No âmbito da celebração do Dia Mundial das Remessas Familiares, assinalado a 16 de junho, o Diligente conversou com alguns trabalhadores timorenses que se encontram a trabalhar no estrangeiro, para onde partiram em busca de melhores condições de vida.
Segundo um estudo da Organização Internacional das Migrações (OIM), aproximadamente 50 mil timorenses residem no estrangeiro atualmente.
O valor das remessas enviado por trabalhadores timorenses no exterior para o país foi, em 2021, de cerca de 170 milhões de dólares americanos, um montante que fica atrás apenas das receitas geradas pela exportação de petróleo e de gás e que é superior ao valor do orçamento alocado para a Educação e Saúde anualmente, segundo os dados divulgados pelo Ministério das Finanças de Timor-Leste.
“As remessas da diáspora são uma oportunidade para diversificar a economia e as fontes de receitas nacionais, através da introdução e exploração de títulos (obrigações da diáspora) com maturidade de curto e médio prazo, que podem permitir o financiamento de importantes setores económicos, incluindo o turismo, agricultura, saúde e educação”, afirmou o Ministro das Finanças, Rui Gomes, durante o lançamento da Política Nacional para Engajamento da Diáspora e Estratégia para Mobilização de Remessas, em junho do ano passado.
“Todos os meses, mando 1000 dólares australianos (cerca de 687 dólares americanos) para os meus pais”
“Licenciei-me em economia, no Instituto Of Bussines (IOB), Díli, em 2021. Posteriormente, procurei emprego, mas sem sucesso. Na altura, desempregada e estando os meus pais com uma situação financeira difícil, que não lhes permitia sustentar-nos nem pagar os estudos do meu irmão, decidi procurar oportunidades de trabalho fora do país, através da SEFOPE (Secretaria de Estado para Formação Profissional e Emprego).
Depois de um longo processo burocrático, graças a Deus consegui entregar todos os documentos e fui selecionada. Embarquei para a Austrália em outubro do ano passado e há oito meses que estou a trabalhar na colheita de flores, na empresa Oliver Flower.
Enquanto que em Timor recebemos o salário mínimo mensalmente, aqui recebemos, semanalmente, 1.200 dólares australianos, ou seja, 4.800 por mês, o que representa 3.297 dólares americanos.
Todos os meses, mando 1000 dólares australianos (cerca de 687 dólares americanos) para os meus pais. Uma parte deste valor é para pagar as propinas da escola do meu irmão. Neste momento, estou a juntar dinheiro para que, no futuro, possa estabelecer a minha própria empresa de criação de gado para vender. Também já estou a construir uma casa em Díli para arrendar”.
“É muito difícil ajudar a minha família, mas ainda assim, consigo pagar os estudos da minha irmã”
“Cheguei cá em agosto do ano passado e comecei a trabalhar como empregada de mesa. Neste trabalho, tenho aprendido a interagir com pessoas novas, conheci outras culturas e tive experiências incríveis. O meu trabalho é muito tranquilo. Normalmente, estou ao balcão a atender os clientes, mas quando não há muito movimento, gosto de ajudar os meus colegas na cozinha e na limpeza.
Trabalho nove horas por dia e, às vezes, trabalho também duas ou três horas extra. Recebo cerca de 1.400 dirham por mês (cerca de 381 dólares americanos), que é muito pouco quando convertemos em dólares americanos. É muito difícil ajudar a minha família, mas ainda assim, consigo pagar os estudos da minha irmã”.
“Gosto muito do meu trabalho, porque sinto que o rendimento é suficiente para apoiar economicamente a minha família em Timor-Leste”
“Uma das razões que me trouxe cá foi para ajudar a melhorar a vida da minha família. Em Timor-Leste, só ganhava 120 dólares americanos, o que não dava para sobreviver. Decidi procurar formas de sair do país e depois de várias tentativas, decidi arriscar por conta própria e vim para cá. Neste momento, estou a trabalhar na construção civil com equipamentos modernos e seguros.
Por mês, recebo cerca de 2500 a 3000 ringgit (680 a 816 dólares americanos). Gosto muito do meu trabalho, porque sinto que o rendimento é suficiente para apoiar economicamente a minha família em Timor-Leste, para quem, todos os meses, envio 2000 ringgit (aproximadamente 430 dólares americanos)”.
“Os meus pais são agricultores e não nos conseguem sustentar a todos, por isso, decidi não continuar a estudar no ensino superior, porque queria arranjar um trabalho para os poder ajudar”
“Cheguei a Inglaterra em dezembro de 2020, mas só comecei a trabalhar em abril de 2021. Em 2022, mudei-me para a Irlanda, à procura de outras oportunidades de trabalho e cá estou. Aqui, as pessoas respeitam muito o horário de trabalho, dizem sempre time is money (o tempo é dinheiro, em português). Por exemplo, eu começo o meu turno às 6h00 da manhã e antes dessa hora já estou no local de trabalho. Em Timor é ao contrário, um funcionário que deve entrar ao serviço às 8h00, pode entrar às 8h30 ou 9h00.
Na Irlanda, para ganhar a vida é preciso trabalhar, ninguém depende de ninguém. Eu trabalho quatro dias por semana, 12 horas por dia, entro às 6h00 e saio às 18h00. Tenho dois intervalos, 30 minutos de manhã para o pequeno-almoço e outros 30 minutos de intervalo para o almoço.
Sou o primeiro filho de três irmãos. Então, como irmão mais velho, sinto-me responsável em ajudar os meus pais e irmãos. Os meus pais são agricultores e não nos conseguem sustentar a todos, por isso, decidi não continuar a estudar no ensino superior, porque queria arranjar um trabalho para os poder ajudar.
Do dinheiro que recebo, transfiro sempre uma parte para a minha família e fico com outra para pagar todas as despesas que tenho aqui: luz, água, depósito de lixo, entre outros. Em Timor-Leste, não temos todas estas despesas, mas acho que o dinheiro que envio é suficiente para sustentar a minha família, porque paga as propinas dos meus irmãos e a construção de casa nova para os meus pais.
Aqui, recebo cerca de 1.500 pounds (cerca de 1.920 dólares americanos) por mês. Deste valor, envio 1.000 pounds para a família. Quando tenho tempo livre, faço outros trabalhos para complementar o rendimento. No futuro, gostaria de construir mais uma casa e quando voltar vou aplicar o que aprendi aqui e abrir um negócio”.