Como Timor-Leste se adapta aos desafios do século XXI?

“A ecologia é extremamente importante para garantir o funcionamento da economia global”/Foto: Inteligência Artificial (Gencraft)

No século XXI, o desenvolvimento é muito rápido devido à presença da tecnologia. Analisemos a posição de Timor-Leste perante este desenvolvimento, a partir das ideias do historiador e escritor Yuval Noah Harari, que reflete sobre o mundo agora e no futuro. Harari acredita que o mundo vai enfrentar três situações: guerra nuclear, destruição tecnológica e crise ecológica.

Acho que há uma grande possibilidade de a guerra nuclear não acontecer, porque, mesmo com políticas muito diferentes, nações poderosas como a China, Estados Unidos da América e a Rússia têm trabalhado muito na diplomacia, de modo a evitar a guerra. Enquanto país pequeno com pouca influência no assunto, esperamos que a guerra nuclear não aconteça.

A segunda questão: destruição tecnológica. A tecnologia tem aspetos positivos e negativos. A tecnologia ajuda o desenvolvimento humano em várias vertentes, nomeadamente na comunicação, agricultura, indústria, entre outros. No entanto, as pessoas devem investir em si mesmas, renovando as suas habilidades para conseguir acompanhar o desenvolvimento tecnológico.

Como é que Timor-Leste acompanha a situação? Muitas vezes, é fácil falar sobre o assunto, mas é difícil de implementar, porque temos de resolver primeiro as nossas fragilidades no setor da educação. A tecnologia surgiu da educação. Foram feitas pesquisas em instituições educativas e inventou-se a tecnologia, com o intuito de facilitar o trabalho e a vida das pessoas.

Porém, agora a tecnologia avança rapidamente, pensemos nos exemplos do carro elétrico pela empresa Tesla, o Chat GPT da OpenAI, e outros serviços feitos por Inteligência Artificial (IA). Ao ler o livro “The Coming Wave” de Mustafa Suleyman, ficamos preocupados com a situação em Timor-Leste e em como nos podemos adaptar à vida liderada pela Inteligência Artificial.

Neste sentido, o Governo de Timor-Leste precisa de dar toda a atenção ao desenvolvimento das competências dos cidadãos para que se adaptem ao desenvolvimento tecnológico. O Executivo deve ter um plano de continuidade sólido no setor da educação para garantir a implementação de programas essenciais neste setor, ensinando aos professores a usar computadores, telefones, GPS e outras ferramentas tecnológicas que as pessoas precisem de conhecer de acordo com o contexto timorense.

O Governo precisa de melhorar o currículo escolar, desde a pré-escola até ao ensino superior. É necessário também recrutar pessoas com base nas suas capacidades e formação académica, passando para um Estado meritocrático, e não selecionar professores com base na filiação política.

Se isso não for feito, enfrentaremos muitos problemas quando nos tornarmos membros de pleno direito na ASEAN e na Organização Mundial do Comércio, pois muitas nações já usam tecnologias avançadas e nós não estamos familiarizados com essas tecnologias devido à falta de condições e recursos. Não conseguiremos empregos no nosso próprio país e em outras nações, porque as nossas aptidões não são relevantes para as tecnologias presentes.

Outras pessoas estão a usar tecnologias avançadas, e nós teremos problemas no processo de adaptação. Por exemplo, se as pessoas já estão a usar o Windows 11, ainda estamos a usar o Windows 7. Ao sermos membros destas organizações, não deve ser apenas em vão, devemos competir com as nações membros em termos de capacidades.

O terceiro ponto aborda a crise ecológica neste século. Acredito que todos em Timor-Leste estão a ser afetados, enfrentando situações difíceis como deslizamentos de terra, aumento do nível do mar e mudanças climáticas nos últimos anos.

Como é que a crise ecológica afeta a economia de Timor-Leste? A ecologia e a economia são como a moeda de 50 centavos, onde a ecologia é o café e a economia é o número e a letra de 50 centavos, estão interligadas. A ecologia é extremamente importante para garantir o funcionamento da economia global.

