Crédito Suave, com 3% de juros anuais, está suspenso

Medida tem deixado micro, pequenos e médios empresários preocupados. Diretor do Ministério do Comércio e Indústria diz que instituição avalia continuidade de empréstimo, que existia desde 2021.

O Crédito Suave – um empréstimo concedido a micro, pequenas e médias empresas (MPME) com juro baixo (3% por ano) – foi suspenso desde a tomada de posse do novo Governo, em junho passado. A situação tem preocupado os empreendedores, que contavam com os recursos para a manutenção ou desenvolvimento dos respetivos negócios.

Há duas semanas, a empresária Eufrozina Soares, 57 anos, dona da loja Mrentani, em Fatuhada, foi ao BNCTL solicitar esclarecimentos sobre como aceder à referida linha de crédito, sendo informada, sem pormenores , de que isso já não seria possível. “Só me deram o formulário para o Crédito de Negócio”, disse. Este crédito, com um juro anual 7,5%, é um programa do BNCTL.

A empresária disse que precisava do Crédito Suave para melhorar o seu estabelecimento, como tentativa de torná-lo mais atrativo no mercado cada vez mais competitivo. “As lojas chinesas estão cada vez mais presentes e são grandes, atraem muitos clientes, é difícil competir”, lamentou.

Por sua vez, Maria Lita Pinto, 33 anos, dona da loja Lytha Gallery (Tais Fashion) em Taibessi, afirmou que concorreu ao empréstimo há mais de um ano, tendo submetido o pedido no então Ministério do Ministério do Turismo, Comércio e Indústria (MTCI) – atual Ministério do Comércio e Indústria (MCI). Até hoje a empresária não obteve qualquer resposta.

“Ouvi falar do Crédito Suave quando frequentava uma formação do Instituto de Apoio de Desenvolvimento Empresarial, onde aprendi a elaborar um plano de negócios. Queria, com o empréstimo, ter mais condições de estruturar o meu empreendimento e aumentar as vendas”, partilhou. A jovem lamenta que o empréstimo tenha sido suspenso.

Impasse do Governo

Segundo o diretor nacional de Apoio e Desenvolvimento de Micro, Pequenas e Médias Indústrias, do MCI, Bernardino de Menezes, o Crédito Suave está pendente “por não haver ainda nenhuma decisão do Ministro do Comércio e Indústria relativamente à sua continuidade”.

A autoridade realçou a importância do referido empréstimo para as empresas, sobretudo as mais modestas . “Sendo um juro muito reduzido, os empresários conseguem pagar e, ao mesmo tempo, ter rendimento para desenvolverem o negócio. Há ainda um período, especificamente para os que investem, em que têm a possibilidade de não pagar juros durante os primeiros meses”, observou.

Já o Presidente do Conselho de Administração do Banco Nacional do Comércio de Timor-Leste (BNCTL), António Victor, acredita que a suspensão se deveu a questões relacionadas com a transição do VIII para o IX Governo.

“Com a mudança do Governo, é preciso ajustar a responsabilidade sobre o Crédito ao novo Ministério, neste caso, o Ministério do Comércio e Indústria”, argumentou o economista. Avançou que é preciso haver um novo fiador , organizado pelo Ministério, com a competência de assinar a certidão de garantia para os proponentes do Crédito.

Um dos critérios deste empréstimo é a declaração de garantia dos dois lados, do proponente e do Governo. A do proponente deve ser submetida com a proposta, declarando que possui 25% do capital financeiro solicitado . O documento de garantia do MCI, sobre os 75% do financiamento, é enviado ao BNCTL, para análise. Somente depois da aprovação das propostas pelo Banco, é que o proponente recebe uma autorização para obter o dinheiro.

Relativamente a esta questão, Bernardino Menezes, explicou que são muitos os fatores analisados, não apenas o plano de negócios. “Por exemplo, o património do candidato para assegurar os 25% do investimento, a viabilidade do mercado , o relatório financeiro para assegurar a devolução do capital, e muito mais”, esclareceu. Sublinhou ainda que alguns empresários que estão na lista de proponentes ainda não pagaram empréstimos a outros bancos.

De acordo com o MCI, desde a introdução do Crédito Suave em 2021 até maio deste ano, o MTCI recebeu 191 propostas, sendo 65 as que preenchiam os requisitos e 47 as que foram aprovadas pelo BNCTL.

Na opinião de António Victor, é necessária uma maior e rápida corrente de transação de capital para assegurar o crescimento económico do país. “Qualquer centavo que se inclua na corrente de circulação económica, pode contribuir para o crescimento da economia”, destacou.

O Diligente entrou em contacto com o responsável do MCI, Filipus Nino Pereira, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.