Em sete anos, Timor-Leste cai 18 posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano

Relatório da ONU mede o rendimento dos habitantes, expetativa de vida ao nascer e escolaridade, com o intuito de avaliar o bem-estar de uma população/Foto: Timor Skyview

Elaborado pela Organização das Nações Unidas, relatório demonstra que o país ocupa a 155ª posição entre 193 nações avaliadas. Dados mais atuais vão até 2022.

Entre 2015 e 2022 Timor-Leste desceu 18 posições no ranking que mede o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), passando a figurar na 155ª posição entre 193 países avaliados, de acordo com uma análise da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgada na última quinta-feira (14.03). Intitulado “Pôr fim ao impasse: reimaginar a cooperação num mundo polarizado”, o Relatório do Desenvolvimento Humano 2023/2024 apresenta dados atualizados até o ano de 2022 e refere que o IDH de Timor-Leste é de 0,566: em 2021, conforme a revisão mais recente, o valor é de 0,574, que corresponde ao 153º lugar no ranking.

O índice varia de 0 a 1: quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano de determinada nação. A amostra compara indicadores que medem o rendimento dos habitantes, esperança média de vida ao nascer e escolaridade, com o intuito de avaliar o bem-estar de uma população.

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Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 2023/2024

O valor atribuído a Timor-Leste em 2022 coloca-o na parte de baixo da categoria das nações de médio desenvolvimento humano: o país fica à frente das Ilhas Salomão (0,562), Síria (0,557), Haiti (0,552), Uganda (0,550) e Zimbábue (0,550). Entre as nações da Ásia Oriental e Pacífico, o valor geral do IDH é de 0,766 (IDH alto).

Já em comparação com os estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Timor-Leste supera apenas a Guiné-Bissau (0,483) e Moçambique (0,461): Portugal (0,874, IDH muito alto), Brasil (0,760, IDH alto) e Cabo Verde (0,661, IDH médio) ocupam os três primeiros lugares.

De acordo com o relatório, a esperança média de vida dos timorenses é de 69 anos e, em geral, os cidadãos sobrevivem com 1,60 dólares por dia, muito abaixo da linha da pobreza internacional: 2,15 dólares por dia.

Na avaliação do pesquisador da Organização Não Governamental La’o Hamutuk, Charles Scheiner, o declínio do país tem a ver com a falta de atenção aos setores da educação, saúde e diversificação económica. “As pessoas não querem reconhecer que a sua qualidade da vida está a piorar. A nação ainda está com alta pobreza multidimensional e malnutrição”, ressaltou num estudo realizado em 2022. Desde 2000, a La’o Hamutuk monitoriza a condição socioeconómica de Timor-Leste, publicando relatórios e análises com regularidade.

O diretor-geral do Planeamento e Orçamento do Ministério das Finanças, José Alexandro de Carvalho, acredita que a melhoria da vida dos cidadãos pode ser impulsionada através de investimentos privados, para ampliar oportunidades de trabalho. Além disso, defende uma política pública para desenvolver a educação e saúde.

“É uma realidade visível que ainda há pessoas que vivem em más condições. Por isso, não podemos só exigir do Governo. Todos devem trabalhar para desenvolver o país”, afirmou.

Os primeiros lugares no ranking do IDH são ocupados pela Suíça (0.967), Noruega (0,966) e Islândia (0,959).

Desafios

Segundo o estudo da ONU, os indicadores do IDH, a nível global, ainda não voltaram à média de antes da pandemia de covid-19, quando os valores tinham uma tendência de evolução todos os anos. A falha na recuperação deve-se, entre outros fatores, à polarização política, que bloqueia uma cooperação internacional para resolver problemas como alterações climáticas, violações dos direitos humanos, além de questões económicas e educacionais.

“A interdependência mal gerida dos países reflete-se no aumento da pobreza e da fome a nível mundial nos últimos anos, afastando o mundo do caminho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, consta no documento.

Sobre o relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que a “melhor esperança para o futuro é combater a retórica divisionista e destacar objetivos comuns que unem a grande maioria das pessoas em todo o mundo”.

A ONU prevê que no levantamento sobre o ano de 2023 os países com alto desenvolvimento retomem a média pré-pandémica do IDH. No entanto, o estudo destaca que mais da metade dos países menos desenvolvidos não vão conseguir avançar, porque “têm baixos níveis de rendimento e enfrentam vulnerabilidades que os tornam ‘o segmento mais pobre e mais fraco’ da comunidade internacional”.

A desigualdade entre países ricos e em desenvolvimento é reforçada pelo facto de quase 40% do comércio mundial de bens estarem concentrados em três ou menos nações, segundo o relatório. A disparidade económica também é visível em Timor-Leste, em que o salário mínimo no país é oito vezes menor do que a pensão mínima de um político depois de terminar o mandato.

Conforme o estudo, sentimentos de tristeza, stress e preocupação estão presentes em aproximadamente 60% dos países com alto desenvolvimento humano. Esta percentagem sobe para 80% nas nações de médio desenvolvimento e pobres. Em números absolutos, cerca de três mil milhões de pessoas no mundo admitem lidar com esses sentimentos.

A análise indica ainda que metade da população mundial não se sente no controlo das suas vidas e que apenas um terço dos cidadãos acredita que tem influência nas decisões políticas. E, mesmo que 90% dos habitantes em todo o mundo avaliem a democracia como algo positivo, mais da metade das pessoas tendem a mostrar apoio a líderes capazes de prejudicar o ideal.

O relatório é elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNPD, em inglês). No documento, o administrador do UNDP, Achim Steiner, cita que o estudo serve como lembrete de que “as aspirações comuns de desenvolvimento têm de ir para além das conquistas de bem-estar, para permitir que as pessoas se sintam mais no controlo das suas vidas, menos ameaçadas e mais capacitadas para agir perante os desafios comuns”.

Aumentar o fornecimento de bens públicos, reduzir as temperaturas, fazer recuar a polarização e reduzir as lacunas das agências são as estratégias sugeridas pelo documento para incentivar a cooperação internacional na resolução dos problemas globais.

Correção: Diferentemente da informação previamente divulgada, o valor mais recente do IDH de Timor-Leste em 2021 é de 0,574 e não 0,607 (notícia atualizada em 19/03/2024 às 11h56)

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