Para tentar entender um pouco melhor a realidade feminina no país, no âmbito do Dia Nacional da Mulher, celebrado a 3 de novembro, o Diligente saiu à rua para conversar com as cidadãs.
Em Timor-Leste, comemorou-se nesta sexta-feira (3/11) o Dia Nacional da Mulher, data que assinala a morte da heroína nacional Maria Tapó, que deu a vida na luta pela autodeterminação do país.
No ano da restauração da sua independência, em 2002, a nação timorense ratificou, pela primeira vez, a Convenção de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW). A Constituição da República Democrática de Timor-Leste também consagra, no artigo 16.º, o direito à igualdade: “Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres”.
No entanto, a desigualdade de género é uma realidade do país, como indicam os dados do Índice Global de Disparidade de Género de 2023, que coloca Timor-Leste na 95.ª posição entre 146 países. Na região da Ásia Oriental e Pacífico, só Vanuatu e o Vietname têm índices mais altos de desigualdade.
Os dados mais preocupantes são os relativos à participação económica e oportunidades, item em que o país surge no 120.º lugar, sendo a maioria dos países com menos oportunidades para as mulheres muçulmana. Embora a diferença de salários não seja significativa, a percentagem de legisladoras, quadros superiores, gestoras e trabalhadoras especializadas é crítica. Outra questão apontada pelo índice como negativa é a participação no mercado de trabalho. Segundo o Censo de 2022, 41% dos homens timorenses em idade laboral têm emprego. Já, entre as mulheres, a percentagem é de 39%.
O índice coloca ainda Timor-Leste no lugar 106.º no que toca ao parâmetro da saúde e sobrevivência e na 97.ª posição no critério da educação.
A melhor classificação timorense prende-se com a participação política, critério em que obtém o 60.º lugar na lista. Ainda assim, atualmente, dos 65 representantes do povo no Parlamento Nacional, apenas 20 (cerca de 31%) são mulheres. Para a presença feminina, contribui uma lei parlamentar, de 2004, que obriga os partidos a promover a participação das cidadãs, “especialmente nos órgãos de direção do partido”.
Este ano, pela primeira vez na história do país, o Parlamento escolheu como presidente uma mulher, Maria Fernanda Lay, do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT). No entanto, no IX Governo, entre os 47 nomes à frente de ministérios e secretarias de Estado, apenas sete são de mulheres. Em relação à gestão anterior, a participação feminina em cargos de chefia não mudou: mantém-se nos 15%.
“Devemos reconhecer que as mulheres timorenses podem exercer múltiplos papéis e que ninguém nos pode tirar o direito de tomar decisões”
“Tenho muito orgulho em mim e nas mulheres timorenses. Ser mulher timorense significa ser respeitadora, bondosa, cuidadosa e ter um grande coração, mas fico um pouco triste, porque a sociedade timorense menospreza os nossos valores.
No entanto, consigo ultrapassar a crueldade do sistema patriarcal e da cultura limitadora que a nossa sociedade nos impõe. As mulheres timorenses são muito corajosas, mesmo estando social e culturalmente limitadas, sobretudo no que diz respeito à participação na tomada de decisões pessoais e profissionais. Mesmo assim, continuam com a cabeça levantada a lutar pelos seus direitos. Devemos reconhecer que as mulheres timorenses podem exercer múltiplos papéis e que ninguém nos pode tirar o direito de tomar decisões.”
“Gostaria que todas as timorenses se munissem de conhecimentos e não tivessem medo de ir atrás dos seus sonhos, porque nós somos as donas desta terra sagrada”
“Ser mulher timorense nesta terra é um desafio, pois temos de ter muita coragem para dizer “não”, com letras maiúsculas. Temos de lutar, sobretudo, pelos nossos direitos, porque os nossos direitos e a liberdade estão garantidos na lei. Contudo, ser mulher em Timor-Leste não é fácil, porque a mulher e o homem ainda não têm as mesmas oportunidades e direitos na vida familiar, cultural, social, económica e política. Apesar das oportunidades que lhes são garantidas, a cultura e as normas sociais fazem com que a maioria delas obedeça às decisões dos maridos, pais, tios ou irmãos mais velhos.
A sociedade ainda não vê com bons olhos uma mulher independente. Pelo contrário, considera-a uma afronta, um desrespeito e desobediência ao marido ou aos mais velhos. Por outro lado, sinto-me orgulhosa por ter todos os direitos garantidos na lei. Ainda que a nossa cultura não permita que eu seja totalmente dona de mim, eu vou lutar a qualquer custo para defender a minha liberdade e a minha essência.
Gostaria que todas as timorenses se munissem de conhecimentos e não tivessem medo de ir atrás dos seus sonhos, porque nós somos as donas desta terra sagrada.”
“Para atingir a igualdade de género, a nossa única arma é o conhecimento”
“Vivemos num ambiente dominado por homens, tanto na família como na sociedade. Contudo, eu particularmente, não vejo isso como uma barreira, mas sim como um desafio, que precisa de ser ultrapassado através da educação e do conhecimento.
