Desistir é uma palavra que não faz parte do dicionário de Maria Vitória da Costa Borges, 22 anos, artista timorense e estudante do curso de Inglês na Faculdade de Educação do Instituto Superior Cristal (ISC). Apaixonada pela música, superou os obstáculos até ser reconhecida internacionalmente.
Muitas pessoas conhecem-na apenas de “nome” por ser cantora ou por verem a sua cara em cartazes publicitários espalhados pelo país. Pouca gente, contudo, sabe que Maria Vitória da Costa Borges, a Marvi, antes de se tornar uma das artistas mais bem-sucedidas do país, teve de trabalhar vendendo hortaliças pelas ruas de Díli para, assim, ganhar algum dinheiro e ajudar a família.
Natural da capital, a jovem aguerrida, morena, de cabelo liso, tipicamente timorense, olhos castanhos e sorriso contagiante, partilhou as suas experiências de vida, numa sala silenciosa e iluminada apenas por uma lâmpada.
É entre risos e lágrimas, sentados à volta de uma mesa redonda, acompanhados pelo cheiro forte do café, carinhosamente preparado, que Maria Vitória partilha as suas vivências. “Nunca quis desistir. Nunca. Aquilo que eu faço, faço-o sempre com cuidado. Esforço-me muito. Quero sempre dar o meu melhor. Mesmo que às vezes não ganhe, sigo com a cabeça erguida”, conta ao Diligente, numa voz serena.
O pai é funcionário da Igreja e a mãe era dona de casa. Lutaram sempre para garantir comida na mesa e assegurar que os filhos não passassem fome. “Maria mai han lai mak ba halimar” (Maria, venha comer antes de brincar – em português), costumava ouvir. No entanto, havia dias em que prevalecia o silêncio. Nesses momentos, a menina sabia que era porque não havia alimento.
Numa dessas ocasiões, chegou da escola e viu a família à volta da mesa, a olhar para os pratos vazios. “Chorei, quando vi os meus pais naquela situação”, recorda, com olhos em lágrimas, quebrando o silêncio com uma frase que lhe vem à cabeça sempre que lembra dos momentos difíceis: “Na’i ami sei hanesan ne’e nafatin ka?!” (Deus, e continuávamos a viver assim?! – em português).
Na altura, em 2006, Maria, a irmã e os três irmãos moravam, com o pai e a mãe, numa tenda grande em Motael, já que tiveram de sair da casa onde viviam em Ai-tarak Laran por causa dos conflitos relacionados com a crise política. Juntos formam uma família unida, resiliente e responsável. “No período, com todas as dificuldades, tivemos o apoio – eu, os meus pais e os meus irmãos –, dos nossos vizinhos, também eles desalojados pela crise de 2006. Ajudávamo-nos uns aos outros”, relembrou.
Em 2009, ainda com oito anos, mas já consciente das condições económicas em que a família vivia, Marvi passa também a assumir responsabilidades. De manhã, entre as 4h00 e as 5h00, embrulhada pelo fresco da manhã, começava a caminhar pelas ruas da capital, com as mãos cheias de espinafres, dizendo, numa voz suave: “Kanko, kanko” (espinafres – em português).
“Os meus pais começavam a colher os espinafres por volta das 17h00. Depois de os limparem, iam descansar um pouco. Voltavam a acordar às duas da madrugada para amarrar os espinafres e prepará-los para serem vendidos. Mais tarde, era eu que os vendia em Maloa ou no mercado de Taibesi. Não vendia todos os dias, porque às vezes acordava muito tarde. Mas, sempre que pensava na nossa situação económica, obrigava-me a acordar muito mais cedo do que o normal para sair a vender”, recorda.
Quem canta seus males espanta
Para Maria Vitória, a música é a arte de poder animar ou ser animada, em qualquer situação, sobretudo nos momentos difíceis. “É como um remédio. Quando canto ou quando ouço música, esqueço todos os problemas e sinto-me feliz”. Não hesita quando tem de escolher uma música que a faz sorrir – “Biar moris nee susar teb-tebes, hamnasa nafatin” (Mesmo que a vida seja muito difícil, continua a sorrir – em português).
Maria Vitória viveu sempre com os pais. Em 2006, ano em que se mudaram para Motael, tinha apenas quatro anos. Num cenário caótico, viu crescer a sua paixão pela música.
