Circulação do Tum Tum em Díli divide opiniões

Motorista de Tum Tum no trajeto Tasi Tolu-Tibar: trabalho pode render até 20 dólares por dia/Foto: Diligente

A Direção Nacional de Transportes Terrestres (DNTT) proíbe o funcionamento do meio de transporte na capital, mas os condutores, em Tasi Tolu, não desistem.

O transporte público é essencial na vida da sociedade por ajudar a população a se deslocar. Em Timor-Leste, o serviço é feito através de autocarros, angunas, microletes e táxis. Em meados de julho, surgiu em Díli o Tum Tum, uma espécie de mota com três rodas, assentos e teto, capaz de levar até quatro pessoas simultaneamente – por um preço mínimo de 25 centavos.

Novidade na capital, o veículo, contudo, já é bastante utilizado em Manatuto, Lospalos, Liquiçá e outros municípios. Apesar de o Governo proibir o Tum Tum em Díli, sob alegação de que sua circulação pode deixar o trânsito ainda mais lento, os condutores persistem no negócio, concentrando-se em áreas periféricas.

Na esperança de que o meio de transporte possa vir a ser regulamentado, sobretudo após o Ministério dos Transportes e Telecomunicações ter informado na semana passada que estuda essa possibilidade, os motoristas seguem firmes.

No entanto, a DNTT já alertou muitas vezes que o Tum Tum não pode operar em Díli, pelos riscos de causar mais transtornos num trânsito já muito problemático.

Em face desse impasse, a equipa do Diligente foi a Tasi Tolu, área em que o Tum Tum tem circulado com regularidade desde o último mês, para ouvir o que os cidadãos pensam sobre o seu funcionamento.

“O Tum Tum é um transporte seguro para as pessoas, porque os condutores andam bastante devagar

José dos Santos, 23 anos, estudante da UNTL/Foto: Diligente

“O Tum Tum é um transporte acessível e viável para circular, tanto na vila como na cidade. Quando falamos sobre transportes públicos, temos de analisar os benefícios que possam trazer para todas as pessoas, principalmente para aquelas que não têm veículos particulares.

Contudo, o público está preocupado com a possibilidade da circulação do Tum Tum na capital poder causar engarrafamentos graves. Na realidade, em Díli, as coisas já são complicadas. As ruas e passeios são muitas vezes utilizadas para o comércio.

Além disso, os estacionamentos, quer dos transportes públicos quer dos privados, são desorganizados, o que faz com que o trânsito na capital seja caótico. É essencial consciencializar as pessoas para respeitarem o código da estrada em vez de proibir e limitar a circulação de outros transportes públicos.

O Tum Tum é um transporte seguro para as pessoas, porque os condutores andam bastante devagar. Com limite de velocidade, podem ser prevenidos acidentes. Por isso, considero que este transporte é seguro e confortável para os passageiros na capital”.

“O Tum Tum pode circular na capital, mas o Governo precisa de identificar claramente os trajetos para estes veículos circularem, porque em Díli já temos muitas microletes e táxis”

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Natalina da Costa Jerónimo, 23 anos, estudante da UNTL, vive em Manleu, Díli/Foto: Diligente

“O Tum Tum pode circular na capital, mas o Governo precisa de identificar claramente os trajetos para estes veículos circularem, porque em Díli já temos muitas microletes e táxis.

Por exemplo, em Tasi Tolu, as microletes deixam os passageiros nas estradas e alguns moram perto da montanha ou junto da estátua de João Paulo II. Por volta do meio-dia custa muito andar a pé. O Tum Tum pode ajudar bastante nessas ligações, que não são asseguradas pelas microletes.

Precisamos de nos organizar para evitar problemas entre os condutores e garantir a sobrevivência económica de todos os transportes públicos que circulam na cidade.

O Tum Tum é um transporte aberto e possui uma capacidade para transportar cerca de três ou quatro pessoas acompanhadas dos seus bens e pode representar uma alternativa a outros meios de transporte, caso estes não funcionem bem. Tudo dependerá de uma boa regulamentação para garantir uma coexistência pacífica. Já experimentei viajar num Tum Tum e senti-me muito segura e confortável comparando com as microletes e táxis, que são fechados”.