Em primeiro lugar, temos a zona de aprendizagem, que é uma zona de expansão, isto é, um começo de oportunidades e respeito. Temos de ter determinação e vontade de aprender até atingir um patamar de sucesso. Em segundo lugar, a zona de segurança, depois de termos conhecimento, estamos seguras, consequentemente promovemos um ambiente mais acolhedor, inclusivo e teremos mais oportunidades na vida profissional. A última zona é a de perigo, onde a mulher, por não ter conhecimento, acaba por se sujeitar a qualquer situação.
Estou consciente de que temos ainda um longo caminho a percorrer para atingir a igualdade de género, mas estou determinada em mudar o panorama nacional. Para atingir a igualdade de género, a nossa única arma é o conhecimento.”
“Decidi matricular-me no curso de Direito, porque quero defender as mulheres”
“Para mim, ser mulher é um privilégio, apesar de não ser fácil sê-lo em Timor-Leste, porque o sistema patriarcal está profundamente enraizado na nossa sociedade, ensinando os homens a serem superiores. Eles podem sair à noite, porque são fortes. Não fazem trabalhos domésticos, porque são ensinados que essa é a nossa tarefa. Nós somos consideradas inferiores, fracas, submissas e não podemos sair à noite, porque é perigoso. Devido a todos estes preconceitos, decidi matricular-me no curso de Direito, porque quero defender as mulheres, quero que todas conheçam e usufruam dos seus direitos.
A nossa constituição consagra, no artigo 16º, a igualdade de todos os cidadãos, ‘todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmo direitos e estão sujeitos aos mesmo deveres’.
O que me deixa mais triste é as próprias mulheres se considerarem fracas e vulneráveis, mas também não é culpa delas. Foram educadas assim. Por exemplo, na minha família, os meus irmãos podem sair à noite, eu não, porque sou mulher. Quando saio, tenho de pedir autorização aos meus pais, ao contrário dos meus irmãos, o que é muito injusto. Embora eu saiba que as intenções dos meus pais são boas, inconscientemente estão a limitar a minha liberdade e a agir com dois pesos e duas medidas.”
Os homens nao lhe dao o valor real porque as temem. Simplesmente!
Dado igual oportunidade na vida real, nao constituicoes, nem trinta e um de boca, ELAS, dao um bailinho aos homens.
Facam greve, nao lhes deem prazer sexual, nao lhes cozinhem, nao tomem conta da casa nem dos filhos.
ENOUGH IS ENOUGH!
Redacao
A mulher minha Mae
De Maria das Dores Boavida, 11 anos da escola portuguesa de Cailaco
A minha Mae e uma Mulher de substancia, ela e CEO no meu agregado familiar mas e paga como se fosse ajudante de cozinha.
Ela acorda com o cantar dos galos, prepara a nossa merenda, alinhava o jantar, varre a casa, conta os tostoes, tudo isso antes de apanhar o “bemo” para ir dar o corpo ao manifesto por mais 8 horas, onde recebe a irrisoria quantia de 100 dolares mensais. A minha Maezinha e uma ESCRAVA! E nao ha constituicoes por mais lindas ou tecnicas que sejam, com artigos, alineas, paragrafos, ou demais “palha pra burro”, que lhe possa fazer jus a tao grande tarefa e sacrificio. A minha Maezinha tambem e costureira, faz-nos a roupinha toda, ela compra pano que e mais barato, linha e, nas “horas vagas”, e uma grande modista.
A minha Maezinha tambem faz bordados, ponto cruz, crochet, desfiado e tricot, nas horas de later.
A minha Maezinha e tambem uma grande artista, ela pinta telas com tinta acrilica. Pinta paisagens de Timor, caes, gatos, louricos, cacatuas, kakoak, manolin e o kuda do meu pai.
O kuda do meu pai chama-se “burro”, tudo isso antes de pregar o olho.
A minha Maezinha tambem e mestra de cozinha. Ela faz feijoada, caldeirada, tukil, catupa, modo massin, sassoro, saboco, naan maran, naan dende, peixe grelhado (pescada com rabinho na boca e peixe agulha). Ela faz bolos de fazer crescer agua na boca, queques, bolo da Madeira, bolo de laranja, bolo de ananas e sabe enfeita-los com creme e acucar. Ela faz coirampo, coi bandeira e o coi ro do meu pai, tudo isso no fim de semana.
A minha Maezinha agora ate arranjou tempo para um passatempo; ela pinta as paredes da casa, faz cimento armado para tapar buracos da casa e sabe por tijolos no chao e ajulezos na parede, tudo isso nos dias feriados.
A minha Maezinha ainda tem tempo para aturar o meu pai quando ele vem para casa a dancar depois de beber umas tuacas e tua manas com os amigos, de segunda a sexta feira.
A minha Maezinha tem um palmares maior que qualquer PM ou PR. Ela nao mente, nao vende banha de cobra, branco e branco, preto e preto, nao da baldas! A minha Maezinha nao tem religiao, ela nao acredita em santinhos, budas, alas, maromak ou extraterrestes.
Quando crescer quero ser igualzinha a minha Maezinha, mas vou primeiro estudar para vir a ser a primeira mulher presidente de Timor Leste.