Lixo, más condições das valetas ou falta delas e água parada intensificam a proliferação do mosquito Aedes aegypti, causador das doenças. AMD diz fazer a limpeza da cidade e Governo aposta em iniciativa com ONG da China para diminuir incidência das enfermidades. Casos já somam quase três centenas.
Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde na quarta-feira (24.01) mostram que, apesar do primeiro mês do ano ainda não ter chegado ao fim, Timor-Leste já regista 88 casos de dengue, 183 de chikungunya e sete de zika – doenças que são causadas pelo Aedes aegypti, mosquito que se reproduz em água parada.
Em Díli, moradores até demonstram ter conhecimento sobre as referidas enfermidades e métodos de prevenção, mas queixam-se da ineficiência do poder público em relação à limpeza e infraestrutura da cidade, já que o lixo espalhado pelas ruas e passeios acumulam o que vem da chuva, transformando-se em criadouros do vetor. A falta de escoamento também é apontada como problema.
A dona de casa Célia Brites do Rego, que vive no bairro Marconi, em Fatuhada, relata que quando chove, a água fica estagnada em diferentes pontos da rua durante alguns dias até secar. A inexistência de um sistema de drenagem adequado põe em risco a população que lá vive, “pois já encontramos larvas de mosquitos”.
Mãe de uma filha, Célia Rego, diz que mantém a casa limpa e não deixa água parada em nenhum canto. No entanto, quanto à estrada sem valetas à frente da sua casa, não consegue encontrar uma solução. “A minha filha já teve duas vezes dengue e sempre na época da chuva. A última vez durou uns dias, mas não foi muito grave. O atendimento médico era muito demorado. O que eu fiz foi cuidar da alimentação dela e mantê-la em repouso, e felizmente ela melhorou”, contou.
Além da falta de valetas no interior dos bairros, o escoamento das ruas nos arredores também apresenta problemas. Ainda em Marconi, um morador construiu uma ponte para sua casa, tapando uma valeta e deixando pouco espaço para a água passar por baixo. Com as pessoas a deitarem lixo em todo o lado e com a chuva, a condição da vala piorou.
Está previsto para este ano um plano de drenagem no bairro Marconi, com uma previsão de 25 mil dólares para as intervenções, conforme documento do Orçamento Geral do Estado de 2024.
Já a funcionária do Ministério da Agricultura, Pescas, Pecuária e Floresta, Úrsula Cardoso Martins, disse que toma sempre precauções contra a dengue e outras doenças transmissíveis por mosquitos. Quando escurece, a família fecha a porta de casa e aplica um produto para matar os insetos que porventura estiverem no interior.
“Também não deixamos lixo espalhado à volta da habitação para não acumular água e deitamos fora qualquer líquido que esteja nos vasos, para que os mosquitos não se reproduzam”, detalhou.
As medidas tomadas por Úrsula Martins também fazem parte do dia a dia de Micela Hau, estudante de Gestão Económica do Díli Institute of Technology (DIT). A viver no suco de Audian, perto de grandes valetas à beira da estrada, a jovem de 18 anos lamenta a falta de limpeza do espaço.
“Não manter a cidade limpa é sinónimo de deixar a doença reinar. A população não tem a iniciativa de limpar, pelo contrário, suja. A política de zero plástico não está a ser cumprida, tal como outras regras estabelecidas sobre higiene pública”, sublinhou. Acrescentou que se a quantidade de lixo diminuísse, baixariam também os números de casos de dengue e outras doenças.
Micela Hau e a família tentam sempre limpar o ambiente em que vivem, incluindo, às vezes, as valetas perto das residências. “Mesmo assim, sabemos que ainda existem muitos mosquitos, então aplicamos sempre repelente às crianças e mantemos uma alimentação saudável e equilibrada para poder ter mais resistência contra as doenças”, partilhou a universitária.
Perante esta questão, o diretor de Água, Saneamento e Ambiente da Autoridade Municipal de Díli (AMD), Hermínio Moniz, argumentou que os funcionários do órgão recolhem o lixo, mas os cidadãos não o colocam nos contentores. Reconheceu, no entanto, a insuficiência de recipientes do tipo na capital e informou que, a partir do próximo mês, 345 contentores de lixo começarão a ser instalados em Díli.
“A população deve ter consciência para não deitar o lixo em qualquer lado. Quando chove, os resíduos acumulam-se nas valetas e não permitem a passagem da água, tornando-se num local favorável à reprodução de mosquitos”, salientou Hermínio Moniz.
Quanto à sanção para quem deitar lixo fora do lugar, o diretor disse que a lei permite a aplicação de coima entre 100 a 500 dólares para as pessoas que a infringem. No entanto, admitiu dificuldades na fiscalização.
Relativamente à recolha dos resíduos, Hermínio Moniz disse que o lixo doméstico pode também ser levado aos pontos de recolha, mas o das empresas deve ser transportado até ao aterro sanitário de Tibar pelas próprias companhias. Quanto à limpeza das valetas, o diretor assegurou que equipas da AMD a fazem, mesmo que não regularmente e sem ter a certeza de que o trabalho é da competência do órgão.
Por outro lado, as pessoas que vivem na colina da montanha testemunham outros desafios. Epifânia Fernandes, 28 anos, moradora em Lahane, relatou que a região ainda não recebeu a visita de equipas do Ministério da Saúde. No ano passado, segundo Epifânia Fernandes, funcionários da instituição foram a Lahane e distribuíram cloro (substância que mata as larvas dos mosquitos) à população.
A dengue e os vírus chikungunya e zika têm sintomas iniciais parecidos, envolvendo febre, dores de cabeça, musculares e nas articulações. Se aparecerem qualquer um deles, é preciso procurar ajuda médica, para evitar um agravamento do quadro, que pode trazer sérias complicações. A melhor forma de combater as doenças é evitando que o Aedes aegypti se reproduza. Por isso, é necessário manter a limpeza do espaço em que se vive e evitar o acúmulo de água parada.
Na terça-feira (23.01), o Governo, em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) chinesa GX Foundation, lançou uma iniciativa para combater a dengue em Timor-Leste, com uma duração prevista de nove meses.
A ONG disponibilizou dez toneladas de equipamentos e suplementos, que incluem 50 mil reagentes, 500 redes mosquiteiras, 2.600 lâmpadas anti-mosquitos e 30 mil mata-moscas, que devem ser distribuídos pelas 360 instalações médicas no país.
O Diligente entrou em contato com o Ministério da Saúde, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.