Dia dos namorados: troca de afetos, preconceitos e amor próprio

A data faz referência ao bispo São Valentim que, durante o império romano (século III), contrariou ordens superiores que proibiram os casamentos e realizou uniões clandestinamente/Foto: DR

Na data em que se celebra o amor, pessoas solteiras lembram que a ocasião se estende para além do lado romântico.

Em Timor-Leste, apesar de muitos entenderem o significado do dia – celebrar o amor –, ainda há quem insista que o 14 de fevereiro é destinado apenas aos apaixonados. Além dos rituais convencionais de presentear a “cara-metade” e jantar fora, há um hábito invulgar associado a esta data no país.

Anualmente, no Dia de São Valentim, as redes sociais em Timor-Leste são inundadas por vídeos de casais que se entregam a paixões públicas, desafiando o pudor em lugares insólitos. Este fenómeno, embora legalmente questionável, é um espetáculo recorrente nesta data.

Outros há, mais abonados, que “abrem os cordões à bolsa” e estimulam a indústria hoteleira. Mas para os menos abastados, qualquer arbusto serve como cenário para as suas demonstrações públicas de afeto, em que até a natureza se torna cúmplice do amor arrebatado.

O preconceito contra aqueles que não têm parceiro também se aviva neste dia, assim como outros estigmas associados a relacionamentos. Por exemplo, uma mulher vista ao lado de um homem, muitas vezes, é rotulada de forma negativa, ou as pessoas presumem que vão casar em breve.

A estudante universitária Juanita Pinto já viveu alguns destes problemas, mas mesmo assim a sua vontade em permanecer solteira segue inabalada. Por trás da decisão da jovem está o desejo de não se sentir pressionada.

“Quando atingi a maioridade, decidi não ter parceiro, porque não quero ser pressionada pela família nem pela sociedade. Por exemplo, no meu município, se alguma mulher jovem estiver ao lado de um homem, as pessoas acham que já vamos casar ou que ela é uma mulher fácil. Este comportamento por parte da sociedade afeta-me psicologicamente e contribuiu para que tivesse decidido não ter ninguém”, afirmou.

Outra razão que motivou Juanita Pinto e não querer ter um namorado tem a ver com o facto de não tolerar qualquer ameaça à sua liberdade. “Não quero namorar com alguém que queira controlar a minha vida. No país, a mentalidade patriarcal ainda está muito enraizada e os homens acham que são nossos donos. Prefiro não ter ninguém do que ter um namorado controlador e autoritário. Como se costuma dizer: no man, no problem (em português: sem homem, sem problemas)”, enfatizou.

Juanita Pinto, estudante universitária/Foto: Diligente

Nesta data em que se comemora o Dia de São Valentim, a estudante universitária contou que irá celebrá-la junto de familiares e amigos. “O que importa é que este dia seja feliz para todos. Cada um de nós deve ter amor próprio e é este sentimento que temos de partilhar com os outros, não só hoje, mas todos os dias”, partilhou.

Já o estudante universitário Miguel Afonso, 32 anos, corroborou a opinião da jovem e reforçou que a data de hoje deve ser celebrada, antes de tudo, individualmente. “As pessoas também se esquecem que este dia é para sermos felizes connosco mesmos, antes de procurarmos sê-lo com outra pessoa”, observou.

Para o futuro, porém, assim que consiga ter uma condição financeira mais favorável, espera comemorar a data com uma parceira. Miguel Afonso disse que uma das razões para estar solteiro é ainda depender dos pais. Em Timor-Leste, segundo dados da Organização Não Governamental La’o Hamutuk, o desemprego atinge 27% da população economicamente ativa – sobretudo os mais jovens.

“Sinto que ainda não estou pronto para ter uma parceira. No entanto, espero encontrar alguém um dia”, relatou o estudante universitário.

Quem também vai passar o 14 de fevereiro solteiro e não vê problema nisso é o estudante de informática Nascimento Pereira, 24 anos. O rapaz diz ver mais vantagens em ser solteiro pelo facto de não ter ninguém para o proibir de nada, e refere que o estado civil não significa necessariamente estar sozinho.

“O 14 de fevereiro é o dia do amor e todos o celebram. O amor não tem limites, podemos celebrar a data com a nossa parceira, família e colegas. As pessoas oferecem flores, chocolates e enviam mensagens de amor como se fosse só neste dia que o amor existe. Eu diria que esta data é apenas simbólica e que o amor deve ser praticado todos os dias com todas as pessoas que nos rodeiam”, concluiu.

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  1. O amor nao tem fronteiras, preconceitos, barreiras. O 14 de Fevereiro e para ser celebrado entre 2 pessoas que se amam, independentemente do sexo, solteiro ou casado, amantizado, barlaqueado, etc…
    A melhor prenda de amor que se pode dar neste dia e respeito, amizade, responsabilidade, estar presente um para o outro faca chuva ou faca sol
    Nao sao rosas ou qualquer outras flores, nao sao jantares etc…isso tudo e comercial para chupar a nossa massa, assim como o Natal, carnival, pascoa.

    Ze Casado faz 49 anos, com a mesma mulher

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