“Os meus pais esforçaram-se para que eu pudesse cantar. Inscreveram-me em várias competições para crianças, uma delas era a ‘Anima Futuro’, em Díli. Participei nesta competição entre 2007 e 2015. Nas edições de 2007 e 2008, não consegui ganhar. Fiquei bastante triste, mas não desisti. Depois, em 2009, consegui o primeiro lugar. Fiquei muito feliz”, conta com orgulho.
A menina reconhece que numa competição existe sempre “o vencedor e o vencido”. Foi esta ideia que a motivou durante o seu percurso, tendo trabalhado incansavelmente para aprender música. “Não descansei até conseguir o primeiro lugar”. Naquela altura, não media esforços para ser artista. Só pensava em ter dinheiro para poder ajudar a família.
Era um contexto desafiador: uma criança desalojada a tentar vingar no mundo da música, sem apoios e sem recursos. “Nem tinha um telemóvel para assistir a atuações de artistas e aprender com eles… Como é que podia ser artista? Às vezes parecia impossível”, reflete. Por outro lado, Maria Vitória acreditava que a sua preparação “não dependia assim tanto dos materiais musicais. O que importava na altura era fazer o meu melhor. Ouvia uma ou duas vezes a música e já a podia cantar em qualquer lugar”.
Um dia, o seu pai emprestou-lhe um rádio com leitor de cassete, que pertencia ao avô, para treinar. Mais tarde, foi o outro avô que, movido pelo carinho e paixão pela música, ofereceu à menina uma televisão pequena com um leitor de DVD. “Os materiais eram muito simples, mas esforcei-me para que as minhas apresentações corressem bem”, conta com um sorriso tímido.
Em 2012, participa num concurso chamado Jovens Super Star (JSS), em Díli, mas não conseguiu ganhar. Ainda criança, apesar de sentir o peso da derrota, resistiu às vozes que a atacavam e sabia que, mais cedo ou mais tarde, iria vencer. Maria Vitória conta que “algumas pessoas ficavam zangadas por me verem sempre a competir todos os anos. Perguntavam-me: ‘Tu não te cansas?’. Respondia apenas que gostava muito do que estava a fazer e que, por isso, não queria deixar escapar a oportunidade”.
Em 2013, a sua irmã mais velha acaba o ensino secundário e concorre à universidade. Então, os pais ofereceram-lhe um computador portátil. O equipamento não só ajudava nos estudos da sua irmã como também servia para a futura carreira de Maria Vitória no mundo da música. As músicas eram guardadas no computador, uma vez que a pequena Maria ainda nem conhecia o Youtube ou o Facebook.
“A minha irmã mostrava-me as músicas, timorenses e estrangeiras, algumas cantadas em inglês, português ou indonésio. Foi assim que comecei a conhecer os artistas e a saber como eles eram, como se apresentavam em palco, como se mexiam, como cantavam, etc. Comecei então a definir o meu perfil de artista e passei a ter noção de que um dia essa seria a minha vida”, explica.
Nunca teve qualquer formação musical, mas confessa que aprendeu muito com a irmã. “Considero-a a minha professora de música, porque ela gostava muito de ouvir música e corrigia-me sempre que não cantava bem”.
Além das dificuldades no acesso a algum tipo de formação musical, havia também as questões mais práticas, como o transporte para os ensaios. “O meu pai ainda não tinha carro ou mota. Havia transportes públicos, mas não tínhamos dinheiro suficiente para os pagar”, disse. Lembra que um rapaz chamado Baltazar, também um dos desalojados a viver em Motael, lhe chegou a dar a boleia de bicicleta para os ensaios.
Maria Vitória não esquece os esforços da mãe para garantir que as dificuldades financeiras da família não impedissem o sonho da menina. “A minha mãe pedia vestidos emprestados aos vizinhos para eu usar nos concursos. Também pedia que me dessem boleia sempre que necessário. Mais tarde, depois de juntar dinheiro com a venda de espinafres, conseguimos comprar alguns vestidos”, afirma.
“A minha família era muito pobre, mas muito unida. Se não tivesse havido esse esforço de todos, hoje não seria cantora. As pessoas podem pensar agora que foi um processo fácil, mas não. Foi passar por uma escuridão, que me obrigava a um esforço que nem sei bem explicar. Hoje sinto uma enorme gratidão pelo apoio dos meus pais e a Na’in Feto (Nossa Senhora, em português)”, realça a jovem artista.
