CINEMA

Invasão japonesa de Timor-Leste retratada em filme “Abandonados”

“Abandonados” conta a história desconhecida da invasão japonesa de Timor-Leste/Foto: DR

O filme “Abandonados”, do realizador português Francisco Manso, conta uma parte da história de Timor-Leste pouco conhecida e explorada. A obra, que originalmente se trata de uma série, retrata o contexto em Timor-Leste durante a Segunda Guerra Mundial, período em que o país ainda era colónia de Portugal e foi ocupado, entre 1942 e 1945, pelo Japão, na época aliado dos nazis.

Estima-se que por volta de 40 mil timorenses e portugueses tenham perdido a vida na luta contra a invasão japonesa.

Em novembro de 2022, Manso veio a Timor-Leste para participar no lançamento mundial do filme, numa sessão decorrida no Centro Cultural de Díli (CCD), que contou com a presença do Presidente da República, José Ramos Horta.

Nuno Araújo, estudante que assistiu à estreia no CCD, considerou a longa-metragem um relevante registo histórico, sobretudo para as novas gerações. “É um episódio muito importante do nosso passado e que pouca gente conhece. Devemos conhecer a nossa história para construirmos um futuro melhor”, observou.

Ramos-Horta, Ana Gomes e o realizador Francisco Manso/Foto: DR

Também presente na estreia no CCD, o diretor de programas da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), José Fragoso, lembrou que a emissora pública é a única em Portugal a fazer ficção histórica, de que é exemplo “Abandonados”. Fragoso informou que o património audiovisual da RTP também é negociado com grandes serviços de streaming, como a HBO, Netflix e Amazon Prime.

“A nossa intenção é de que ‘Abandonados’ possa ser veiculado por alguns destes serviços. É necessário que obras importantes como esta cheguem a mais espectadores”, concluiu.

As gravações

Manso afirmou que nutre um grande fascínio por Timor-Leste e que o episódio do Massacre de Santa Cruz o chocou. Desde então, passou a pesquisar mais sobre o país e a considerar possibilidades de um dia vir a fazer um registo audiovisual que envolvesse Timor-Leste. Após ler o livro baseado no diário do Tenente Pires – personagem fundamental da série –, notou que a oportunidade havia chegado.

“O assunto que a obra aborda é impactante. É um tema sensível, que envolve violação dos direitos humanos e é desconhecido de grande parte da população – seja de Timor-Leste, Portugal ou de qualquer outra nação. Este trabalho é o nosso contributo, especialmente para o povo timorense”, destacou Manso.

O  realizador recordou que antes do 25 de abril de 1974 – data em que se celebra a redemocratização de Portugal (Revolução dos Cravos) – não se podia falar sobre o que se passava nas colónias por causa da repressão da ditadura.

Sobre as dificuldades que enfrentou durante as filmagens, Manso notou que as gravações decorreram no período da pandemia de covid-19 (entre 2020 e 2021), o que impossibilitou fazer o filme em solo timorense devido às restrições e distância. Por essa razão, os trabalhos foram realizados na ilha portuguesa da Madeira, que possui uma vegetação, montanhas e vales semelhantes a Timor-Leste.

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António Pedro Cerdeira, César Pinheiro e Marco Delgado durante as gravações do filme/Foto: DR

A série contou com figurantes timorenses no elenco, que foram escolhidos a partir de uma seleção decorrida na cidade portuguesa de Aveiro. Manso agradeceu a participação e dedicação dos profissionais.

O timorense César Pinheiro foi um dos que compôs o elenco da série. “Fazer parte desse projeto foi um grande desafio. Foi ótimo conhecer os atores e interagir com profissionais de várias partes do mundo”, afirmou.

O jovem contou que, em determinadas ocasiões, tinha de gravar a mesma cena muitas vezes, além de lidar com o frio. “Estávamos a gravar na praia e vestíamos tais sem camisa. Passados 30 ou 40 minutos, o meu amigo olhou para mim e disse: ‘Ita la taka isin agora, ita dólar’ (Se não taparmos o nosso corpo, vamos morrer)”, relembrou, sob gargalhadas.

A exibição de “Abandonados” em Timor-Leste, em formato de série, fica sob responsabilidade da RTP e o Grupo Média Nacional (GMN).

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