Como é que os cidadãos analisam a situação do lixo em Díli?

Autoridade Municipal de Díli informou que vai começar a instalar 345 novos contentores de lixo pela cidade no próximo mês/Foto: Diligente

Na tentativa de saber como a população está a encarar a situação do lixo espalhado pelas vias públicas, o Diligente saiu à rua.

O lixo espalhado pelos locais públicos é, em Timor-Leste, um problema antigo, sobretudo na capital, Díli, onde o sistema de coleta é insuficiente para a limpeza dos espaços.

No período das chuvas, a questão agrava-se: os resíduos deixados nas ruas e passeios, além do mau cheiro, de atrair insetos, ratazanas e de entupir canais de escoamento, acumulam água parada, contribuindo para a reprodução do mosquito aedes aegypti – o transmissor de doenças como a dengue e os vírus chikungunya e zika.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde na quarta-feira (24.01) revelaram que, desde o início do ano, o país regista 88 casos de dengue, 183 de chikungunya e sete de zika.

Para tentar atenuar a poluição, a Autoridade Municipal de Díli (AMD) informou que, a partir do próximo mês, 345 novos contentores de lixo começarão a ser instalados em diferentes pontos da capital.

Contudo, há quem considere que a medida, sem uma campanha de consciencialização ou incentivo à educação cívica desde os primeiros anos escolares, é ineficaz para resolver o problema.

Na tentativa de saber como a população encara a situação do lixo espalhado pelas vias públicas, o Diligente saiu à rua.

“Se a população continuar a deitar lixo no chão, é preciso criar uma lei para penalizar as pessoas através da aplicação de uma coima, por exemplo”

Domingos Manuel, 57 anos, vendedor de cupões da lotaria, vive em Becora/Foto: Diligente

“A questão do lixo em Díli é problemática, porque a maioria da população não coloca o lixo no lugar certo. Temos caixotes e contentores do lixo, mas o problema está nas pessoas. Uma vez, chamei à atenção de um jovem que estava a colocar o lixo no chão e ele respondeu que temos funcionários de limpeza para apanhar. Depois de ouvir isto, fiquei sem palavras, e continuei a trabalhar.

Vendo cupões de lotaria e os que não são usados, levo para casa e coloco no lixo. Quando vejo lixo acumulado nas valetas à frente da minha casa, fico muito chateado.  Como está mesmo ali, tenho de limpar, mas quando volto do trabalho, as valetas estão cheias de lixo novamente.

Tenho a certeza que todas as pessoas estão conscientes dos malefícios do lixo: atraem mosquitos, provocam doenças como a dengue e zika, mau cheiro, inundações.

Para resolver esta questão, as autoridades competentes devem instalar caixotes do lixo em todo o lado. Se a população continuar a deitar lixo no chão, é preciso criar uma lei para penalizar as pessoas através da aplicação de uma coima, por exemplo.  Assim, poderemos garantir que Díli será uma capital limpa e confortável para todos”.

“Para combater o lixo no país, precisamos de reforçar a educação cívica desde os primeiros anos na escola, no sentido de consciencializar as pessoas para a importância em preservar o meio ambiente”

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Moisés Soares Maia, 25 anos, estudante e vendedor de pulsa, morador em Colmera/Foto: Diligente

“O lixo está a acumular-se em todos os lugares de Díli. Os jardins, como o Largo de Lecidere e à frente do Palácio do Governo, estão bem construídos, mas não são confortáveis para os visitantes, porque estão cheios de lixo. Hoje passei à frente da Casa Europa e vi garrafas de água, plástico, cascas de coco e outros resíduos amontoados nos vasos de flores. Fico triste com esta situação, mesmo à frente do Palácio, onde há muita movimentação, mas não há caixotes de lixo.

Costumo deitar o lixo no seu lugar, por exemplo quando abro um maço de cigarros, quando não há sítios apropriados, guardo no bolso. Vendo pulsa e faço o percurso desde o Palácio do Governo até ao Largo de Lecidere e, todos os dias, vejo estudantes, que mesmo estando perto de contentores, continuam a deitar lixo no chão. Tenho medo de os chamar à atenção, porque, por vezes, as pessoas são conflituosas e podem interpretar-me mal.

Observo que as garrafas de água e o plástico representam uma grande percentagem do lixo. O Governo anterior implementou uma política de zero plástico, mas nada mudou.

Além disso, muitos contentores do lixo estão estragados ou são insuficientes. Para combater o lixo no país, precisamos de reforçar a educação cívica desde os primeiros anos de escola, no sentido de consciencializar as pessoas para a importância de preservar o meio ambiente”.