O tempo passou e a vida, felizmente, mudou para melhor. Hoje são oito a viver numa casa espaçosa: Marvi, o pai, os cinco irmãos e dois jovens que a menina adotou recentemente. A mãe morreu em 2020, vítima de cancro.
Percurso escolar marcado pelo bullying
Entrou na escola primária de Hudi-Laran, em 2007. Na altura, o meio de transporte era a carroça que o pai usava para vender espinafres. “Uns dias íamos a pé para a escola, noutros íamos na carroça. Eram momentos de muita felicidade. Eu e a minha irmã mais nova, quando víamos o meu pai a chegar com a carroça, ficávamos muito felizes, não sei dizer porquê”, conta a jovem.
Com o início da vida escolar, começava também o bullying e os maus-tratos dos seus colegas. “Não consegui ter muitos amigos na escola. Tinha apenas uma amiga, que é até hoje a minha melhor amiga. Ela chama-se Nizia. Nem sei como contar as minhas memórias felizes, porque, durante os meus dez anos de escola, tive muitos episódios tristes. Sofri muito bullying”, confessa, com a voz trémula.
O “kanko, kanko” que dizia quando andava a vender espinafres tornou-se “Maria kanko, Maria kanko” e as palavras eram repetidas vezes sem conta pelas crianças nas ruas e na escola, desde o ensino primário.
Em 2013, com 12 anos, Maria conseguiu terminar o 7.º ano. Em 2014, por não aguentar mais situações de bullying, decidiu mudar para a Escola Cristal, em Balide. “Foi uma senhora chamada Ana Gomes, que mais tarde tornou-se a minha gestora, que me ajudou na transferência para a Cristal”, explica, dizendo que essa mudança só veio piorar as coisas.
“Estava a pensar que ia ter uma vida livre como as outras crianças, porque tudo era novo para mim, o ambiente e as pessoas. Mas não foi bem assim. Na escola Cristal, a situação ficou horrível. A frequência dos maus-tratos aumentou bastante. Chamavam-me: Maria preta, feia, magra, Maria kanko, roupa feia, sapatos esquisitos, cabeça de capacete, etc.”, relembra, balbuciando.
Foram muitas as tentativas de Maria Vitória para não sofrer mais de bullying. Chegou a juntar dinheiro para comprar sapatos novos, que custaram 15 dólares. Com um sorriso tímido, conta: “Falei com uma senhora que costumava importar sapatos novos para comprar um par. A tia (senhora) viu que eu era tão simples e pobre que baixou o preço dos sapatos de 30 para 15 dólares”.
“Qualquer coisa que eu fizesse era motivo para gozarem. Sentia-me desmotivada para continuar os meus estudos, porque sofria de bullying todos os dias na escola. Os professores também me tratavam de forma diferente . Posso dizer que havia racismo na escola e nem os meus pais escapavam. Diziam que os meus pais eram pretos, pobres, magros, etc.”, recorda, entre lágrimas.
O convívio com os colegas era sempre marcado por atitudes desagradáveis, algumas delas no limite da violência. Chegava ao ponto do desespero. “Quando estávamos juntos, diziam ‘Maria, por favor, afasta-te ’ e cuspiam à minha frente. Chorei, chorei bastante. Em certos momentos, nem conseguia engolir a comida, como se tivesse um nó na garganta. Eu só queria ser livre, pá!”, desabafa.
Já no ensino secundário, a estudar na Escola São Pedro, em Comoro, Maria Vitória pensava que os episódios de bullying iriam terminar, porque já tinha uma certa idade. Mas não. “Logo nos meus primeiros dias do 10.º ano, os meus colegas puxaram cadeira para eu cair. O gozo, as ofensas, os maus-tratos continuavam”. Um dia, a menina chegou a queixar-se aos professores, que não se mostraram muito interessados na situação e disseram que “era uma brincadeira”.
A jovem considera que o bullying pode gerar problemas psicológicos, porque “estes episódios não acontecem só nos filmes e têm consequências no nosso bem-estar”. Hoje, já adulta, cruza-se com algumas pessoas que a atacavam no tempo da escola e lembra-se perfeitamente do que lhe fizeram ou disseram. Não sente ódio, porque isso não a deixa “ficar em paz”, mas sente dor pelas memórias que ficaram do tempo da escola.
