Um painel de jornalistas timorenses de alguns dos principais órgãos de comunicação social de Timor-Leste, moderado por Constantino Sávio, jornalista estagiário do Timor Post, reuniram-se hoje, no Centro Cultural Português de Díli, , para abordar a importância, os desafios, o presente e o futuro da língua portuguesa na comunicação social do país. Os desafios da aprendizagem e compreensão do português, língua oficial a par do Tétum, e os atropelos à liberdade de imprensa foram as preocupações em destaque.
O debate subordinado ao tema “a língua portuguesa na comunicação social timorense” foi promovido pelo Consultório da Língua para Jornalista (CLJ), projeto de formação de língua portuguesa para jornalistas timorenses – uma parceria do Camões I.P. e do Ministério dos Assuntos Parlamentares e da Comunicação Social de Timor-Leste (MAPKOMS) – no âmbito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se assinala hoje, dia 3 de maio, e do Dia Mundial da Língua Portuguesa, que se comemora sexta-feira, dia 5.
Delfim de Oliveira, jornalista do Grupo Nacional de Media- GMN TV, começou por realçar que a divulgação de notícias em português “está no bom caminho, mas ainda há falta de recursos humanos e financeiros para produzir notícias nesta língua oficial”.
“A GMN está a gastar muito dinheiro para comprar conteúdos em português e não podemos continuar assim se não tivermos nenhum retorno”. Apesar das dificuldades, “a GMN quer continuar a produzir informação em português, mas, para isso, ainda precisa de apoio dos revisores de português”, salientando que“é muito difícil escrever numa língua que estamos, ao mesmo tempo, a aprender”.
Ainda relativamente à programação em português, o jornalista lamentou que o programa “CPLP na GMN” não tenha as visualizações esperadas e que a página em português do jornal Semanário não tenha muitos leitores, dois problemas que atribui “à falta de hábitos de leitura dos timorenses”.
Oliveira defendeu que é necessário haver “mais divulgação dos programas em português para conquistar o interesse do público e ser possível continuar a investir e a produzir mais conteúdos nesta língua”.
O jornalista, com mais de 10 anos de experiência, confessou já ter assistido, ao longo da carreira, a várias formas de censura e pressão, inclusivamente “chamadas de membros do Governo a pressionar para que determinados conteúdos não fossem publicados”. Lembrou ainda um episódio em que jornalistas da estação foram acusados de “inventar e ser tendenciosos, por publicarem uma reportagem sobre uma família que passava fome”. Tudo isto é, nas suas palavras, “uma gestão difícil”, mas o trabalho dos jornalistas não pode ser “publicar o que os governantes dizem, em vez de mostrar as dificuldades que o povo enfrenta”.
Muitas vezes, “as questões económicas também falam mais alto” e os salários baixos que se praticam “trazem constrangimentos ao trabalho destes profissionais”, que não querem perder os seus empregos. “A independência para desempenhar o nosso papel como jornalistas não é total”, lamentou.
Yane Maia, revisora de conteúdos jornalísticos em língua portuguesa no CLJ, reconheceu que o tétum deve muito à língua portuguesa. “Escrevo bem em tétum graças ao português. Depois de aprender intensivamente o português no CLJ, fui capaz de escrever bem e de forma estruturada em tétum.”
A revisora explicou que o tétum não tem vocabulário suficiente em determinadas áreas como a justiça ou a economia e, por isso, “os jornalistas, quando escrevem sobre estas temáticas, têm obrigatoriamente de recorrer ao português”. Para aperfeiçoar esta língua, a revisora sublinha que é necessário ler muito e que embora seja difícil, não é impossível: “há cinco anos não sabia dizer uma frase em português e agora estou aqui convosco, a falar para uma plateia”.
Questionada pelo público sobre a existência de censura ou autocensura, a revisora considerou que ambas são uma realidade no país e defendeu ser“preciso rever a avaliação da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) sobre a liberdade de imprensa em Timor-Leste”. Não são raros os casos de“colegas com medo de fazer o seu trabalho que contam episódios em que os assessores de comunicação os impedem de fazer perguntas”.
