Emprego formal é realidade para 30% da população em idade laboral, revela Banco Mundial

Conforme o Banco Mundial, o PIB de Timor-Leste ainda é muito dependente das despesas públicas/Foto: IOB

Apresentado na terça-feira, o relatório destaca também crescimento do PIB e a importância de criar estratégias para a diversificação económica de Timor-Leste.

O relatório semestral do Banco Mundial, intitulado “Em par ao objetivo: criar um setor financeiro estável, inclusivo e resiliente”, revelou que apenas 30% da população timorense em idade laboral (cerca de 234 mil pessoas) está empregada formalmente, ou seja, com algum tipo de contrato de trabalho. A divulgação do documento aconteceu num seminário na terça-feira (27.02), no salão do Institute of Bussiness (IOB), em Díli.

De acordo com o relatório, os restantes cidadãos em idade de trabalho, ou estão na informalidade ou desempregados. Conforme a Organização Não Governamental (ONG) La’o Hamutuk, a percentagem de pessoas que está sem trabalhar é de 27%. Segundo o censo de 2022, a população de Timor-Leste é de aproximadamente 1,3 milhões de pessoas.

O documento destacou a necessidade de as autoridades se focarem em políticas para diversificar a economia do país, investindo, sobretudo, nos setores produtivos, como a agricultura.

O economista do Banco Mundial, Alief Rezza, defende uma dinamização económica através de investimentos que criem oportunidades de emprego. Deu o exemplo da possibilidade de investir na produção de café, já que Timor-Leste tem terreno fértil para desenvolver o produto e pode apostar na exportação.

“Com o investimento em máquinas para aumentar a produtividade, e em estradas para facilitar o transporte, o preço da produção seria mais barato e o lucro seria elevado, podendo, assim, dar emprego a mais pessoas”, observou.

O relatório do Banco Mundial também ressaltou a importância na formação profissional qualificada junto dos mais jovens, de modo a capacitá-los para o mercado de trabalho.

De acordo com o documento, a economia de Timor-Leste ainda é bastante dependente dos recursos públicos, sem ter existido muito aporte financeiro nos setores produtivos. A maior fatia dos Orçamentos Gerais do Estado (OGE) é gasta em despesas recorrentes, como salários, compra de bens que não dão retorno e subsídios, como o fundo dos veteranos e pensão vitalícia para governantes e deputados.

Esta situação preocupa os economistas, que acreditam que o investimento em áreas estratégicas é um fator determinante para a recuperação e crescimento a longo prazo.

Em relação ao o Produto Interno Bruto (PIB), o relatório estimou para os anos de 2023 e 2024 um crescimento de 2,1% e 3,6%, respetivamente – tendo em consideração, especialmente, o uso de dinheiro do Estado para a  viabilização de projetos de infraestruturas (estradas e construção civil) e aquisição de bens, além do declínio da inflação.

Os dados do PIB de determinado ano são sempre divulgados no ano seguinte, normalmente no mês de agosto.

Mesmo que o PIB de Timor-Leste represente um aumento contínuo, depois de ter caído 8,3% em 2020 devido à pandemia covid-19, “o nível de produção do país ainda não regressou à pré-pandemia”, pode ler-se no documento do Banco Mundial. Em 2022, por exemplo, o PIB real chegou a 1,67 mil milhões (4% superior ao ano anterior), mas o de 2019 ainda é ligeiramente maior, 1,68 mil milhões.

Alief Rezza definiu o PIB como espelho do progresso económico de uma nação. “Um valor elevado do PIB reflete a boa condição dos serviços públicos, como a saúde, educação, transportes, ambiente, entre outros”, argumentou.

O PIB representa a soma total de todos os bens e serviços finais produzidos em numa determinada região, como um município ou país.

Difícil acesso a financiamento

Para criar um negócio, é preciso capital de investimento. No entanto, o acesso a financiamento continua a ser um dos principais obstáculos dos empresários, de acordo com os inquéritos do Banco Mundial às empresas entre 2015 e 2021.

“Para resolver este problema, os empreendedores precisam de ter a capacidade de convencer os bancos, garantindo que conseguirão ter lucro e devolver o dinheiro com uma taxa atrativa. Devem também apresentar um certificado de terreno como garantia, caso não consigam cumprir as suas promessas”, explicou Alief Rezzal.

O representante nacional do Banco Mundial para Timor-Leste, Bernard Harborne, defende a reforma de algumas legislações com o intuito de facilitar o acesso ao crédito. “As leis das terras e propriedades e a lei judicial estão a demorar muito a ser revistas e é urgente”, apelou.

Por outro lado, Argélio Vilela, 28 anos, gestor da Federação de Boxe Amador de Timor-Leste, não acredita que o país está a crescer economicamente. “O nosso PIB ainda é um número abstrato. Crescimento económico significa uma maior acumulação de capital, um desenvolvimento social e um progresso da tecnologia, algo que não me parece que esteja a acontecer”, lamentou o jovem.

Para o gestor, a ideia de pedir empréstimo aos bancos pode pôr em causa a independência financeira, referindo o facto de Timor-Leste dever dinheiro a bancos internacionais desde 2012 em mais de mil milhões de dólares, estando previsto terminar o pagamento em 2062.

“Estes empréstimos são utilizados, na sua maioria, para um único setor: desenvolvimento das infraestruturas como estradas, pontes, portos, aeroportos, entre outros. Mas até agora, estas obras não estão a trazer retorno para o bem da população, como a autoestrada no Suai ou o aeroporto em Oé-Cusse”, opinou, acrescentando ainda que, sem uma política apropriada para garantir os bens e serviços, não haverá resultados efetivos.

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  1. Os 12 milhoes que vao gastar com a ida do Papa, dava para uns bons postos de trabalho, aumentado os 30% para 40%, sem intervencao divina!

  2. Ligado com a tematica, se pudesse, reforcar com os dados laborais que involvam no setores produtivas tal como Agricultura, negocio, etc

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