15 anos de escuridão transformam-se em luz em apenas três meses
O sonho de criança em ser cantora, que parecia eternamente adiado, tornou-se real em 2016, pouco tempo depois de ganhar mais um Jovens Super Star. O mês de outubro foi inesquecível para Maria Vitória da Costa Borges. Adotou Marvi como nome artístico e foi selecionada para representar Timor-Leste no programa Dangdut Academy Asia 2. “Chorei bastante de felicidade. Tinha apenas 14 anos e representar o meu país no estrangeiro era um dos momentos mais incríveis na minha vida”, confessa, num tom emocionado. Toda uma vida marcada por dificuldades parecia finalmente ter algum brilho.
Marvi conseguiu um 4.º lugar no seu primeiro concurso internacional, marcado por muitas horas de ensaios e pela preocupação com o bem-estar da família: havia recebido a notícia da doença da mãe há pouco, o que quase a levou a desistir de tudo. Não desistiu e hoje sabe que foi uma experiência que a fez crescer como pessoa e como artista.
“Queria desistir, principalmente depois de saber que a minha mãe estava com um cancro. Estava baralhada e não sabia o que fazer. Durante aqueles três meses, só pensava em voltar para Timor-Leste, mas sentia que estava a representar o meu país e, sempre que subia ao palco, olhava para a bandeira e esquecia os problemas durante alguns minutos”, conta Marvi, dizendo que também foi buscar forças junto aos timorenses para, numa palavra que define bem o seu povo, resistir.
Na chegada ao Aeroporto de Díli, Marvi foi surpreendida por um mar de gente que a esperava. Conta que, quando viu as pessoas, ficou sem forças. “Até pedi para me segurarem, porque estava quase a cair. Como podia ser possível: uma criança que andava a vender espinafres e em três meses era recebida assim no aeroporto? Quem sou eu? Nada. Porque é que milhares de pessoas deixaram as suas vidas para me receberem? Não queria acreditar”.
Em 2018, Marvi, com 17 anos, era a concorrente mais nova no programa The Voice Portugal. Partiu para Portugal sem pensar se iria ganhar ou não. O que importava era passar por toda a experiência de ensaios e apresentações, num país historicamente tão próximo de Timor-Leste, mas tão longe no mapa. Marvi recorda que “foi uma competição com pessoas talentosas, nativos em língua portuguesa, uma língua que me familiar, mas que não dominava. Estava fora da minha zona de conforto”.
A jovem confessa que aprendeu bastante em Portugal: a língua, música, cultura, comida. As diferenças no clima também deixaram marca. “Fui a Portugal três vezes. Primeiro apanhei calor, depois um pouco de frio. Quando cheguei para a terceira fase em Portugal, quase não aguentava com frio”.
No entanto, a discriminação parecia acompanhar Marvi. Em Portugal, não foi exceção. A língua, a cor da pele, a idade foram fatores que afetaram o modo como se relacionava com os outros concorrentes. “Sou um pouco escura e não falo bem português. Senti que era tratada de um modo diferente. Cheguei a ouvir ‘Esta criança timorense não sabe falar português’. Aí senti os traumas de infância, marcada pelo bullying e cheguei a pensar em desistir”, revela. Marvi, contudo, resistiu e, como prémio, sagrou-se campeã do The Voice Portugal.
O regresso a Timor e o início de uma carreira a solo
A vitória em Portugal, transmitida pela televisão e muito repercutida pela internet e redes sociais, marcou um ponto de viragem na vida da jovem, tornando-a conhecida internacionalmente. No regresso a Timor-Leste, foi recebida pela população de forma calorosa. A vendedora de espinafres agora era, definitivamente, um orgulho nacional.
Passou a fazer muitos espetáculos pelo país e também fora, além de ser bastante requisitada para publicidade. Onde quer que vá, ao ser reconhecida, tem de lidar com pedidos de autógrafos e de fotos – os quais atende sempre com atenção e bom humor.
Em 2022, lançou a sua primeira música, intitulada “Ilusão” – uma canção sobre o turbilhão de sentimentos que o amor desperta. Foi escrita por uma gestora da artista, quando Marvi lhe disse que gostava de alguém, que achava que esse sentimento era correspondido, mas não sabia se iria resultar, porque nenhum deles sabia “mostrar o que sentia”.
