Originária da Índia há milhares de anos, a atividade envolve meditação, movimento e técnicas de respiração, promovendo o bem-estar físico e mental.
Os primeiros raios de sol começavam a iluminar Timor-Leste e dezenas de pessoas, locais e estrangeiros, com tapetes coloridos debaixo do braço, dirigiam-se para o Hotel Esplanada, em Díli, no sábado passado (17.06). Numa sala ampla, os participantes, um a um, começavam a distribuir os materiais pelo chão e, sem pressa, davam início ao aquecimento, com gentis alongamentos.
Às 06:30, um homem sorridente, que dava instruções ao grupo, deu a conhecer o objetivo do encontro: praticar ioga, atividade que celebra hoje, dia 21 de junho, o seu Dia Internacional – data proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas desde dezembro de 2014 para destacar a importância do autocuidado.
Na prática do último sábado, coordenada pelo grupo Ashtanga Yoga Díli, mais de 70 pessoas marcaram presença.
Ioga é uma prática antiga que combina movimento, técnicas de respiração, meditação e filosofia para promover o bem-estar físico, mental e espiritual. Com origem na Índia há milhares de anos, a ioga tem como objetivo unir o corpo, a mente e o espírito. A palavra “yoga”, que vem do idioma sânscrito, significa união.
Popular em todo o mundo pela sua natureza inclusiva, a atividade, em Timor-Leste, cada vez mais conquista um número maior de praticantes – ou ioginis. Para tentar perceber um pouco esse universo e as razões que levaram as pessoas a se envolverem na prática, o Diligente acompanhou de perto a referida sessão realizada pelo Ashtanga Yoga e conversou com alguns ioginis.
Mudanças na vida
Henriqueta da Silva, 50 anos, diretora da Pós-graduação de Medicina Tropical e Saúde Comunitária na Universidade Nacional Timor Lorosae (UNTL), contou que antes de praticar ioga, era uma pessoa muito ansiosa e tinha dificuldade em dormir. “Tudo mudou quando conheci a ioga, em 2020”. Depois de praticar regularmente, nota mudanças no seu corpo e sente-se mais calma.
A diretora sugere que a atividade chegue a todos para que as pessoas possam usufruir dos seus efeitos positivos para a saúde física e mental.
Já Fernando Tapu, 21 anos, estudante, atribui à ioga a melhoria da sua ansiedade e dores físicas. “Agora, devido à prática regular desta atividade, consigo controlar os estados de ansiedade e as dores no corpo diminuíram”, relatou.
“Sentiu o bem-estar que a atividade lhe proporcionava e encontrou um novo sentido para si”
A maioria dos instrutores na Díli Ashtanga Yoga é timorense, entre eles, está Alberto dos Reis Mendonça, 31 anos, que conheceu a atividade em 2019.
“Quando assisti pela primeira vez a uma aula, tive medo e achei que nunca conseguiria praticar ioga, pois tive um acidente de mota e fiquei com um problema nos joelhos. O ortopedista recomendou que fizesse alguns exercícios, mas não me deu orientações específicas”.
Começou, então, a fazer ioga, porém, depois de duas semanas ficou doente. Sentia-se muito cansado, tinha dores de cabeça e febre. “Era o corpo a reagir ao exercício físico que nunca tinha feito”.
Perante as adversidades, o atual instrutor de ioga não desistiu. Falou com o professor dele na altura e diminuiu a intensidade da prática. Passados três ou quatro meses, começou a ter mais flexibilidade e as dores nos joelhos desapareceram.
Sentiu o bem-estar que a atividade lhe proporcionava e encontrou um novo sentido para si. Apaixonado pela prática, decidiu investir em formações para também ele poder dar aulas e contribuir para que mais pessoas se pudessem sentir bem consigo mesmas.
Alberto é o primeiro instrutor timorense certificado pela Yoga Alliance, organização comercial e profissional sem fins lucrativos acreditada para habilitar pessoas a dar aulas de ioga. Dessa forma, começou o seu percurso como instrutor de ioga, em março de 2019.
“Ioga é uma atividade muito boa para a meditação e para a saúde física. Sou agora mais forte e ativo”, resume Alberto, que atualmente trabalha na Ashtanga Yoga Díli.
Fundada em Timor-Leste, em 21 de março de 2016, pelo holandês Ahimsaka Satya, a escola foi a primeira a oferecer aulas de ioga na capital do país.
Oferece também workshops, retiros de ioga em vários sítios do país e recebe praticantes de todos os níveis. Dá formação em diferentes instituições: The Asian Foundation, Care International, USAID, União Europeia, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP, sigla em inglês), Fokupers, Banco Mundial, entre outras.
“Consegui parar de fumar depois de 6 meses a praticar ioga”
Titi Irawati Supardi, 68 anos, indonésia, ex-jornalista, a viver em Timor-Leste desde 2000, contou ao Diligente que, em 2003, foi diagnosticada com diabetes. “No seguimento disso, fui fazer um check up e o médico explicou que tinha um inchaço no coração por causa da idade e também por sofrer há muito tempo de diabetes”.
O médico receitou-lhe medicação para tomar todas as noites. “Até os pés ficavam inchados quando ficava sentada durante muito tempo. Também sentia muitas dores nos joelhos e no pé direito e a pele dos pés rachava facilmente, não conseguia subir escadas, a doença limitava a minha movimentação”.
Em agosto de 2022, leu uma publicação no Facebook a anunciar aulas de ioga em Haburas, Farol. Achou interessante e resolveu experimentar. Contactou o responsável para participar e começou a ter aulas no mesmo mês. Não demorou para começar a sentir mudanças no corpo.
“Os meus pés já não ficavam inchados, já não precisava de tomar medicamentos para controlar a glucose, só tomava para o coração e consegui parar de fumar depois de 6 meses de prática”.
Por ter experimentado os benefícios da prática para a sua saúde física e mental, Titi sugere que todos façam ioga.
Em Timor-Leste, assim como no mundo inteiro, pratica-se vários tipos de ioga. O hatha é o estilo mais tradicional, com muita influência da meditação. Ashtanga é conhecido por ter séries pré-definidas que devem ser seguidas, e por destacar mais o lado físico. Vynyasa é a modalidade com mais movimento, pode-se dizer, já que o praticante não permanece nas posturas (asanas) por muito tempo e as transições devem ser fluidas.
Independentemente do estilo de ioga, qualquer um deles proporciona uma série de benefícios para os praticantes. Não há limite de idade para praticar ioga. Por precaução, às mulheres gestantes é recomendável que procurem confirmação médica antes de darem início à atividade.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) ressalta que a prática enfatiza valores como atenção plena, moderação e perseverança, além de colaborar para uma busca de vida mais equilibrada, com menos stress e em harmonia com o ambiente e as pessoas que nos cercam.