Portanto, a crise ecológica já afetou Timor-Leste e continuará a influenciar a vida social, cultural e económica do país. Gostaria de citar um exemplo concreto no setor de turismo, que foi afetado pelas mudanças climáticas. Turistas que vinham para Timor-Leste para observar baleias, que viajavam do Sul (Austrália) para o Mar de Sunda (Norte), passando por Díli e Ataúro, na parte norte do Mar de Timor.

No entanto, de acordo com informações da jornalista da ABC, Roxane Fitzerland, em uma entrevista com a bióloga marinha Karen Edyvane, que estudou baleias em Timor-Leste, as baleias migraram tarde em 2023 devido ao aquecimento global, que aumentou a temperatura do mar e reduziu a quantidade de alimento disponível na superfície do mar. Alguns turistas gastaram muito dinheiro para vir ver o animal, mas não conseguiram. A partir desta situação, podemos ver como o aquecimento global (crise ecológica) afeta o turismo em Timor-Leste.

Todos os cidadãos timorenses devem trabalhar juntos com o Governo e parceiros internacionais para proteger a ecologia do país, combatendo práticas prejudiciais como o desmatamento, pesca excessiva, incêndios florestais e poluição ambiental. Todos nós devemos ter consciência de que o setor de mineração e gás não é sustentável e um dia vai acabar, por isso, precisamos de investir em outros setores que podem contribuir para o tesouro do Estado.

Eu entendo que combater a crise ecológica exige uma ação coletiva de todas as nações, mas enquanto timorense, quero que todos se envolvam, que sejam cidadãos responsáveis na situação atual e no futuro. Todos os timorenses precisam de cuidar do ambiente, tanto terrestre como marítimo, porque se poderá tornar uma alternativa de receitas.

Para combater a destruição tecnológica e a crise ecológica, precisamos de dois pontos importantes: fortalecer a democracia e garantir a continuidade e a implementação dos programas essenciais do Governo, especialmente os planos estratégicos já estabelecidos, como o Plano Estratégico 2011-2030, que o governo anterior recentemente reviu.

A democracia não é apenas durante as eleições e a campanha, mas um compromisso diário. Como por exemplo, no local de trabalho, os diretores precisam de ouvir as ideias dos seus funcionários, aceitar críticas e melhorar para alcançar os objetivos. Isso aplica-se a todas as instituições timorenses.

Quanto ao trabalho contínuo, os Governos A e B devem continuar o trabalho um do outro. Por exemplo, se o Governo A construir uma estrada de Hera para Metinaro, o Governo B deve continuar de Metinaro para Manatuto e não desmontar e reconstruir. Se continuarmos a reconstruir e reparar a estrada no mesmo local, quando é que vamos fazer a obra até Baucau?

Este exemplo da estrada é uma metáfora. Os programas sem continuidade entre um Governo e outro que eu queria mencionar são os programas para erradicar a pobreza e reduzir a desnutrição e o de construção de casas para o povo. Esses projetos devem ser considerados como um trabalho contínuo.

Se as pessoas sofrem de fome e pobreza, sem força para cooperarem uns com os outros, como é que podemos lutar contra a Inteligência Artificial e a crise ecológica? O tempo está a passar e todos devemos unir nossas forças para lutar contra a pobreza e a ignorância.

 

Gabriel Amaral, timorense de 32 anos, é estudante de bacharelato em Gestão Ambiental na Lincoln University, na Nova Zelândia.

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  1. Em resumo precisa-se de um carro do tipo Tesla a energia solar, conduzido por robots com Inteligencia Artificial, ecologicamente embriagados e com visao de raios X.
    Neste momento e por mais uns anitos, so existe karreta kuda onde so e positivo o adubo (fertilizer). Os sinais de transito tem de incluir o sinal de perigo; “buracos na proximidade”

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