“Quando ando de mota, muitas vezes vejo que as pessoas que vão nos carros atiram o lixo para a rua. Também já assisti a algumas instituições do Governo que realizam cerimónias e no fim deixam o lixo todo espalhado”

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Delfina Verdial, 22 anos, funcionária na empresa Nelces/Foto: Diligente

“Tenho consciência e amo o meu país, por isso deito o lixo nos devidos lugares para não prejudicar o ambiente. Quando colocamos o lixo no chão, estamos a contribuir para o aparecimento de doenças e os alagamentos – e depois quando isso acontece culpabilizamos o Governo. Na verdade, isto acontece devido à nossa irresponsabilidade.

Quando ando de mota, muitas vezes vejo que as pessoas que vão nos carros atiram o lixo para a rua. Também já assisti a algumas instituições do Governo que realizam cerimónias e no fim deixam o lixo todo espalhado. É uma situação muito triste e sinto vontade de chamar à atenção, mas não quero ter problemas.

Também acontece o contentor ainda não estar cheio e as pessoas colocarem o lixo num espaço a céu aberto. É difícil mudar este comportamento, porque os timorenses são teimosos. Só vão perceber quando sofrerem as consequências dos seus atos”.

“Estou aqui sentada a vender e, muitas vezes, vejo crianças e adultos a deitarem lixo no chão, sem se importarem em como essa atitude vai afetar a vida das outras pessoas”

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Maria da Silva, 63 anos, vendedora, habitante em Caicoli/Foto: Diligente

“Todos os dias, vejo muito lixo na capital. Penso que este problema se deve à falta de colaboração dos cidadãos. Costumo ter sempre uma caixa ao meu lado para colocar o lixo. Cada um deve ser responsável pelos resíduos que produz, caso contrário estaremos a prejudicar o ambiente e a imagem do país.

Estou aqui sentada a vender e, muitas vezes, vejo crianças e adultos a deitarem lixo no chão, sem se importarem com as repercussões dessa atitude para a vida das outras pessoas. Na época das chuvas, somos sempre vítimas de inundações e isto acontece porque as valetas estão cheias de lixo e bloqueiam a passagem da água.

Devemos apostar mais na consciencialização através de campanhas e educação cívica nas escolas, de modo a cultivar bons hábitos. Para além disso, o Governo precisa de aumentar o número e o tamanho dos contentores para evitar que o lixo se espalhe”.

“Todas as pessoas devem ser ativas no combate ao lixo, cada um deve ser responsável por manter o seu bairro limpo”

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Melquiano Fuca, 22 anos, estudante da UNTL/Foto: Diligente

“As pessoas não têm o hábito de colocar o lixo no seu lugar. A capital do país regista diariamente um grande volume de lixo, sobretudo à frente do Palácio do Governo, nos centros comerciais, nas escolas, estradas, valetas, deixando a cidade muito suja.

Temos contentores de lixo em todos os bairros, mas como as pessoas ainda não têm consciência, não usam estas estruturas. Assim, os resíduos ficam em qualquer lugar, o que provoca cheias quando chove. A água transporta os resíduos até ao mar, acabando também por estragar a nossa biodiversidade. Precisamos de mudar estes hábitos.

Por um lado, todas as pessoas devem ser ativas no combate ao lixo, cada um deve ser responsável por manter o seu bairro limpo. Todas as famílias devem ter caixotes do lixo em casa para ensinarem as crianças a colocar os resíduos nos sítios adequados.

Por outro lado, o Governo precisa de aumentar o número de contentores na capital e desenvolver as campanhas de combate a este flagelo. Se as condições estiverem criadas e a população não cumprir, devem ser criadas leis que obriguem os cidadãos a pagar multas”.

Ver os comentários para o artigo

  1. Díli, uma baía espetacular,um cenário maravilhoso…um encanto que se desfaz quando passeamos pelas praias,pelas ruas…
    Pensando bem o problema é multifacetado: em Lisboa,há quase 50 anos, no verão de 74, em plena revolução dos cravos, deflagrou uma epidemia de cólera que fez 41 mortos..
    Causas: Lisboa tinha e teve até aos anos 90 bairros de lata, sem saneamento básico( água e esgotos) ..Tal.como.em Díli o nosso problema ia muito para além da recolha de lixo…da educação,etc…Sendo também fundamental, a educação ambiental e cívica, só resulta acompanhada de condições de habitação e equipamentos públicos mais eficazes…
    Hoje a situação em Lisboa e Portugal evoluiu bastante, mas foi graças à conjugação de educação e melhorias reais das condições de vida que ajudaram..
    Muito muito trabalho de coordenação pela frente..

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