A organização não governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras divulgou, esta quarta-feira, o “ranking” mundial da liberdade imprensa, com Timor-Leste a subir para a 10º posição, num total de 180 países. Depois de ter ocupado a 17º posição em 2022, esta subida coloca agora o país em primeiro lugar no grupo de nações do Sudeste Asiático. A RSF considera que “de modo geral, os jornalistas conseguem cobrir assuntos atuais livremente e é raro serem vítimas de assédio ou agressão. Contudo, ainda são confrontados com uma ampla gama de pressões que limitam o livre exercício da profissão: processos judiciais, intimidação, violência policial e difamação pública dos média por parte de líderes políticos”, pode ler-se no site da organização.
Mateus da Silva, jornalista estagiário na GMN, considera “difícil produzir conteúdos em português para televisão, que todas as faixas etárias compreendam”, uma vez que “a maioria dos espectadores ainda tem dificuldades em entender esta língua, apesar de usarmos palavras simples precisamente para facilitar a compreensão”.
Por sua vez, Eduardo da Silva, diretor do Diligente, o primeiro órgão de comunicação social timorense totalmente em português, explicou que “todas as nossas notícias têm um glossário: basta passar o dedo em cima das palavras destacadas e poderão aceder aos seus significados em português e em tétum, o que facilita a compreensão dos nossos conteúdos informativos e, ao mesmo tempo, promove a aprendizagem da língua portuguesa”.
O diretor lamentou que seja difícil entrevistar “pessoas importantes”, que “muitas vezes, se recusam a responder a perguntas mais incómodas ou a falar sobre assuntos mais sensíveis”.
Acrescentou ainda que a necessidade de cartas para entrevistar os governantes dificulta o trabalho jornalístico, “bem como a burocracia e as esperas prolongadas. Sentimos dificuldade em abordar temas ligados à Igreja Católica, à comunidade LGBTQI+ e à corrupção. As ‘pessoas importantes’ não gostam de falar sobre estes assuntos”.
Os jornalistas em Timor-Leste vivem um dilema estrutural: “obedecer a uma servidão confortável para ter dinheiro ou ousar criticar e, com isso, arriscar perder o emprego”, alertou Eduardo Soares.
“Se publicarmos um texto que fale de assuntos que ponham em causa a Igreja, somos logo apelidados de ateus e traidores, quando, na verdade, estamos apenas a fazer o nosso trabalho. A missão de um jornalista é muito importante para o bem comum e é necessário que tenhamos pensamento crítico para que possamos fazer o nosso trabalho da melhor forma possível”, concluiu.
O formador de jornalismo do CLJ, Helson França, destacou os “avanços inegáveis na questão da liberdade de imprensa em Timor-Leste”, sem deixar de sublinhar que “há ainda um longo caminho a percorrer para conseguir resolver os desafios que os jornalistas enfrentam”. O jornalista deu o exemplo do Brasil, o seu país de origem, onde os jornalistas têm mais facilidade em aceder e confirmar dados. “Os sites das instituições estão legalmente obrigados a disponibilizar essas informações, está previsto na lei da liberdade de imprensa, ao contrário do que acontece em Timor-Leste”. O jornalista lamentou também o facto de os “assessores de imprensa atuarem mais como seguranças das estruturas de poder do que como uma ponte entre estas e os jornalistas”.
Helson França defendeu que os jornalistas timorenses devem unir-se na luta pelos seus direitos, como melhores salários e condições de trabalho, num esforço que exige “um trabalho que demora muito tempo e que tem de ser feito dia após dia”, realçando que Timor-Leste “tem profissionais capazes, interessados e empenhados em consolidar estes avanços”.
Já a adida da cooperação, Cristina Faustino, destacou, na intervenção de abertura do debate, a importância do trabalho desenvolvido pelo CLJ que “tem ajudado na melhoria da proficiência em português dos profissionais da comunicação social timorense e na promoção da liberdade de imprensa”, salientando ainda que “a riqueza de Timor-Leste não é o petróleo, mas sim os jovens”.
Formem um partido e nao um sindicato, concorram as proximas eleicoes e mudem o sistema de liberdade a conta gotas existente.
Na saude o mesmo, criem um partido politico de medicos, enfermeiros e pessoal menor de saude. So como partidos politicos com assento parlamentar podem fazer a diferenca.
Uma ideia que ira trazer melhorias.