Em entrevista ao Diligente, emigrantes falam sobre os desafios de começar uma nova vida no país luso.
Em busca de melhores oportunidades de trabalho, milhares de timorenses continuam a deixar o país de origem com destino a Portugal, onde, devido a várias dificuldades, chegam, muitas vezes, a viver nas ruas. Foi o que aconteceu ao jovem Eduardo Machedo, 24 anos.
Em novembro do ano passado, o jovem reuniu as economias que tinha e deixou Timor-Leste, rumo a Lisboa. Sem saber falar português e sem qualquer contrato de trabalho, vagueou pela cidade de um lado para o outro à procura de qualquer trabalho. Passou frio e fome, e, nas andanças, acabou acolhido por cidadãos do seu país, que lhe recomendaram que frequentasse um curso para aprender língua portuguesa.
O jovem dedicou-se e, dois meses após a formação, a sorte sorriu-lhe: conseguiu um emprego numa fábrica de carros, onde está até hoje.
Já Francisco Monteiro Soares chegou a Portugal em novembro de 2022. Com o dinheiro contado e sem contrato de trabalho, não tardou para também ficar desabrigado. “Não tinha casa, vivi na rua e à beira-mar durante algum tempo. O estado português ajudou-me bastante. Conseguimos uma residência através da assistência social, que também nos auxiliou, a mim e aos meus colegas, a procurar emprego”, contou.
No início do ano passado, o jovem trabalhou e, em abril, resolveu fazer mais uma mudança e partiu para Inglaterra, onde trabalhou no setor de embalagens num matadouro de aves. Em dezembro de 2023, voltou a Portugal devido a questões documentais. Com o objetivo de ajudar financeiramente a família, ganhou força para enfrentar qualquer dificuldade: não pretende voltar ao país de origem tão cedo, “sobretudo por falta de oportunidades.”
Segundo a Organização Não Governamental (ONG) La’o Hamutuk, a taxa de desemprego em Timor-Leste atinge 27% da população em idade laboral (principalmente os jovens) e o salário mínimo no país é 115 dólares. Fixado em 2012 pela Comissão Nacional do Trabalho (CNT) para o setor privado, à semelhança do salário mínimo aplicado à Função Pública, o valor não sofreu qualquer atualização até hoje.
Por sua vez, Mariano Martins (nome fictício) chegou a Portugal com a ajuda de uma agência de viagens (cujo nome preferiu não divulgar). O jovem relatou ao Diligente que pagou 2.700 dólares à agência, que tinha prometido ir buscá-lo ao aeroporto, levá-lo para casa e ajudá-lo a procurar emprego. Promessas que nunca se cumpriram.
“Quando cheguei ao aeroporto, liguei para o número de WhatsApp da agência, mas ninguém atendeu. De repente, um timorense, que também é trabalhador, levou-me para um hostel. Acabei por ficar uma noite lá. E no dia seguinte, juntei-me a outros cinco timorenses que estavam a dormir na rua”, contou revoltado.
Neste momento, Mariano e outros colegas estão a tratar do título de residência e de outros documentos para que possam trabalhar.
De acordo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) português, em 2022, ano marcado pelo aumento do número de cidadãos de Timor-Leste a chegarem ao país luso, 6.814 homens e mulheres timorenses entraram em Portugal. O SEF realça que desde meados de 2023 houve uma redução na migração, mas que a quantidade de emigrantes de Timor-Leste a aterrar em território lusitano é ainda bastante elevada. Os cidadãos de Timor-Leste têm direito a solicitar a nacionalidade portuguesa.
Conforme um estudo da Organização Internacional das Migrações (OIM), divulgado em julho do ano passado, aproximadamente 50 mil timorenses residem no estrangeiro.
Em janeiro deste ano, a Embaixada de Timor-Leste em Lisboa emitiu um comunicado em que apela aos timorenses para se manterem vigilantes em relação a grupos organizados que oferecem garantias de trabalho em Portugal.
“Aos que estão a pensar viajar para Portugal por motivos de férias, passeio, visita à família ou em busca de emprego, é necessário compreender claramente todas as condições e cumprir todos os requisitos antes de iniciar a viagem para Portugal. Muitos timorenses que chegaram desde o início de 2022, alguns até ao momento, enfrentam dificuldades devido à falta de emprego e falta de moradia”, sublinhou a Embaixada.