo está a ser concluído para Timor-Leste poder ser o terceiro país no espaço da CLP reconhecido como Centro de formação e certificação”, afirmou Paulo Faria, coordenador científico-pedagógico do FOCO.UNTL.

Um espaço de certificação em língua portuguesa geralmente refere-se a um local ou instituição onde são administrados exames ou testes para certificar o nível de proficiência em língua portuguesa, seja para fins educacionais, profissionais ou pessoais.

Esses certificados podem ser reconhecidos por instituições académicas, empregadores e outras entidades como uma validação oficial das habilidades do indivíduo em língua portuguesa.

Atualmente, os países com centro de certificação de língua portuguesa são Portugal e Brasil. Prevê-se que, até ao final deste ano, Timor-Leste integre o grupo.

O CLP tem delineado atividades com parceiros da UNTL, com a Embaixada de Portugal e o Centro Cultural Jorge Sampaio, organismos do Governo, entidades promotoras da cultura, língua e literatura portuguesa (Fundação Oriente), além de projetos de cooperação do Instituto Camões I.P. desenvolvidos em Timor-Leste.

Uma das iniciativas mais marcantes são as Jornadas Pedagógicas, que divulgam os trabalhos de monografia realizados por alunos finalistas, apresenta comunicações ou pósteres no âmbito dos eixos definidos e também promove a língua portuguesa. No ano passado, o evento de natureza académica e científica – referência em Timor-Leste – chegou à sua oitava edição e reuniu 86 conferencistas, entre participantes nacionais e de países como Portugal, Brasil, Índia e Moçambique.

Para as Jornadas Pedagógicas deste ano, que decorre nos dias 12 e 13 de setembro, projeta-se que as tutorias científico-pedagógicas e linguísticas se afirmem cada vez mais enquanto espaço de reflexão-ação, no âmbito do desenvolvimento profissional docente.

Na avaliação da professora de Língua Portuguesa, Ana Guterres, 33 anos, apoiada pelo FOCO.UNTL desde 2019, a codocência, a tutoria, as formações e a participação em atividades não letivas, como a organização de oficinas e atividades de caráter investigativo, como as Jornadas Pedagógicas, abrem caminho para investigar, produzir e partilhar conhecimento, e evoluir enquanto profissional e pessoa.

“Tenho a enorme honra de conhecer e trabalhar com diferentes pessoas, nacionais e internacionais, que, sem dúvida, contribuem para o meu desenvolvimento”, confidenciou Ana Guterres.

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Equipa do FOCO.UNTL com a professora Isabel Duarte (ao centro), doutorada em Linguística e diretora do mestrado em Português Língua Segunda/Língua Estrangeira na Faculdade de Letras da Universidade do Porto/Foto: FOCO.UNTL 

Capacitação em língua portuguesa com professores nacionais para funcionários públicos

Segundo o coordenador-geral do FOCO.UNTL, Samuel Freitas, docentes timorenses a dar aulas nas instituições estatais era um desafio, pois “só queriam professores portugueses, mas isso mudou”.

Uma funcionária da Autoridade Nacional do Petróleo e Minerais (ANPM), Joana da Costa, 27 anos, que frequentou o curso do nível B1 durante três meses, reconheceu que a formação, oferecida por uma professora nacional a ajudou a desempenhar melhor as suas funções.

“Através do curso, além de podermos comunicar em português e com os portugueses, conseguimos entender os documentos da instituição, pois a maioria está em português”, partilhou a jovem.

A ANPM, sendo o órgão regulador do setor petrolífero e mineiro, lida com uma grande quantidade de documentação, regulamentos e contratos legais. Ter um bom nível do português garante que os funcionários possam compreender completamente os documentos, facilitando a correspondência com as leis e regulamentos.

Também o docente assistente convidado na Licenciatura em Ensino Pré-escolar na Faculdade de Educação, Artes e Humanidades, Ruben Correia, 23 anos, que frequentou o nível B2, sentiu benefícios. “A formação de língua portuguesa ofereceu-me uma ampla gama de ganhos pessoais, profissionais e culturais, tornando-se um investimento valioso para o meu desenvolvimento pessoal e para as minhas perspetivas futuras”, afirmou.

Ruben Correia apreciou a qualidade dos professores timorenses e vê-os como profissionais inquestionáveis, por conseguirem esclarecer as suas dúvidas e motivarem-no a conversar em português.

Desafios e Recomendações

O projeto propõe, conforme o Relatório de Execução de 2023, que seja aumentado o número de professores internacionais e nacionais em resposta aos indicadores e metas previstos, e que a UNTL possa disponibilizar mais docentes. Ao mesmo tempo, destaca-se a necessidade de um salário digno.

Também é recomendada uma maior independência para a coordenação, argumentando que “os processos de tomada de decisão com pouca autonomia implicam atrasos na implementação e tomada de decisões”.

Com o intuito de capacitar o Centro de Língua Portuguesa, sugere-se a criação de um Centro de Investigação, com o objetivo de desenvolver as áreas linguísticas e as competências dos professores, como também de facilitar o acesso a bases de dados para consulta de textos e a bibliotecas de conhecimento especializado. Propõe-se ainda criar uma plataforma digital para as atividades letivas.

Para o desenvolvimento do ensino de Português, recomenda-se estabelecer um plano de leitura para o ensino superior em Timor-Leste.

Em resumo, o projeto desponta como um incentivo à mudança. “De qualquer forma, muitos docentes e estudantes estão a frequentar cursos de português, sendo benéfico para a política da UNTL em termos de utilização de português como língua de instrução”, salientou o coordenador-geral do FOCO.UNTL, Samuel Freitas.

Por sua vez, o reitor da UNTL, João Martins, mostrou-se satisfeito ao ver a quantidade de pessoas que frequentaram os cursos de língua portuguesa do projeto e orgulhoso por ser um formando do curso de nível B1. “O FOCO está a fazer um trabalho muito bom e esperamos que continue”, elogiou.

O FOCO.UNTL destaca a “seriedade no desempenho de funções, o respeito pela diferença, a pontualidade, a assiduidade e a disponibilidade para acompanhar um ritmo de ação singular no contexto de Timor-Leste”, como características fundamentais do Projeto na busca de se “conseguir as metas e resultados inatingíveis”, para além do trabalho colaborativo e do consenso.

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