Independência financeira, criação de emprego e respeito pela igualdade de género e dignidade da mulher são os princípios que orientam o “Ideias – Díli Inovador”, um concurso dinamizado pela UCCLA, AMD e AEMTL, com a colaboração do IADE, que quer promover negócios inovadores. Concurso no âmbito do Projeto Parceria para o Reforço da Governação Urbana, Inclusão Social e Promoção do Empreendedorismo em Díli, do qual é igualmente parceiro a Câmara Municipal de Lisboa e que conta com o apoio financeiro da União Europeia.
Faltam oportunidades para as mulheres timorenses e a sua participação na economia ainda é reduzida. O Índice Global da Igualdade de Género de 2023, do Fórum Económico Mundial, coloca Timor-Leste na 95.ª posição entre 146 países. No entanto, no item da “Participação Económica e Oportunidades”, o país cai para o 120.º lugar.
A União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em parceria com a Autoridade Municipal de Díli (AMD) e a Associação Empresarial de Mulheres de Timor-Leste (AEMTL), quer combater esta realidade. Lançou, por isso, na quinta-feira, um concurso de empreendedorismo, dirigido a jovens mulheres dos 17 aos 25 anos. O período de candidaturas para o “Ideias – Díli Inovador” começou esta sexta-feira, 8 de setembro.
Realizado no âmbito do projeto “Parceria para o Reforço da Governação Urbana, Inclusão Social e Promoção do Empreendedorismo em Díli”, financiado pela União Europeia (UE), o concurso pretende promover uma maior participação feminina no mundo dos negócios.
Marc Fiedrich, embaixador da União Europeia em Timor-Leste, explicou, no seu discurso na cerimónia de lançamento, que a iniciativa visa promover “a exploração de oportunidades de negócio por parte de mulheres, criando postos de emprego para os timorenses e promovendo, ao mesmo tempo, o crescimento económico em Díli”.
O diplomata lembrou também o fenómeno migratório dos jovens dos municípios para Díli à procura de trabalho, tarefa complexa. “Para que Díli possa suportar o seu crescimento populacional e prospere, são precisos empresários, que não se apoiem a si próprios, mas que criem empregos para outros”, afirmou, desejando uma boa adesão das jovens timorenses a este concurso.
Para Marc Fiedrich, a atividade “trata de resolver problemas, impulsionar a inovação e moldar um futuro mais brilhante e mais sustentável. Capacitar as jovens mulheres para assumirem a liderança das empresas não é apenas um imperativo social, mas um objetivo económico e de desenvolvimento prioritário”.
Tem de se perder o medo de errar, defendeu a presidente da Autoridade Municipal de Díli (AMD), Guilhermina Ribeiro. “É através dos erros que aprendemos e das tentativas que crescemos. É essencial estar disposto a olhar o risco e procurar constantemente melhores formas de fazer as coisas”, salientou.
A presidente da AMD considera este concurso “uma ajuda para identificar o potencial de empreendedorismo das jovens timorenses, principalmente no município de Díli.” Comprometendo-se a empoderar as mulheres, sobretudo a nível económico, Guilhermina encoraja-as a tentar ver o mundo de uma forma diferente, livrando-se da dependência dos homens que pode alimentar a violência. “Feto Bele!”, exclamou.
Trata-se, enfim, de “criar igualdade de oportunidades e mulheres independentes”, resume Célia Silva Ximenes, técnica da UCCLA.
Independência é palavra-chave da iniciativa. Raquel Rodrigues Carvalho, representante da equipa de coordenação da UCCLA, defendeu: “Uma mulher que depende financeiramente do seu parceiro acaba por não ter alternativas de saída de um cenário de violência”.
Apoiando-se nos últimos dados lançados pelas Nações Unidas, Raquel Carvalho nota: “Estima-se que, em Timor-Leste, pelo menos uma em cada três mulheres foi vítima de violência física e/ou sexual durante a sua vida. A dependência financeira da mulher face ao homem é uma das razões, o que se deve a razões mais profundas, de entre as quais a falta de acesso a recursos e oportunidades por parte das mulheres”.
Para a representante, só é justa a concorrência no mercado de trabalho, “se os homens e mulheres estiverem munidas das mesmas oportunidades”. Considera, por isso, pertinente haver mais formação para as mulheres.
