Dia Mundial da Saúde Ocular: patologias mais graves acontecem por falta de procura de atendimento especializado

Médicos do HNGV realizam exames de oftalmologia/ Foto: Fo Naroman Timor Leste

Celebra-se hoje, dia 10 de julho, o Dia Mundial da Saúde Ocular. A data tem como objetivo alertar para a necessidade de acompanhamento preventivo com o médico oftalmologista, de modo a garantir a boa saúde dos olhos. A saúde visual deve fazer parte da rotina, de forma a podermos reduzir o agravamento de doenças óticas, que podem provocar a perda moderada ou severa da visão.

De acordo com o Censo da População e Habitação de Timor-Leste de 2022, 17.061 pessoas, ou seja, 1,4 por cento da população total, apresentavam uma ou mais deficiências ou limitação física. As patologias da vista ocupam o segundo lugar, com cerca de 3600 mulheres e perto de 3100 homens a apresentarem problemas oculares, logo a seguir às deficiências motoras.

O Diligente saiu à rua para saber quais os principais problemas que afetam a saúde ocular dos timorenses. Alguns dos entrevistados cometeram erros que condicionaram a sua saúde visual, como não procurar aconselhamento especializado apesar de surgirem sintomas, nomeadamente, dores de cabeça, visão turva ou outras alterações da visão, ou até usarem óculos de colegas, em vez de óculos com graduação prescrita pelo oftalmologista de acordo com o seu problema específico.

Octávia da Conceição Carvalho, religiosa da Congregação Escravas de Sagrado Coração de Jesus, em Cassait/Foto: DR

“Em 2018, fiz um teste no Japão, mas os oftalmologistas disseram que não tinha nenhum problema visual. Depois em 2020, comecei a sentir os meus olhos a ficarem secos frequentemente, lacrimejava muito, o que me provocava fortes dores de cabeça e, às vezes, tonturas. Foi aí que suspeitei que tinha algum problema na vista. Em 2022, já não conseguia ver ao longe e então decidi vir ao Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV). Os médicos informaram-me que tenho um problema nos olhos, mas graças a Deus ainda não entrei numa fase crítica. Foram-me prescritos óculos e agora sinto-me melhor e consigo fazer o meu trabalho diário mais facilmente. Eu dou aulas a crianças e tinha alguma dificuldade em ler, mas agora já não. Antes via tudo desfocado.”

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Albino Mendes Pereira, 40 anos, agricultor de Laga, Baucau/Foto: Diligente

“Há dois anos que não consigo ver e, por isso, deixei de trabalhar. A minha esposa é que teve de tratar da horta para podermos ter alimentos, porque eu fiquei cego. Em 2021, depois de uma tarde a limpar o terreno, voltei a casa e adormeci. Quando acordei no dia seguinte, não conseguia ver. Pedi aos meus filhos que confirmassem se os meus olhos estavam abertos ou fechados, mas disseram-me que estavam abertos. Fiquei assustado e questionei-me porque é que fiquei sem ver de repente.

Durante os primeiros dias, fiquei muito stressado. Durante dois anos, não podia andar sozinho, quando tentava, ia contra as coisas e caía. Nunca fui ao médico, porque não tinha conhecimento sobre o tratamento.
Este ano, o meu irmão disse-me que poderia fazer tratamento no HNGV, por isso, na segunda-feira passada, vim cá e os médicos disseram-me que teria de ser operado. Operaram, na semana passada, primeiro o olho direito e já consigo ver, hoje fiz a cirurgia ao outro e estou confiante de que vou conseguir ver dos dois olhos.”

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Julião Jerónimo, 50 anos, vendedor de roupas, em Taibessi/Foto: Diligente

“Antes não tinha qualquer problema visual, mas, no mês passado, tive um pequeno acidente. Estava a reparar as telhas partidas de minha casa e um pedaço de ferro entrou num dos meus olhos e deixei de ver, não consegui controlar as lágrimas e fiquei com dores de cabeça muito fortes. Então, vim diretamente para o hospital. Os médicos deram-me fármacos e recomendaram que eu usasse óculos para proteger os meus olhos do sol, do pó e de outros objetos pequenos.

Neste momento, já não tenho dores de cabeça e não choro tanto, mas vou continuar a cumprir todas as orientações para poder ficar melhor, porque se ficar cego, não posso fazer nada e isso não pode acontecer. Sou casado e tenho quatro filhos que ainda dependem de mim.”

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Samuel da Costa Mendonça, 27 anos, agricultor em Hera/Foto: Diligente

“Em abril deste ano, senti que a minha visão ficava desfocada regularmente, mas não vim ao hospital, passei dois meses em casa. Quando decidi vir à consulta de oftalmologia, os médicos diagnosticaram uma infeção ocular.

Agora, sinto-me muito feliz, porque os oftalmologistas conseguiram encontrar uma solução para o meu problema. Já posso ver, já não caem mais lágrimas e sinto que os meus olhos funcionam normalmente como antes. Receitaram-me óculos para proteger os meus olhos do pó e de objetos que possam afetar a vista.”

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Caetano Manuel Tilman, 43 anos, funcionário do Ministério da Solidariedade Social e Inclusão (MSSI)/Foto: Diligente

“Percebi que tinha um problema visual, porque não conseguia ver as letras pequenas no computador e de vez em quando vertiam lágrimas sem que eu conseguisse controlar. Já há dois anos que tenho este problema, mas nunca procurei ajuda médica. Hoje, trouxe a minha mãe à consulta e aproveitei para também ser observado.

Cheguei a tentar usar os óculos dos meus colegas para poder trabalhar, mas não fiquei melhor, pelo contrário, senti que os sintomas estavam a piorar, talvez porque não são óculos indicados por médicos oftalmologistas. Um amigo aconselhou-me a vir ao hospital para que os médicos pudessem diagnosticar corretamente o meu problema e receitar-me os óculos adequados.

Após a consulta, o médico recomendou que usasse óculos e que voltasse daqui a dois anos para perceber se melhorei ou piorei. No entanto, se nos próximos dias tiver algum problema, posso vir cá diretamente.”

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Claudina Belo Gusmão, 67 anos, tecedora de tais, em Viqueque/Foto: Diligente

“Percebi que tinha um problema há quatro anos, quando não consegui enfiar a linha na agulha e via dois buracos na agulha. Sem fazer exames médicos, decidi comprar um par de óculos numa loja, mas não funcionaram, depois comprei outro par online, por 50 dólares, mas também não me ajudaram, pelo contrário, sentia que estava cada vez pior. No ano passado, os meus filhos disseram-me que deveria vir a uma consulta no hospital.

O médico receitou-me uns óculos no valor de 40 dólares e alguns medicamentos que não consigo encontrar nas farmácias. Hoje, vim cá novamente para confirmar com os médicos, mas disseram-me que estes medicamentos ainda não existem no hospital e sugeriram que os comprasse na farmácia Flodova, em Surik Mas. Desde que tenho este problema, nunca mais teci, porque tenho muitas dores, não controlo as lágrimas e não consigo ver bem.”

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  1. Nao vejo nada de palpavel. Ta tudo as escuras.
    Escuro como breu. Nascido en Dili, Timor Leste, em crianca sonhava ver o neu POVO usufruir uma vida que eu so sonhos, mesmo sendo filho de “malais”. Para quando o dia mundial do piolho? Da verdade? Da verdadeira realidade?
    Ah sonhos de castelos de areia, areia movedica!

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