Entre os passos sólidos que tem dado no meio artístico e a experiência acumulada nos últimos anos, apesar da tenra idade, a jovem avalia o panorama musical em Timor-Leste. Ainda que haja uma evolução, Marvi acha que o Governo deveria investir mais nesta área, para a desenvolver e continuar a explorar o talento dos timorenses. “A música é como uma árvore que começou a crescer. Agora é necessário alimentá-la, para garantir que floresça”, diz, reforçando que Timor-Leste é um país com pessoas muito talentosas.
Considera também que é muito difícil ter acesso à formação na área da música, o que faz com que a maioria dos jovens não produza outros tipos musicais, acabando por ser influenciados pelo que já está a ser feito por outros artistas. “Por exemplo, quando alguém canta ou produz uma música romântica, se essa música tiver sucesso, todos vão produzir o mesmo tipo de música”, observa.
Quanto ao processo criativo, Marvi analisa que a vida de artista não é fácil, porque não compõe as músicas para si, mas para o público. “Qualquer coisa que apresento tem como objetivo o público. Muitas vezes, sinto que não me estou a representar a mim própria nem a fazer exatamente o que queria e isso deixa-me preocupada sempre que apresento algo em público”.
Entre a música e solidariedade
Em maio de 2019, a jovem assumiu a função de Embaixadora para as Crianças no Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, sigla em inglês), em Timor-Leste. Os responsáveis selecionaram-na por causa da sua história de vida. “Como conheciam a minha história, acharam que eu podia partilhá-la e ajudar a defender os direitos das crianças”, conta, com orgulho.
Marvi observa que há muitos problemas que as crianças enfrentam, sobretudo “o ambiente” em que vivem (ou sobrevivem). Entre abandonos, dificuldades na economia familiar, falta de controlo no percurso escolar, trabalho infantil, a jovem artista olha com desalento a vida de uma criança em Timor-Leste, 21 anos depois do estabelecimento de uma Constituição que prevê exatamente o contrário.
“Voltam (as crianças) da escola e continuam a vender ovos ou outros produtos na rua, mas isso deveria ser o trabalho dos pais, não das crianças! Espero que isso deixe de acontecer no futuro. O Governo deve criar condições básicas que salvaguardem os direitos das crianças. A prioridade deve ser a formação destas novas gerações. Não podemos esperar pelas gerações seguintes. A meu ver, a nossa realidade ainda é precária, as nossas leis ainda não são aplicadas na sua totalidade”, lamenta.
“Trabalhei na UNICEF durante dois anos. Não fui diretamente para o terreno trabalhar junto das crianças. Comecei por gravar alguns vídeos a promover e disseminar informações sobre os direitos das crianças. Foi uma experiência espetacular, mas eu queria contactar diretamente com elas, não à distância. Não foi possível durante o meu mandato por causa das restrições impostas, no tempo da pandemia”, detalha.
A jovem artista sonha, um dia, construir uma fundação com o seu nome – “Maria Vitória” – para dar oportunidade às crianças de poderem aprender artes e outras atividades. “Estou, neste momento, a juntar dinheiro e a pedir ajuda de patrocinadores para um dia conseguir proporcionar esta oportunidade a todas as crianças”, salienta.
Marvi não tem dúvidas de que a publicidade das empresas contribui para o desenvolvimento da sua carreira profissional. “É muito gratificante, porque confiam em mim para promover os seus produtos, não apenas por ser famosa, mas pela minha postura responsável. Além disso, fico muito contente por ver que não sou só eu a fazer publicidade e por haver outros artistas que se juntam a várias iniciativas”.
De uma menina que vendia espinafres a uma artista internacional, Maria Vitória, como o próprio nome indica, é o exemplo de que para vencer não se pode desistir, mesmo que, por vezes, tudo nos diga para voltar para a zona de conforto. Timor-Leste vai continuar a ouvir falar de Marvi, pela sua música, pelo seu bom coração e por servir de inspiração para tantos jovens que sonham ser artistas.
Os beneficios dos espinafres.
Parabens Marvi!
Katuas ida nee kontente los.
Que beleza de reportagem. Mesmo vivendo aqui desde 2013, na tinha ideia de que a trajetória da Maria Vitória tinha sido tão difícil. Viva Marvi!