Considerando igualmente a iniciativa uma oportunidade de reforço da associação e de criação de emprego, a presidente da AEMTL, Hergui Luina Fernandes Alves, falou, do mesmo modo, sobre a importância da independência financeira: “Sem dependência, não haverá violência”.
Também a vice-presidente da Câmara do Comércio e Indústria Timor-Leste (CCITL), Kathleen Gonçalves, olha para a iniciativa como uma forma de beneficiar o país, principalmente as mulheres. “Investir nas mulheres e jovens é investir para um enorme retorno”, afirmou.
Já o diretor-executivo do Instituto de Apoio de Desenvolvimento Empresarial (IADE), Filomeno Belo, espera desta atividade “novas empreendedoras competentes”.
Como concorrer e o que esperar?
O período de candidaturas decorre de 8 de setembro a 8 de outubro, em torno de três categorias: Ambiente, Turismo/Restauração e Serviços. “Só tem de clicar na página de Facebook Ideias – Díli Inovar, preencher o formulário e outros documentos e enviar. Podem visitar também a AEMTL e a AMD para obter mais informações”, informou a presidente da AEMTL.
O período de análise das candidaturas ocorre durante o mês de outubro e esta constitui-se como a primeira fase de seleção das candidaturas.
As candidatas das 20 melhores ideias inovadoras vão frequentar uma formação do IADE e da AEMTL. A formação, que vai de 6 de novembro a 15 de março de 2024, visa capacitar as mulheres em empreendedorismo e melhorar as ideias de negócios inovadores apresentadas.
A formação será em tétum, uma das línguas oficiais de Timor-Leste, para facilitar a expressão e discussão das ideias, e dividida em duas fases. A primeira é uma formação intensiva diária do IADE sobre como procurar e criar uma ideia de negócio. O segundo curso é da AEMTL, às terças e quintas-feiras, três horas por dia, que vai utilizar um guião da Organização Internacional do Trabalho (ILO, em inglês), Get Ahead, com formadores certificados pela ILO.
Depois da formação, as jovens preparam durante um mês uma apresentação das suas ideias ao júri, atividade que decorre 15 a 19 de abril de 2024. Os resultados desta segunda seleção de seis vencedoras do concurso são anunciados a 26 de abril de 2024. O júri é constituído por dois representantes da AMD, dois da AEMTL, dois do IADE e um da UCCLA.
Segundo Raquel Carvalho, um financiamento de 90 mil dólares será colocado à disposição das seis ideias de negócio vencedoras. “Foi decidido apoiar menos negócios, mas bem criados, do que ter muitos e, passado uns meses ou uns anos, não vingarem. A quantidade não é sinónimo de qualidade”, explicou a representante da UCCLA.
A presidente da AEMTL, Hergui Luina Alves, ressaltou, no entanto, que as outras 14 iniciativas selecionadas serão apoiadas pela associação, com formações até abril de 2024. Esses projetos também serão contemplados com possibilidades de aceder a créditos mais suaves junto dos bancos, sob acompanhamento da AEMTL.
“Com o plano de negócios feito, podem aceder a capital financeiro. Podemos tratar dos certificados de negócio para todas as participantes e distribuí-los juntamente com a atribuição de prémios às seis vencedoras”, encorajou Hergui Alves, informando que vão receber ainda tablets no final da formação.
Raquel Carvalho informou que está, na sua agenda, um programa direcionado à Associação de Deficientes de Timor-Leste (ADTL), promovendo a inclusão das pessoas com necessidades especiais.
Um conselho deixado foi o de que as ideias inovadoras não são necessariamente algo de novo, disse a representante da UCCLA, “sendo que, ao se aproveitar o que já foi feito noutro país, mas não em Timor-Leste, e adaptá-lo é já por si inovador.”.
“Por exemplo, podemos tentar olhar para um objeto, vê-lo como um todo, e perguntarmo-nos: ‘Como é que o posso aproveitar, no seu todo, para gerar um ou mais negócios e, assim, gerar rendimento?’”, sugeriu Raquel Carvalho.
A jovem avançou que a intenção é privilegiar iniciativas que dialoguem com a realidade local, sendo exequíveis e úteis para a cidade de Díli e demais municípios de Timor-Leste. “Espero que as jovens timorenses se apropriem deste concurso, que é mesmo um concurso local e nacional, porque só os locais sabem aquilo que a cidade realmente precisa. Não é uma imposição ou importação de um modelo externo, pois esses nem sempre são os mais apropriados”, concluiu.
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