Conselheiro da Comunidade Portuguesa em Timor-Leste: “o 10 de junho é importante para reconhecer o papel e o contributo de muitos portugueses no estrangeiro”

Filipe Silva está em Timor-Leste há 24 anos /Foto: DR

Em conversa com o Diligente, Filipe Silva, há 24 anos em Timor-Leste, refletiu sobre as mudanças na nação, defendeu um maior investimento na promoção da língua de Camões e falou sobre o seu papel enquanto representante dos cidadãos portugueses no país.

No dia em que se celebra o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Diligente conversou com Filipe Silva, que desde janeiro deste ano é o Conselheiro da Comunidade Portuguesa em Timor-Leste. A sua função “permite a existência de uma ‘voz’ da comunidade junto da Embaixada de Portugal em Díli e das instituições do Estado timorense em Portugal”.

Os cadernos eleitorais indicam que há em Timor-Leste 1.300 portugueses e luso-timorenses recenseados.

Filipe Silva, que está no país desde 2000, tendo trabalhado como professor de língua portuguesa, testemunhou várias mudanças. Pretende contribuir para que a comunidade lusa tenha acesso a serviços e ao apoio necessários e defende um maior investimento na promoção da língua de Camões em Timor-Leste.

É licenciado em Humanidades (Universidade Católica Portuguesa), mestre em Administração e Gestão Educacional (Universidade Aberta) e atualmente é assessor no Ministério do Ensino Superior, Ciência e Cultura.

Em conversa com o Diligente, realçou a importância de um trabalho conjunto entre timorenses e portugueses, no sentido de contribuir para a prosperidade de Timor-Leste.

Está em Timor-Leste desde 2000. Como tem sido a sua experiência no país?

Sim, estou em Timor-Leste, desde setembro de 2000. A minha experiência em Timor-Leste, a nível pessoal e profissional, tem sido bastante positiva e enriquecedora.

Quais foram as maiores e mais importantes mudanças a que assistiu?

Desde que cheguei, Timor-Leste tem tido diversas mudanças. A primeira grande mudança foi o facto de ter chegado a um país que era governado pelas Nações Unidas e que, em 2002, restaurou a sua independência, tornando-se na mais jovem nação a nível mundial. Outro aspeto relevante e visível é o acesso por parte da população à eletricidade em casa, que era quase inexistente, quando cheguei ao país e hoje é de mais de 90%.

Posso, pois, dizer que tenho testemunhado o crescimento e a transformação do país a vários níveis, apesar de, como é normal, se verificarem ainda muitos desafios em áreas importantes como a saúde, a educação, justiça, etc..

Qual é a importância do cargo de conselheiro da comunidade portuguesa em Timor-Leste?

Penso que o cargo de Conselheiro da Comunidade Portuguesa é importante, pois permite a existência de uma “voz” da comunidade junto da Embaixada de Portugal em Díli e das instituições do Estado em Portugal.  O Conselheiro da Comunidade Portuguesa integra um conjunto de 90 pessoas que constituem o Conselho das Comunidades Portuguesas, que é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro. Assim, pela primeira vez, desde a existência deste Conselho, Timor-Leste tem um Conselheiro que tem como principal função representar os interesses dos portugueses em Timor-Leste.

Quais são os seus objetivos e planos enquanto conselheiro?

No âmbito desta minha função, tenho como objetivo contribuir para que a nossa comunidade tenha acesso a serviços e ao apoio necessários, pois estamos muito longe de Portugal. Também pretendo implementar atividades que possam contribuir para o fortalecimento da comunidade portuguesa em Timor-Leste. Neste aspeto, seria importante recuperar o projeto de funcionamento de uma associação portuguesa em Timor-Leste que pudesse ter um papel importante na promoção da cultura, língua e laços históricos entre Portugal e Timor-Leste.

O que significa para si e para a comunidade portuguesa a comemoração do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas?

A comemoração do 10 de junho tem um grande significado para a comunidade portuguesa, pois é a celebração da nossa cultura, história e identidade. Esta data também é importante para destacar e reconhecer o papel e o contributo de muitos portugueses no estrangeiro que, com o seu trabalho, têm ao longo de séculos dignificado o nome de Portugal além-fronteiras.

Quais são as atividades programadas para comemorar a data?

Este ano, uma vez que as celebrações oficiais promovidas pela Embaixada de Portugal ocorreram no dia 8 de junho em Liquiçá, iremos organizar hoje um Arraial da Comunidade Portuguesa que promova o convívio entre os membros da nossa comunidade.

Enquanto professor de Língua Portuguesa, como avalia a questão da língua no país?

Timor-Leste optou por duas línguas oficiais (Tétum e Português), sendo que ambas também estão definidas como línguas de instrução no sistema educativo. Apesar de existir uma evolução positiva da língua portuguesa no seio da população timorense, tal como refletem os resultados dos diversos censos que têm sido realizados, ainda há desafios significativos na disseminação e no aumento da proficiência desta língua entre os timorenses.

Que iniciativas, na sua opinião, devem ser realizadas para promover a língua no país?

Enquanto Conselheiro da Comunidade Portuguesa, gostaria que houvesse um reforço de investimento para a promoção da língua portuguesa em Timor-Leste em áreas importantes como educação, comunicação social e na administração pública em geral. No entanto, quem pode definir estas políticas são as autoridades timorenses e portuguesas. Uma coisa é certa, se queremos que a língua portuguesa seja efetivamente uma das línguas oficiais neste país é necessário que seja utilizada de forma generalizada no dia-a-dia na administração pública, nos meios de comunicação social, no comércio, etc.

Como descreve a comunidade portuguesa em Timor-Leste?

A comunidade portuguesa em Timor-Leste é diversificada e composta por profissionais de várias áreas, que trabalham nos setores público e privado timorenses, destacando-se a educação e a justiça. Ao contrário do que acontece noutros países, a comunidade aqui é bastante volátil, ou seja, temos muitas pessoas que vêm a Timor-Leste por períodos bastante curtos. Claro que temos aqui uma questão diferente de outros países que é o facto de haver muitos luso-timorenses que, muitas vezes, são vistos apenas como timorenses. É necessário, fortalecer a ligação com esses cidadãos para que se juntem à comunidade portuguesa de forma mais ativa.

Quais são as principais preocupações e necessidades dos portugueses no país?

Pelo que me foi possível apurar junto da comunidade, as principais preocupações dos portugueses em Timor-Leste têm a ver com a segurança, com o acesso a serviços de saúde de qualidade e as dificuldades burocráticas em criar negócios.

Como vê o papel da comunidade portuguesa na construção de um país mais próspero?

Penso que a comunidade portuguesa, até pelas relações históricas entre Portugal e Timor-Leste, pode ter um papel importante na construção de um Timor-Leste mais próspero. A transferência de conhecimentos, de competências e de valores e o trabalho em parceria com os timorenses serão, com toda a certeza, um contributo importante para o desenvolvimento educacional, económico e social do país.

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