Estudantes da UNTL queixam-se de ameaças e intimidação por parte de docente

Os estudantes em protesto/Foto: Diligente

Os estudantes do departamento de Pescas e Ciência Marinha não se sentem seguros em participar nas aulas por alegadamente terem sido ameaçados pelo diretor do departamento, Abílio da Fonseca. A estrutura da universidade está a averiguar o caso.

Os estudantes do curso de Pesca e Ciência Marinha, da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), acusam o professor e atual diretor do referido departamento, Abílio da Fonseca, de os ter ameaçado e intimidado. A situação tem criado um clima de insegurança e desconforto, que, segundo os alunos, os impede de assistir às aulas.

Numa conferência de imprensa, realizada nesta sexta-feira (20.10), no campus central da UNTL, o porta-voz dos jovens, Bendito dos Santos, também afirmou que os estudantes não têm docentes especializados, o que prejudica todo o processo de ensino-aprendizagem.

“O docente Abílio da Fonseca autorizou que estudantes ensinassem os seus colegas. Esta é uma grande preocupação para nós, pois sentimos que a qualidade do ensino não é garantida, o que pode pôr em causa o nosso futuro”, sublinhou Bendito dos Santos.

O jovem disse que, por isso, além de aspetos que envolvem o processo de avaliação, os jovens questionam Abílio.  De acordo com os estudantes, o professor disse que os jovens são seus inimigos e que terão azar se contrariaram a sua vontade.

“Queremos, com esta conferência de imprensa, que todos, público, pais, comunidade académica e o Ministério do Ensino Superior, Ciência e Cultura saibam que estamos a ser pressionados, intimidados, discriminados e oprimidos. O hino nacional apregoa ‘Terra livre e povo livre’, mas a UNTL, apesar de ter um programa de campus seguro, apresenta uma realidade diferente”, lamentou.

Os estudantes exigiram que a universidade contrate professores qualificados e da área. Requerem ainda que o reitor emita um despacho urgente a proibir o ensino ministrado por alunos, como alegadamente tem vindo a acontecer.

O presidente da Associação Académica Estudantil da UNTL, Cristóvão Mau-To, considerou que as ameaças não são meio para resolver problemas, “pois apenas afetam psicologicamente os alunos, que, consequentemente, verão o seu percurso académico prejudicado”.

Relativamente ao docente Abílio da Fonseca, Cristóvão Mau-To explicou que o professor terá contactado a Polícia Militar e a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), no sentido de lhes fornecer os nomes e fotografias dos estudantes, exigindo a sua captura. “Esta atitude absurda reflete a ignorância do professor, que desconhece completamente os direitos fundamentais consagrados na Constituição do país”, observou.

O decano da faculdade de Agricultura da UNTL – na qual o curso de Pesca e Ciência Marinha está vinculado –, Vicente de Paulo Correia, reconheceu o problema e informou que já organizou, no mês passado, um encontro para solucionar a questão, mas em vão.

“Promovi um encontro entre estudantes, a estrutura da universidade, o diretor Abílio e o seu vice, no sentido de resolver este assunto, mas os estudantes recusaram e apresentaram várias razões. Enquanto decano, disse aos estudantes que já não quero resolver a situação”, afirmou.

O decano minimizou o episódio, enfatizando que os docentes são seres humanos e, por vezes, ficam nervosos e cometem erros.

Vicente de Paulo Correia explicou que estas questões começaram depois da saída de três docentes fundadores do departamento. “Estamos a precisar de recursos humanos, mas os colegas demitiram-se. Se havia problemas, deveriam ter-me informado antes, mas infelizmente só recebi as cartas de resignação”, lamentou.

O decano informou ainda que a UNTL planeia, no próximo ano, contratar professores especialistas para o curso de Pesca e Ciência Marinha. “Depois de perceber as dificuldades que o departamento enfrenta, solicitei recursos humanos do Ministério da Agricultura e agora temos três docentes voluntários”, relatou.

Questionado sobre o facto de os estudantes ensinarem, o decano admitiu o erro, “que é uma lição e não pode voltar a acontecer”, salientou.

Ao Diligente, o professor Abílio da Fonseca disse que não iria comentar o assunto publicamente, mas que está em contato com o decano para solucionar o problema.

O Diligente tentou também entrevistar o reitor da UNTL, João Soares Martins, mas não obteve resposta até a publicação deste artigo.

O Departamento de Pesca e Ciência Marinha, criado em 2018, conta com sete docentes e 600 estudantes, dos quais 14 se irão graduar, no próximo mês de novembro.

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