“Se permitirmos a circulação do Tum Tum na capital, então não imagino como vai ser com o trânsito da nossa cidade. Estou convencida que vai piorar

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Sidónia Guterres, 24 anos, estudante da UNTL/Foto: Diligente

“Considero que o número de transportes públicos na capital já corresponde às necessidades da população. Temos as microletes de direção 01 a 013 e os táxis amarelos e azuis. Se permitirmos a circulação do Tum Tum na capital, então não imagino como vai ser com o trânsito da nossa cidade. Estou convencida de que vai piorar.

O Tum Tum não serve os interesses da população de Díli e não é necessário. Queremos que esta seja uma cidade organizada e ordenada. É melhor o Governo manter a decisão que limita a operação comercial do Tum Tum aos municípios, pois ainda não existem lá transportes públicos suficientes”.

“Antes, atrasava-me sempre, quando ia para a escola em Colmera, já que as microletes apareciam cheias de passageiros, mas agora não. O Tum Tum tem ajudado muito”

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Mário dos Santos, 26 anos, em Tibar/Foto: Diligente

“Em Díli, muitas vezes de manhã e à tarde, o acesso às microletes é muito difícil por estarem sobrelotadas. Considero que o Tum Tum é um veículo alternativo para todas as pessoas que viajam em transportes públicos. O Tum Tum, neste momento, está apenas a transportar os passageiros de Tasi Tolu para Tíbar. Como habitante de Tíbar, sinto a vantagem deste transporte, que já me resolveu muitos problemas. Antes, atrasava-me sempre quando ia para a escola em Colmera, já que as microletes apareciam cheias de passageiros, mas agora não. O Tum Tum tem ajudado muito.
Para o futuro, é preciso o Governo apoiar os condutores deste transporte alternativo através de definição de trajetos para que não se crie confusão com os outros transportes públicos. Também não podemos proibir o Tum Tum por este negócio ser uma oportunidade de trabalho, garantindo o sustento de muitas famílias”.

“Alguns condutores já têm família e outros ainda são estudantes que, desta forma, podem pagar os seus próprios estudos, conquistando a sua autonomia

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Marçal de Jesus, 34 anos, motorista de Tum Tum em Díli/Foto: Diligente

“A iniciativa deste negócio surgiu por duas razões principais. A primeira foi para dar resposta a uma necessidade que observámos. De facto, percebemos que alguns condutores de microlete, de Ermera e Liquiçá, se recusavam a transportar passageiros de Tíbar, porque iam ganhar menos dinheiro. A segunda razão que nos levou a avançar com este negócio foi porque o Governo anterior, que tinha prometido criar emprego no Porto de Tíbar, na realidade não cumpriu as promessas e os jovens de Tíbar não têm acesso a emprego neste local.

Foram estas as principais razões para esta iniciativa. Assim, ajudamos a comunidade de Tíbar, sobretudo os estudantes, que muitas vezes têm dificuldades no acesso ao transporte público. Avançámos com este projeto por a necessidade nos obrigar. Alguns condutores já têm família e outros ainda são estudantes que, desta forma, podem pagar os próprios estudos, conquistando autonomia.

A tarifa depende de distância. Por exemplo, de Tasi Tolu à Rotunda e porto de Tíbar são apenas 50 centavos aplicados a todas as pessoas. Num dia de trabalho, podemos ganhar até 20 dólares e estamos muito satisfeitos com esta oportunidade.

Desde que a atividade começou, a DNTT tem proibido a circulação em Díli, mas não cumprimos, porque não estamos a contrariar nenhuma regra de trânsito visto. Só temos atuado no percurso de Tíbar a Tasi Tolu.

O Governo não pode proibir a circulação do Tum Tum, porque autorizou a entrada deste tipo transporte em Timor-Leste. Então, se nos foi dada a possibilidade de comprar estes veículos, é para procurar fazer dinheiro. Comprar para só estacionar em casa não faz sentido”.

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